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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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CRÍTICA

Fotos evidenciam as mudanças da revista

FERNANDO MARQUES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A presença do teatro de revista nos hábitos culturais brasileiros, de fins do século 19 aos anos 50, pode ser comparada à das telenovelas atuais sob certos aspectos: a revista era diversão popular, dotada de convenções mais ou menos estáveis e destinada a encher os olhos e a desafogar o fígado dos espectadores.
O teatro de revista influenciou o cinema, com as chanchadas da Atlântida, emprestou a graça das vedetes a programas humorísticos da televisão e guarda elementos em comum com os desfiles das escolas de samba.
O pesquisador Delson Antunes reconta a história do gênero em "Fora do Sério - Um Panorama do Teatro de Revista no Brasil", livro publicado pela Funarte. O volume exibe 500 fotos que ampliam as informações contidas no texto escrito por Antunes.
A primeira tentativa de recriar, aqui, os espetáculos cômico-musicais que faziam sucesso na Europa chamou-se "As Surpresas do Senhor José da Piedade", peça de Figueiredo Novaes de 1859. Mas a revista só iria conquistar o público nas duas últimas décadas do século 19, graças ao empenho de autores como Artur Azevedo.
As três formas básicas do gênero são a revista de ano, a revista carnavalesca e a revista feérica. As revistas de ano criticavam, apoiadas em enredos tênues, os principais acontecimentos do ano recém-terminado. As revistas carnavalescas davam destaque aos maxixes, sambas e marchas, divulgando as músicas em tempos pré-rádio. As revistas feéricas, privilegiando o luxo dos figurinos e cenários, prendiam o espectador pelos olhos. O custo desses espetáculos apressou a morte do gênero.
Antunes narra, em texto claro, as mudanças pelas quais a revista passou no país, sem se ater demais à ordem cronológica, o que dá interesse ao relato. O pano de fundo político ajuda a entender o sucesso e o eventual malogro das montagens. O texto se ressente, porém, de revisão apressada: há erros tipográficos, que podem ser corrigidos em nova edição.
As fotos fazem a diferença. As mulheres despem-se alegremente, em tempos em que as saias caíam sempre abaixo dos joelhos. Aracy Cortes, Lódia Silva, Dercy Gonçalves lá estão, em centenas de imagens, ao lado de atores caracterizados, cenas de conjunto monumentais, programas e cartazes. "Fora do Sério" é obra de referência, feita para permanecer. Em segunda edição, se possível.


Fernando Marques é jornalista e doutorando em literatura brasileira na Universidade de Brasília.

Fora do Sério - Um Panorama do Teatro de Revista no Brasil    
Autor: Delson Antunes
Editora: Funarte
Quanto: R$ 40 (432 págs.)



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