São Paulo, sexta-feira, 19 de março de 2010

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DEPOIMENTO

"A obra de Sergio pede um olhar moderno"

RONALDO BRITO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A obra de Sergio Camargo está intacta, nova em folha, pronta para atender ao olhar inteligente do Brasil contemporâneo. Tanto que nunca se prendeu a contextos ideológicos, a programas edificantes ou transgressivos, que com o tempo vão perdendo força, ficando circunscritos a fiéis seguidores.
Evidentemente, o trabalho de Camargo pede um olhar moderno, preparado, mas a ele responde direta e inconfundivelmente -é uma arte brasileira sem culpa, confiante, que aposta tanto na força da razão construtiva quanto no brilho estético sensível e sua espécie particular de cognição. Eu e, acredito, muitos outros artistas e críticos, que nos beneficiamos de sua presença inteligente, sem vestígios de cabotinice, continuamos a nos beneficiar dessa presença, que parece sempre se renovar, em seus relevos e suas esculturas.
E isto é um ponto em que o risco para o crítico é cair no discurso laudatório, o que seria um insulto a uma arte que pede justamente o contrário: atenção aberta e inteligente, que saiba acompanhar tanto a sua lógica combinatória quanto a sua enorme força de atração lírica.
Ele era artista mesmo, queria estar onde estava a discussão produtiva sobre arte e mais diretamente sobre a questão da modernidade, abriu muitas portas aos brasileiros lá fora.
Fez um trabalho rigorosamente construtivo porque aquilo tudo é feito à máquina, a base dele era o cilindro já cortado, então não são propriamente formas, são elementos geométricos. A particularidade dele era justamente isso, o que era muito malvisto porque parecia algo conservador no momento da arte cinética, da op art.
Camargo era um clássico no sentido de apostar na longa duração. Não conservador no sentido estrito. Ele não estava preso a esses contextos imediatos. Quando fomos fechar o ateliê dele, era inverno na Itália. Estava uma luz ofuscante e parecia a luz do ateliê dele em Jacarepaguá, no Rio.
Tem tudo a ver com aquela luz ofuscante do mármore branco. O aspecto sensível do trabalho é notável e a inteligência daquela combinatória é um imaginário muito rico, de brilho extraordinário.

RONALDO BRITO é crítico de arte, um dos maiores especialistas na obra de Sergio Camargo



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