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CRÍTICA
Fotos evidenciam as mudanças da revista
FERNANDO MARQUES
ESPECIAL PARA A FOLHA
A presença do teatro de revista nos hábitos culturais
brasileiros, de fins do século 19
aos anos 50, pode ser comparada
à das telenovelas atuais sob certos
aspectos: a revista era diversão
popular, dotada de convenções
mais ou menos estáveis e destinada a encher os olhos e a desafogar
o fígado dos espectadores.
O teatro de revista influenciou o
cinema, com as chanchadas da
Atlântida, emprestou a graça das
vedetes a programas humorísticos da televisão e guarda elementos em comum com os desfiles
das escolas de samba.
O pesquisador Delson Antunes
reconta a história do gênero em
"Fora do Sério - Um Panorama do
Teatro de Revista no Brasil", livro
publicado pela Funarte. O volume
exibe 500 fotos que ampliam as
informações contidas no texto escrito por Antunes.
A primeira tentativa de recriar,
aqui, os espetáculos cômico-musicais que faziam sucesso na Europa chamou-se "As Surpresas do
Senhor José da Piedade", peça de
Figueiredo Novaes de 1859. Mas a
revista só iria conquistar o público nas duas últimas décadas do
século 19, graças ao empenho de
autores como Artur Azevedo.
As três formas básicas do gênero são a revista de ano, a revista
carnavalesca e a revista feérica. As
revistas de ano criticavam, apoiadas em enredos tênues, os principais acontecimentos do ano recém-terminado. As revistas carnavalescas davam destaque aos
maxixes, sambas e marchas, divulgando as músicas em tempos
pré-rádio. As revistas feéricas,
privilegiando o luxo dos figurinos
e cenários, prendiam o espectador pelos olhos. O custo desses espetáculos apressou a morte do gênero.
Antunes narra, em texto claro,
as mudanças pelas quais a revista
passou no país, sem se ater demais à ordem cronológica, o que
dá interesse ao relato. O pano de
fundo político ajuda a entender o
sucesso e o eventual malogro das
montagens. O texto se ressente,
porém, de revisão apressada: há
erros tipográficos, que podem ser
corrigidos em nova edição.
As fotos fazem a diferença. As
mulheres despem-se alegremente, em tempos em que as saias
caíam sempre abaixo dos joelhos.
Aracy Cortes, Lódia Silva, Dercy
Gonçalves lá estão, em centenas
de imagens, ao lado de atores caracterizados, cenas de conjunto
monumentais, programas e cartazes. "Fora do Sério" é obra de
referência, feita para permanecer.
Em segunda edição, se possível.
Fernando Marques é jornalista e doutorando em literatura brasileira na Universidade de Brasília.
Fora do Sério - Um Panorama do
Teatro de Revista no Brasil
Autor: Delson Antunes
Editora: Funarte
Quanto: R$ 40 (432 págs.)
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