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DEPOIMENTO
"A obra de Sergio pede um olhar moderno"
RONALDO BRITO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A obra de Sergio Camargo está intacta, nova em folha, pronta
para atender ao olhar inteligente do Brasil contemporâneo.
Tanto que nunca se prendeu a
contextos ideológicos, a programas edificantes ou transgressivos, que com o tempo vão perdendo força, ficando circunscritos a fiéis seguidores.
Evidentemente, o trabalho de
Camargo pede um olhar moderno, preparado, mas a ele responde direta e inconfundivelmente -é uma arte brasileira
sem culpa, confiante, que aposta tanto na força da razão construtiva quanto no brilho estético sensível e sua espécie particular de cognição.
Eu e, acredito, muitos outros
artistas e críticos, que nos beneficiamos de sua presença inteligente, sem vestígios de cabotinice, continuamos a nos beneficiar dessa presença, que parece
sempre se renovar, em seus relevos e suas esculturas.
E isto é um ponto em que o
risco para o crítico é cair no discurso laudatório, o que seria um
insulto a uma arte que pede justamente o contrário: atenção
aberta e inteligente, que saiba
acompanhar tanto a sua lógica
combinatória quanto a sua
enorme força de atração lírica.
Ele era artista mesmo, queria
estar onde estava a discussão
produtiva sobre arte e mais diretamente sobre a questão da
modernidade, abriu muitas
portas aos brasileiros lá fora.
Fez um trabalho rigorosamente construtivo porque
aquilo tudo é feito à máquina, a
base dele era o cilindro já cortado, então não são propriamente formas, são elementos geométricos. A particularidade dele era justamente isso, o que era
muito malvisto porque parecia
algo conservador no momento
da arte cinética, da op art.
Camargo era um clássico no
sentido de apostar na longa duração. Não conservador no sentido estrito. Ele não estava preso a esses contextos imediatos.
Quando fomos fechar o ateliê
dele, era inverno na Itália. Estava uma luz ofuscante e parecia
a luz do ateliê dele em Jacarepaguá, no Rio.
Tem tudo a ver
com aquela luz ofuscante do
mármore branco. O aspecto
sensível do trabalho é notável e
a inteligência daquela combinatória é um imaginário muito
rico, de brilho extraordinário.
RONALDO BRITO é crítico de arte, um dos maiores especialistas na obra de Sergio Camargo
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