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POLÍTICA CULTURAL
Para Secretaria de Comunicação, investimentos de estatais devem observar necessidades mercadológicas
Gil diz que Lula prometeu repasse de verbas
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Verbas de grandes estatais como Petrobras, BR e Caixa Econômica se tornaram um foco de disputa entre o Ministério da Cultura, de Gilberto Gil, e a Secretaria
de Comunicação de Governo, de
Luiz Gushiken.
A intenção de Gushiken é centralizar na Secom todas as verbas
destinadas pelo governo a promoção e comunicação das estatais, inclusive aquelas destinadas
a patrocínios culturais -cerca de
R$ 600 milhões.
Em busca de aporte para compensar a redução de seu orçamento (de mais de 50%), Gil argumenta que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva se comprometeu a
repassar parte das verbas ao
MinC e ao Ministério do Esporte.
"Isso foi informação já dada pelo presidente Lula quando da minha indicação: parte desses recursos irá para projetos dos ministérios da Cultura e do Esporte. Como isso deve ser feito é o que vai
ser discutido agora", afirma Gil.
A equipe do ministro já tem
uma proposta: cerca de R$ 300
milhões de patrocínios culturais
iriam para um fundo, que por sua
vez investiria em projetos propostos pelo MinC. Hoje, cada estatal
decide onde aplicar o dinheiro.
Nada indica que a equipe de
Gushiken abrirá mão do controle
da verba com facilidade. "Essa vai
ser uma decisão de governo, e não
de um ministério ou de uma secretaria", diz Marcos Flora, secretário-adjunto da Secom.
Ressalvando que Gil e Gushiken
não estão se desentendendo sobre
o assunto, já que "a Secom está
aberta ao debate franco, sem restrições ", Flora adianta a posição
da equipe de Gushiken.
Segundo ele, os investimentos
de cultura feitos pelas estatais devem observar as necessidades
mercadológicas das empresas,
porque elas não pertencem apenas ao governo. "Como os acionistas minoritários das estatais
vão avaliar investimentos em patrocínios que não têm retorno
mercadológico?", afirma.
Flora diz que o dinheiro das estatais não pode ser tratado da
mesma forma que recursos do governo. "Muitas vezes, um investimento tem valor cultural intrínseco, mas não necessariamente
agrega um valor de mercado." As
estatais teriam que continuar decidindo como investir.
No governo FHC, foram frequentes críticas de que o marketing cultural entre empresas interessadas em retorno imediato e
grandes produtores de cultura se
sobreporia ao interesse propriamente cultural.
Diz Gil: "O que se reivindica é
que os projetos de incentivo passem pelo crivo da política cultural
do ministério, por um critério
mais politizado. Não é só de verbas de publicidade que estamos
falando, mas também do mecanismo da renúncia fiscal".
Ele nega que, uma vez subordinados ao Minc, os investimentos
das estatais também obedeceriam
a critérios mercadológicos.
"Estamos criando um grupo para examinar e seguramente rever
e rearranjar os mecanismos da lei
de incentivo, para que ela possa
dar mais atendimento a quem
mais precisa e menos atendimento a quem menos precisa. Ou
manter o atendimento a quem
menos precisa, mas aumentar o
atendimento a quem mais precisa. De todo modo, o problema está querendo ser atacado."
Também buscando recursos
para o MinC, Gil apresentaria ontem ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a proposta do presidente da Funarte, Antonio Grassi,
de criar a Loteria Cultural.
"É uma loteria nos moldes da
que existe nos EUA, que financia
universidades, e na Itália, que financia toda a área de patrimônio
cultural. Numa estimativa mais
conservadora, isso poderia triplicar o orçamento do MinC", diz.
Ele reage à especulação de que
Gushiken e a Secom também estariam de olho nas verbas de publicidade da loteria: "Nunca ouvi
dizer. Se está vai nos dizer. Provavelmente aí Gushiken e a Secom é
que vão ter a iniciativa de fazer
sua loteria. Essa daí está sendo feita pelo Ministério da Cultura".
Mas Gil nega qualquer tensão
entre os dois ministérios: "Não há
disputa. Eventualmente pode vir
a se configurar, mas não acredito.
As duas equipes já estão discutindo, agora está chegando a hora de
conversarmos nós, os ministros".
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