São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

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DANÇA

Coreógrafa brasileira radicada na França participa de encontro em que apresenta trabalho na cia. À Fleur de Peau

Namura mostra teatro dos passos em SP

KATIA CALSAVARA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quando chegou à França para estudar, aos 19 anos, nada mais natural que a brasileira Denise Namura visse tudo meio "fora de foco". Foi durante uma aula de mímica que decidiu: "É isso mesmo o que quero fazer". Até que, anos mais tarde, criou uma nova linguagem. Algo que fazia da dança, teatro, e do teatro, dança, ao mesmo tempo.
De passagem pelo Brasil, Namura, 46, vai falar da pesquisa que desenvolveu com o parceiro de palco, o alemão Michael Bugdahn, em encontro que acontece hoje no espaço Body & Mind Estúdio de Movimento, na Vila Mariana, em São Paulo. A coreógrafa também vai mostrar vídeos de sua companhia, a francesa À Fleur de Peau, e falar sobre as condições de trabalho em dança e produção na França.
Namura conta que sua pesquisa encontra meios de diluir as diferenças existentes entre teatro e dança. Os últimos trabalhos da dupla em companhias brasileiras foram "Como se Não Coubesse no Peito" (2001), para o Balé da Cidade de São Paulo, e "Talvez Sonhar" (2003), para a Cisne Negro Cia. de Dança.
Leia a seguir trechos da entrevista.
 

Folha - A sua companhia propõe uma mescla de gêneros. Como misturar dança, teatro e mímica?
Denise Namura -
Como o nosso [junto com Bugdahn] gestual é originário da mímica, é uma linguagem que interessa à dança. Quando se faz mímica, é preciso saber fazer acrobacia, dança clássica e técnica clown -é uma linguagem muito ampla. O nosso trabalho é a teatralização da dança. É uma dança composta por um jogo teatral. Os bailarinos estão sempre dialogando, como no teatro, mas é um diálogo dançado. Os espetáculos têm dramaturgia teatral, têm personagens que vão definir uma história, como ocorre na dança clássica.

Folha - De que forma você e Bugdahn tornam mais concreta no palco a linguagem abstrata da dança?
Namura -
Os movimentos nascem de situações teatrais. Também trabalhamos com movimentos abstratos, mas eles entram em um contexto em que o espectador já sabe o que significam. Por exemplo, em uma de nossas peças há um momento em que o personagem sente falta de seu país e precisa demonstrar saudade. Antes dessa cena, outros personagens aparecem vendo fotos. O público entende que aquilo é parte desse sentimento, colocado da maneira mais direta possível. Quando o criador escolhe um tema, ele quer que as pessoas o entendam, que se identifiquem. Nosso espetáculo é mais próximo do ser humano e das coisas do cotidiano dele.

Folha - Não acha que esse recurso pode impedir o espectador de criar suas próprias imagens?
Namura - Acho que de qualquer maneira há uma abertura. As cenas não são explícitas o tempo todo e, normalmente, cada um interpreta o que significam a seu modo. É prazeroso poder dividir com as pessoas as coisas que você quer contar. Há a impressão de que tudo pode estar mastigado, mas não é isso, o espectador faz a leitura de suas próprias imagens.

Folha - Como preencher um movimento de dança com intensidade teatral?
Namura -
Há muitos caminhos. Há exercícios de preparação teatral mesmo, não é uma fórmula mágica. Para se chegar em determinada interpretação, é necessário que o bailarino já tenha a coreografia bem colada ao corpo.

Folha - Os bailarinos têm dificuldade em interpretar?
Namura -
A maioria fica feliz em poder experimentar algo que não está acostumada a fazer. Durante o processo, pedimos para trazerem objetos e situações de sua vida pessoal, o que colabora na criação. Não há a necessidade de que os bailarinos sejam atores.

Por que um encontro com Denise Namura?
Namura -
No mundo inteiro as pessoas querem saber como chegamos a essa linguagem. Nossas temporadas no Brasil costumam ser muito curtas. Não chega a ser uma aula, vou dar pistas para as pessoas criarem seus trabalhos depois.


ENCONTRO COM DENISE NAMURA. Quando: hoje, a partir das 20h30, no Body & Mind Estúdio de Movimento (r. Medeiros de Albuquerque 381, Vila Madalena, tel. 0/xx/11/3032-9552). R$ 10 (preço único).


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