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Crítica/ "Um Sonho Possível"
Condescendente e paternalista, filme posa de sensível
Com estreia hoje, longa canoniza personagem de Sandra Bullock, perua milionária que resolve ajudar negro pobre
ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA
É curioso como tantos precisam de adulação pública para
fazer o bem. Outro dia, um canal a cabo exibiu um programa
chamado "Celebridades do
Bem", em que astros multimilionários relatavam, embevecidos por sua própria magnanimidade, seus esforços para ajudar diversa causas humanitárias. Só não ficava claro o que é
que lhes dava mais prazer: se
ajudar ao próximo ou anunciar
isso ao mundo.
"Um Sonho Possível", filme
que deu o Oscar de melhor atriz
para Sandra Bullock, periga ser
"O Mágico de Oz" dessa turma
que gosta de trombetear seu assistencialismo. E a personagem
de Bullock, uma perua milionária que subitamente descobre
que não vive num mundo de faz
de conta, onde todos são brancos, ricos e cafonas, é a nova heroína da patota.
Bullock interpreta Leigh Anne Tuohy, casada com um ex-atleta milionário. Os Tuohy
moram em Memphis, no Tennessee. Os filhos estudam numa escola católica de classe alta, onde não há um pobre à vista. Até que surge Michael Oher
(Quinton Aaron), rapaz imenso
e calado, que consegue bolsa na
escola graças às suas habilidades no futebol americano. Michael vem de um bairro barra
pesada e foi abandonado pela
mãe, uma viciada em crack. Os
Tuohy, com pena do rapaz, o
acolhem em sua mansão.
"Um Sonho Possível" posa de
sensível, mas é um filme condescendente e paternalista. Na
"brancolândia", Michael veste
roupas novas, janta em bons
restaurantes e até ganha um
carro da nova família. "Nunca
tive uma cama", diz o rapaz, enquanto Sandra Bullock chora
de emoção. Quando ele precisa
voltar ao seu antigo bairro, encontra um cenário típico dos
filmes de Charles Bronson,
com bandidos mal-encarados
fumando maconha e brandindo
armas em plena luz do dia.
O filme canoniza a personagem de Sandra Bullock: em certo momento, ela pergunta ao
marido: "Será que eu sou uma
boa pessoa?", ao que o maridão
responde: "você é a melhor pessoa que eu conheço!" Palmas
para ela.
Enquanto isso, o pobre Michael vira uma marionete, um
ser humano incapaz de tomar
uma decisão e totalmente dependente da boa vontade
alheia. Como se o ciclo de pobreza e violência que o vitimou
só pudesse ser rompido pela caridade dos outros.
"Um Sonho Possível", baseado na história real de Oher, hoje um jogador profissional de
futebol americano, é uma overdose de sentimentalismo barato. Se quisesse realmente fazer
uma boa ação, Sandra Bullock
bem que poderia doar seu Oscar para uma atriz de algum filme melhor que esse.
UM SONHO POSSÍVEL
Diretor: John Lee Hancock
Produção: EUA, 2009
Com: Sandra Bullock, Tim McGraw e
Quinton Aaron
Onde: Estreia no Bristol, Espaço
Unibanco Pompeia e circuito
Classificação: 10 anos
Avaliação: péssimo
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