São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2011

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TRECHO

Houve um soluço baixinho, e então a voz irritada de um homem disse, acusadoramente: "Coisa inútil!". (...)
De repente, pensei ter ouvido algum movimento no balde de água suja atrás de mim e automaticamente olhei para trás. Senti meu sangue congelar. Para meu absoluto horror, vi um minúsculo pé saindo do balde. Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Então o pezinho tremeu! Não era possível. A parteira decerto largara aquele bebezinho vivo dentro do balde de água suja! Quase mergulhei na direção do balde, mas os dois policiais me seguraram pelos ombros com firmeza. "Não se mexa, você não pode salvá-la, é tarde demais!"
"Mas isso é... assassinato... e vocês são da polícia!" Eu estava horrorizada. Ficamos sentados em silêncio enquanto eu, enojada, não tirava os olhos do balde. Parecia que tudo ao meu redor havia parado. O pezinho estava inerte, agora. Os policiais me seguraram por mais alguns minutos. (...)
As únicas pessoas que haviam sobrado no cômodo agora eram a mulher do chefe da aldeia e eu, e, no quarto adjacente, a mulher que acabara de dar à luz, com o homem que lhe levara um pouco de sopa. Mas eu não conseguia me mexer.
"Resolver uma bebezinha não tem nada de mais por aqui. Vocês, gente da cidade, ficam chocados na primeira vez que veem, não é?", a senhora falou, tentando me confortar e obviamente vendo o quão chocada eu estava.

Extraído de "Mensagem de Uma Mãe Chinesa Desconhecida"


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