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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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OUTRA FREQUÊNCIA

BBC e a mina de ouro brasileira

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Tudo começou há quase 65 anos, no dia 14 de março de 1938, com as seguintes palavras: "... O senhor Hitler entrou hoje à noite em Viena, no meio de um entusiasmo formidável. De pé, no seu carro aberto, respondeu repetidamente com saudações nazi às aclamações da multidão".
A notícia marcou a primeira transmissão da inglesa BBC ao Brasil. E foi com a cobertura da Segunda Guerra, transmitida em português por ondas curtas, que a rádio passou a ser conhecida pelos brasileiros. Mas aí veio o estouro da FM, a indústria parou de fabricar aparelhos com OCs (ondas curtas) e a audiência da BBC no país praticamente morreu.
No início dos anos 90, seu serviço em português quase foi extinto. Só sobreviveu em razão de parcerias feitas com AMs e, principalmente, FMs, para a retransmissão do noticiário de Londres.
Mas a situação mudou. Com a crise da mídia brasileira, quase não há estação que consiga manter correspondentes no exterior. Nesse contexto, a BBC ampliou seu espaço no dial e hoje tem contrato com mais de 40 emissoras. Em SP, está com a Eldorado há quatro anos e recentemente fechou acordo com a CBN. No Rio, sua programação será levada ao ar a partir de março pela JB FM.
Depois de beirar a extinção, o serviço em português hoje está entre as prioridades de empresa. Das 43 línguas estrangeiras contempladas pela BBC, ocupa o quinto lugar em investimentos, só perdendo para o árabe, espanhol, russo e chinês. Na semana passada, foi anunciado aumento de cerca de 15% no orçamento anual da equipe de 35 brasileiros, que passa para US$ 3 milhões.
Américo Martins, 34, diretor da BBC Brasil, acaba de deixar São Paulo, onde selecionou mais quatro profissionais para ampliar seu quadro. Está também desenvolvendo um projeto ambicioso para comemorar a primeira transmissão: ampliar o noticiário, atualmente com quatro horas e meia diárias de duração, para doze horas, e encontrar uma FM disposta a ceder seu horário nobre à íntegra da programação londrina.
Segundo ele, já há candidatas. "A idéia é deixar buracos para notícias e anunciantes locais." Além dos programas jornalísticos, também estão sendo criados musicais para completar a programação de 12 horas.
Se vier o ataque dos EUA, aumentam as chances de parceria da BBC. Já há dois jornalistas brasileiros seguindo para um giro pelo Oriente Médio e um terceiro aguarda visto para o Iraque. "A guerra acaba valorizando nossos serviços. Infelizmente é assim." Tudo como há 65 anos.

laura@folhasp.com.br


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