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OUTRA FREQUÊNCIA
BBC e a mina de ouro brasileira
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Tudo começou há quase 65
anos, no dia 14 de março de
1938, com as seguintes palavras:
"... O senhor Hitler entrou hoje à
noite em Viena, no meio de um
entusiasmo formidável. De pé, no
seu carro aberto, respondeu repetidamente com saudações nazi às
aclamações da multidão".
A notícia marcou a primeira
transmissão da inglesa BBC ao
Brasil. E foi com a cobertura da
Segunda Guerra, transmitida em
português por ondas curtas, que a
rádio passou a ser conhecida pelos brasileiros. Mas aí veio o estouro da FM, a indústria parou de
fabricar aparelhos com OCs (ondas curtas) e a audiência da BBC
no país praticamente morreu.
No início dos anos 90, seu serviço em português quase foi extinto. Só sobreviveu em razão de
parcerias feitas com AMs e, principalmente, FMs, para a retransmissão do noticiário de Londres.
Mas a situação mudou. Com a
crise da mídia brasileira, quase
não há estação que consiga manter correspondentes no exterior.
Nesse contexto, a BBC ampliou
seu espaço no dial e hoje tem contrato com mais de 40 emissoras.
Em SP, está com a Eldorado há
quatro anos e recentemente fechou acordo com a CBN. No Rio,
sua programação será levada ao
ar a partir de março pela JB FM.
Depois de beirar a extinção, o
serviço em português hoje está
entre as prioridades de empresa.
Das 43 línguas estrangeiras contempladas pela BBC, ocupa o
quinto lugar em investimentos, só
perdendo para o árabe, espanhol,
russo e chinês. Na semana passada, foi anunciado aumento de
cerca de 15% no orçamento anual
da equipe de 35 brasileiros, que
passa para US$ 3 milhões.
Américo Martins, 34, diretor da
BBC Brasil, acaba de deixar São
Paulo, onde selecionou mais quatro profissionais para ampliar seu
quadro. Está também desenvolvendo um projeto ambicioso para
comemorar a primeira transmissão: ampliar o noticiário, atualmente com quatro horas e meia
diárias de duração, para doze horas, e encontrar uma FM disposta
a ceder seu horário nobre à íntegra da programação londrina.
Segundo ele, já há candidatas.
"A idéia é deixar buracos para notícias e anunciantes locais." Além
dos programas jornalísticos, também estão sendo criados musicais
para completar a programação de
12 horas.
Se vier o ataque dos EUA, aumentam as chances de parceria da
BBC. Já há dois jornalistas brasileiros seguindo para um giro pelo
Oriente Médio e um terceiro
aguarda visto para o Iraque. "A
guerra acaba valorizando nossos
serviços. Infelizmente é assim."
Tudo como há 65 anos.
laura@folhasp.com.br
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