São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Recbeat escala 33 atrações em Recife

ISRAEL DO VALE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O Recbeat não cabe em si. O festival de rock encravado no Carnaval recifense cresceu tanto que a partir deste ano muda de mala e cuia para um espaço maior, o cais da Alfândega, às margens do rio Capibaribe.
A nona edição do evento começa neste sábado, com 33 atrações musicais (24 no palco principal). É, como de praxe, uma amostra atenta dos "indies & pendentes" da cena nacional desta vez com um braço esticado para o Mercosul (Abuela Coca, do Uruguai) e outro para além-mar (Bernie's Lounge, da Holanda, Kenny Brown, dos EUA, e o DJ Dan Nantis, da França, que se apresenta na tenda-passarela eletrônica, um corredor de desfiles de moda nos intervalos dos shows).
A miscelânea impera na programação. A fonte "roots" dá base e horizonte para a maior parte das atrações. A começar pelo trabalho notável do DJ Dolores agora emoldurado pela Aparelhagem, sua (parcialmente) nova banda.
Quem dá o acorde inicial para a folia (inclusive) roqueira é o grupo pernambucano de afoxé Alafin Oyó, às 19h30 de sábado. Até a Terça-Feira Gorda, seis atrações revezam-se no palco a cada noite.
Há desde nomes conhecidos da cena mangue beat (Eddie, Devotos, Nação Zumbi) aos seus herdeiros (a Refinaria, novo projeto de Silvério Pessoa, ou o Zambo, grupo de matriz cênica) e bastiões da tradição (Samba de Coco Raízes de Arcoverde, Maciel Salú).
A mesma tradição vai ao palco, com maracatus como Nação Porto Rico e Estrela Brilhante. Segundo Gutie, o criador do festival, a idéia é justamente "colocar sob as luzes coisas que as pessoas estão vendo à sua volta, mas que ao ver no palco ganham outra dimensão, outra perspectiva."
Mas nem tudo é tambor na cena local: há o jazz de acento caribenho do grupo A Roda ou "eletrorock psicodélico retro-futurista" dos Astronautas.
A escalação interestadual é bastante diversa. Vai do rap de Nega Gizza (RJ) ao encontro entre Bojo e Maria Alcina (SP/MG); do rock-de-batuque de Lan Lan e os Elaines (RJ) ao performático Rogério Skylab (RJ) ou o skacore do Narguilé Hidromecânico (PI).

"Maestro" Naná
O pontapé inicial do Carnaval 2004 pernambucano, às 19h de amanhã, rompe com uma tradição. Em vez do frevo, quem ganha o primeiro plano é o maracatu. E em grande estilo.
Do alto de seus quase 60 anos (que se completam em agosto), o percussionista cinco estrelas Naná Vasconcelos "rege" o encontro de 11 nações de maracatu e os 86 integrantes da Banda Sinfônica do Recife (dirigida por Nenéu Liberalquino), reforçado por cem batuqueiros mirins, no Marco Zero, centro histórico da cidade. O repertório inclui do "Trenzinho Caipira", de Villa-Lobos, à "Praieira", de Chico Science.
Sim, a terra vai tremer, mas com candura. A reunião tem contornos de confraternização. "As nações são rivais entre si", conta Naná. "Visitei cada uma das sedes, conversei com todos os líderes espirituais e eles foram muito generosos", diz. "É a primeira vez que o Carnaval vai ser aberto com a musicalidade afro-pernambucana", conta o "maestro". "Vamos fazer 400 tambores soarem como um."

Texto Anterior: Dolores do agreste
Próximo Texto: Evento em BH propõe contraponto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.