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CINEMA
Crítica/ "Soul Kitchen"
Filme de restaurante agrada paladar
Inteligente sem ser genial, novo longa de Fatih Akin esboça o papel que a Europa quer para si no cinema globalizado
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Não é de espantar que
"Soul Kitchen" tenha
recebido um Prêmio
Especial do Júri em Veneza.
Trata-se do tipo de filme tão
necessário quanto raro no cinema europeu: uma comédia
acessível, divertida, inteligente
(com ou sem aspas, conforme a
preferência), capaz de divertir
o espectador de fim de semana
-a maioria do público- e não
ofende a ninguém. É exatamente o que propõe Fatih Akin
com seu filme. E é o que ele tem
de particular.
Tomemos a França, principal produtor europeu: lá a produção divide-se, grosso modo,
entre filmes "difíceis" (portanto, destinados a um público restrito) e comédias para o gosto
popular, intragáveis para o "público restrito". O produto médio, no entanto, é raro. Ora, é
bem esse espaço que "Soul Kitchen" pretende ocupar.
Não lhe faltam elementos para tanto, a começar pelo argumento. Zinos, jovem grego,
possui restaurante mais que
modesto em Hamburgo, Alemanha, e o leva com as dificuldades e problemas habituais
nas pequenas empresas (em
particular as de estrangeiros).
Ao rotineiro vêm se acrescentar problemas particulares:
seu desejo de ir para a China; a
saída provisória da prisão de
seu irmão vigarista; as pressões
pelo fechamento do estabelecimento (vindas de um falso amigo alemão que deseja comprar
o local a preço de banana); o
surgimento de super chef disposto a transformar a espelunca num refúgio da alta culinária; um grupo de rock que ensaia por ali; uma garçonete que
também é artista etc.
Integração
Já se vê, pela enumeração,
que não estaremos diante de
um desses filmes europeus em
que "não acontece nada", conforme a queixa habitual. O que
não falta são coisas acontecendo, com todos os altos e baixos
que os heróis possam enfrentar, em todos os fronts: profissional, amoroso, comercial.
Tudo isso seria em vão se
Akin evitasse a questão europeia por excelência: a necessidade e as dificuldades de integração entre várias culturas.
Alguns elementos são muito
presentes: assim como o amigo
trapaceiro, a namorada de Zinos é uma jornalista alemã -é
para acompanhá-la que ele
projeta a viagem à China, onde
ela foi ser correspondente.
Illias, o irmão de Zinos, é um
vigarista convicto: um malandro à brasileira (ele tem, aliás,
um quê de Hugo Carvana quando jovem), com um lado desonesto, que o ajuda a sobreviver,
e um outro tremendamente
simpático.
Esse segundo aspecto da personalidade simpática e sociável
de Illias ajuda a fornecer o humor a "Soul Kitchen" e, de certa
forma, a fechar o projeto: um
filme agradável, não inesquecível, inteligente sem ser genial,
comercial sem ser indigno.
Breve: um filme médio europeu consumível em qualquer
parte do planeta. É mais que
um projeto artístico pessoal:
parece uma ideia sobre o papel
que a Europa pretende para si
no cinema globalizado.
SOUL KITCHEN
Diretor: Fatih Akin
Produção: Alemanha/Turquia, 2009
Com: Birol Ünel, Udo Kier e Dorka
Gryllus
Onde: Belas Artes, Espaço Unibanco
Pompeia e Reserva Cultural
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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