São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2011

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Filmes de Berlim revelam mundo com olhar partido

Favoritos a Urso de Ouro, "Nader e Simin" e "Come Rain Come Shine" usam a separação de casais para problematizar política

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

O júri que foi presidido pela atriz Isabella Rossellini e ficou com uma cadeira vaga por conta da prisão do cineasta iraniano Jafar Panahi passou os últimos dez dias vendo um mundo marcado por relações esgarçadas.
Não foram poucos os filmes da competição da Berlinale, que anuncia hoje os ganhadores do Urso de Ouro e dos ursos de Prata, que colocaram, no centro da tela, casais que se veem impossibilitados de lidar com as novas configurações de uma sociedade em mutação.
É esse o tema do grande favorito da noite de hoje, o iraniano "Nader e Simin, uma Separação", do coreano "Come Rain Come Shine" (faça chuva faça sol), do norte-americano "O Futuro", do alemão "If not Us, Who" (se não nós, quem) e do argentino "Um Mundo Misterioso".
O amor, ou o fim dele, serviram, em Berlim, muito mais para falar do mundo do que de corações partidos.
Em "Nader e Simin", Ashgar Fahardi conseguiu fazer isso de maneira exemplar. Ao fim, descobrimos que passamos a entender melhor uma sociedade que nos chega sempre coberta por véus.

SURPRESA FINAL
Também revelador de uma sociedade desconhecida de todos nós é "The Forgiveness of Blood" (o perdão de sangue). Exibido ontem, esse épico rural e intimista dirigido pelo norte-americano Joshua Marston foi, ao lado do filme iraniano, o mais aplaudido nas sessões de imprensa em Berlim.
A história se passa numa Albânia marcada por tradições rígidas. Cruéis. A disputa por um pedaço de terra, que inclui o direito de ir e vir, está na origem da trama. Após um assassinato, os homens da família, incluindo uma criança e uma adolescente, são condenados, pela família rival, a nunca mais sair de casa.
Marston, a exemplo do que fez Fahardi, usou um drama familiar para explorar o conflito entre tradição e modernidade e mostrar o desencontro geracional.
Ao lado desses dois trabalhos de Fahardi e Marscon, o outro destaque da competição foi "The Turin Horse" (o cavalo de Turim), um ensaio visual sobre a luta pela sobrevivência. O húngaro Béla Tarr fez um filme denso, mas de imagens únicas, inesquecíveis.
A América Latina, que tinha dois filmes na seleção, o mexicano "O Prêmio" e o argentino "Um Mundo Misterioso", não impressionou. O filme argentino, ao contrário, foi um dos mais fracos -e pretensiosos- da competição que termina hoje.


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