SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Há gente em movimento, o tempo todo, no documentário "Onibus" (sem acento circunflexo, como no latim "omnibus", que significa "para todos"), co-produção entre a França, o Brasil e a Itália, que terá pré-estréia hoje, às 21h30, no Cinesesc, e será exibido amanhã, às 22h, na SescTV.
Pelas janelas dos ônibus em que o diretor e roteirista italiano Augusto Contento percorre diversas regiões do Brasil, vislumbra-se a paisagem exterior, emoldurada por essa espécie de tela a partir da qual cada passageiro vai montando durante a viagem seu próprio filme-de-estrada.
Há também um bocado de movimento interior: motoristas e viajantes falam, em seus depoimentos, sobre experiências de vida (por exemplo: uma mulher com sete filhos de sete paixões diferentes e um certo rancor dos homens), crenças, sonhos, desilusões. Alguns falam para o espectador, outros são "espectros", como os créditos os identificam - apenas reflexos nas janelas, sobre as imagens do exterior.
No elaborado projeto sonoro do filme, também assinado por Contento, o que eles dizem se combina com música e com trechos de transmissões de rádio, caleidoscópio que se detém, em especial, sobre as relações entre a violência e a miséria no país, com as habituais críticas à classe política.