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DANÇA
Coreógrafa brasileira radicada na França participa de encontro em que apresenta trabalho na cia. À Fleur de Peau
Namura mostra teatro dos passos em SP
KATIA CALSAVARA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Quando chegou à França para
estudar, aos 19 anos, nada mais
natural que a brasileira Denise
Namura visse tudo meio "fora de
foco". Foi durante uma aula de
mímica que decidiu: "É isso mesmo o que quero fazer". Até que,
anos mais tarde, criou uma nova
linguagem. Algo que fazia da dança, teatro, e do teatro, dança, ao
mesmo tempo.
De passagem pelo Brasil, Namura, 46, vai falar da pesquisa que
desenvolveu com o parceiro de
palco, o alemão Michael Bugdahn, em encontro que acontece
hoje no espaço Body & Mind Estúdio de Movimento, na Vila Mariana, em São Paulo. A coreógrafa
também vai mostrar vídeos de
sua companhia, a francesa À
Fleur de Peau, e falar sobre as condições de trabalho em dança e
produção na França.
Namura conta que sua pesquisa
encontra meios de diluir as diferenças existentes entre teatro e
dança. Os últimos trabalhos da
dupla em companhias brasileiras
foram "Como se Não Coubesse
no Peito" (2001), para o Balé da
Cidade de São Paulo, e "Talvez
Sonhar" (2003), para a Cisne Negro Cia. de Dança.
Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - A sua companhia propõe
uma mescla de gêneros. Como misturar dança, teatro e mímica?
Denise Namura - Como o nosso
[junto com Bugdahn] gestual é
originário da mímica, é uma linguagem que interessa à dança.
Quando se faz mímica, é preciso
saber fazer acrobacia, dança clássica e técnica clown -é uma linguagem muito ampla. O nosso
trabalho é a teatralização da dança. É uma dança composta por
um jogo teatral. Os bailarinos estão sempre dialogando, como no
teatro, mas é um diálogo dançado. Os espetáculos têm dramaturgia teatral, têm personagens que
vão definir uma história, como
ocorre na dança clássica.
Folha - De que forma você e Bugdahn tornam mais concreta no palco a linguagem abstrata da dança?
Namura - Os movimentos nascem de situações teatrais. Também trabalhamos com movimentos abstratos, mas eles entram em
um contexto em que o espectador
já sabe o que significam. Por
exemplo, em uma de nossas peças
há um momento em que o personagem sente falta de seu país e
precisa demonstrar saudade. Antes dessa cena, outros personagens aparecem vendo fotos. O público entende que aquilo é parte
desse sentimento, colocado da
maneira mais direta possível.
Quando o criador escolhe um tema, ele quer que as pessoas o entendam, que se identifiquem.
Nosso espetáculo é mais próximo
do ser humano e das coisas do cotidiano dele.
Folha - Não acha que esse recurso pode impedir o espectador de
criar suas próprias imagens?
Namura - Acho que de qualquer maneira há uma abertura.
As cenas não são explícitas o tempo todo e, normalmente, cada um
interpreta o que significam a seu
modo. É prazeroso poder dividir
com as pessoas as coisas que você
quer contar. Há a impressão de
que tudo pode estar mastigado,
mas não é isso, o espectador faz a
leitura de suas próprias imagens.
Folha - Como preencher um movimento de dança com intensidade
teatral?
Namura - Há muitos caminhos.
Há exercícios de preparação teatral mesmo, não é uma fórmula
mágica. Para se chegar em determinada interpretação, é necessário que o bailarino já tenha a coreografia bem colada ao corpo.
Folha - Os bailarinos têm dificuldade em interpretar?
Namura - A maioria fica feliz em
poder experimentar algo que não
está acostumada a fazer. Durante
o processo, pedimos para trazerem objetos e situações de sua vida pessoal, o que colabora na criação. Não há a necessidade de que
os bailarinos sejam atores.
Por que um encontro com Denise
Namura?
Namura - No mundo inteiro as
pessoas querem saber como chegamos a essa linguagem. Nossas
temporadas no Brasil costumam
ser muito curtas. Não chega a ser
uma aula, vou dar pistas para as
pessoas criarem seus trabalhos
depois.
ENCONTRO COM DENISE NAMURA.
Quando: hoje, a partir das 20h30, no
Body & Mind Estúdio de Movimento (r.
Medeiros de Albuquerque 381, Vila
Madalena, tel. 0/xx/11/3032-9552). R$
10 (preço único).
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