São Paulo, segunda-feira, 19 de março de 2007

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Crítica celebra ficção de Paulo Emílio

Debate hoje à noite em São Paulo reúne Roberto Schwarz, Antonio Candido, Lygia Fagundes Telles e Carlos Augusto Calil

Encontro lança o romance "Três Mulheres de Três PPPês" e projeto de reedição da obra do ensaísta e escritor paulistano

Acervo Cinemateca Brasileira/Reprodução
Paulo Emílio Sales Gomes, ao lado da mulher Lygia Fagundes Telles, diante do busto de Karl Marx


RAFAEL CARIELLO
SYLVIA COLOMBO

DA REPORTAGEM LOCAL

"O livro do Paulo Emílio foi uma surpresa total", diz o crítico literário Antonio Candido, amigo desde a juventude do teórico do cinema e ensaísta paulistano, sobre "Três Mulheres de Três PPPês".
A obra, que veio a público pouco antes da morte de Paulo Emílio Sales Gomes (1916-1977), será tema de debate hoje, a partir das 19h, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Estarão reunidos o próprio Candido, o também crítico Roberto Schwarz, a escritora Lygia Fagundes Telles -viúva de Paulo Emílio- e Carlos Augusto Calil, secretário municipal da Cultura de São Paulo.
O livro do crítico consagrado causou "surpresa" por algumas razões. Primeiro, por ter sido uma criação inesperada e não anunciada pelo autor. Depois, pela qualidade e originalidade apontadas em sua prosa.
"Fiquei maravilhado", diz Schwarz sobre sua impressão a respeito do livro, ainda em 1977. "Paulo Emílio fez da inteligência um elemento na construção de sua ficção. Ela contém uma espécie de inteligência adulta, civil, que é muito rara na literatura brasileira."
Tal traço, para Schwarz, só encontra paralelos entre as obras de ficção escritas no país em autores como Machado de Assis e Graciliano Ramos.
"Eu não tinha notícia do preparo desse livro. Fiquei deslumbrado. O que me chamou a atenção foi a combinação de humorismo e crítica corrosiva", afirma Candido.
De certa forma, a obra também foi uma "surpresa" para o próprio Paulo Emílio. Lygia Fagundes Telles conta que o marido tinha sugerido que ela o escrevesse. "Um dia, assim de repente, ele me disse: "Vou dar três ótimas idéias para você fazer três contos!'". Como a escritora estava ocupada, ele acabou tomando-as de volta. "Alguns dias depois, ele apareceu com o olhar brilhante e anunciou: "Sabe aquelas idéias de contos que lhe dei? Quero de volta, eu mesmo vou escrever, você não se importa?'".
Assim nasceu "Três Mulheres de Três PPPês", três novelas que têm lugar em São Paulo e se passam entre os anos 40 e os da ditadura. O modo como Paulo Emílio retrata a burguesia paulistana e suas ambições em seus personagens, combinado à forma da escrita "ostensivamente um pouco antiga", faz Schwarz dizer que o autor "ilumina um universo de certo modo com data vencida".

Diálogo com Machado
Ali, opina o crítico, aparece "uma classe decadente que já não tem objetivo histórico nenhum, com metas muito limitadas e anacrônicas". Os paulistas de Paulo Emílio são "uma espécie de metáfora histórica", continua Schwarz. "Isso cria um efeito literário muito especial, que é de certa forma parecido com o de "Dom Casmurro", de Machado de Assis."
O debate desta noite marca também o lançamento da reedição das obras de Paulo Emílio, pela editora Cosacnaify, organizada por Calil.
Para o professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, a morte precoce de Paulo Emílio impediu que sua obra fosse organizada devidamente, e, com isso, ela acabou repercutindo menos do que merecia.
"Por ter morrido moço, ele não pôde rever, reeditar seus textos. E quem o fez imediatamente depois de sua morte preocupou-se em ordenar tudo cronologicamente, criando um "dicionário de textos"."
O que Calil quer fazer agora é criar linhas de conexão temática entre os mesmos. O projeto de relançamento de toda a obra de Paulo Emílio deve ser concluído até o fim de 2008. TRÊS MULHERES DE TRÊS PPPÊS Quando: debate de lançamento hoje, às 19h Onde: auditório da Cinemateca Brasileira (lgo. Senador Raul Cardoso, 207, Vila Mariana, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 5084-2177) Quanto: entrada franca (as senhas devem ser retiradas no local com uma hora de antecedência)

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