Monólogo, que marca volta de João Miguel aos palcos, estreia temporada amanhã no Sesc Avenida Paulista

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

João Miguel retorna à arte que lhe abriu as portas para o cinema brasileiro. Oito anos e 14 filmes depois do sucesso de "Bispo", solo sobre o artista Arthur Bispo do Rosário (1909-1989), Miguel diz voltar ao palco movido por necessidade.
"Meu interesse é falar sobre a solidão do ser humano, e o texto trata disso", diz o ator. "Só", monólogo que estreia amanhã (quando o ator completa 39 anos) no Sesc Avenida Paulista , expõe o isolamento do homem no mundo contemporâneo.
É com musicalidade e lirismo que a autora, Letizia Russo, premiada dramaturga italiana, joga luz na história do homem que volta à sua cidade natal após 30 anos de afastamento. "O protagonista encontra um amante da juventude por acaso, num café, e, em um tempo breve, recompõe na memória esse relacionamento", diz Russo, que dá vida a uma obra na qual o ritmo das falas, a sonoridade das palavras e os silêncios interferem de maneira definitiva.
"O texto é uma partitura", afirma o diretor, Alvise Camozzi, italiano residente no Brasil. "Só" é uma peça de memória não-convencional, centrada no texto e no trabalho do ator. "Sua concepção é simples. João é o espetáculo", resume Camozzi. O minimalismo cenográfico se contrapõe à sofisticada dramaturgia, onde o tempo da lembrança trilha o percurso do pensamento. A autora rompe a cadência natural da fala unindo frases às vezes incompletas, que ligam sem pontuação pensamentos distintos.
"Minha intenção era quebrar a compreensão lógica do espectador e construir uma peça emotiva. Chegar ao estômago das pessoas sem passar pelo cérebro", diz Russo. Para João Miguel, "Só" tem estrutura de quebra-cabeça. "O texto é móvel, pede para ser redescoberto a toda hora. Se eu me sentir desafiado, saio do jogo modificado", afirma o ator.