São Paulo, sábado, 19 de março de 2011

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Memórias do subsolo

"Retrato de um Viciado quando Jovem" desce ao submundo do crack em Nova York; relato sobre drogas deve virar filme

IVAN FINOTTI
DE SÃO PAULO

Nunca deixa de ser um espanto, para quem está acostumado à cracolândia paulistana -formada aparentemente por batalhões de mendigos e meninos de rua-, ver a derrocada de alguém de classe alta, da sociedade, da cena pop, da intelligentsia.
Pois é o que aconteceu com Bill Clegg, 40, um promissor agente literário de Nova York, que se afundou num redemoinho de autodestruição ao se viciar em crack no início dos anos 2000.
A experiência quase matou Clegg, que perdeu mais de 20 quilos (as cenas em que ele vai abrindo novos furos em seu cinto são especialmente marcantes) até aceitar se internar numa clínica de recuperação.
A história virou livro, publicado nos EUA no ano passado e agora no Brasil. "Retrato de um Viciado quando Jovem" é uma narrativa de uma honestidade brutal, com vários momentos humilhantes para o autor.
Traz vivas descrições das paranoias causadas pela droga, um mapeamento do circuito do crack em Nova York e encontros sexuais com garotos de programa, inclusive um de São Paulo. Por e-mail, ele falou à Folha.

 

Folha - Seu livro parece bem honesto na descrição de até onde um viciado está disposto a chegar. Você chegou a cortar algo por considerar muito degradante?
Bill Clegg
- As únicas cenas que não entraram no livro são as que invadiam a privacidade de outras pessoas ou as que simplesmente repetiam incidentes já relatados.
Nada do meu comportamento foi cortado por medo de julgamento ou de humilhação. A única razão de um livro desse tipo é sua honestidade, sua capacidade de conseguir com que o leitor se identifique por meio de coisas específicas.
Passei muito tempo pensando que seria banido pelos que me conhecem se soubessem o que fiz. Minha esperança ao ser franco é que as pessoas possam se sentir menos solitárias e talvez evitar que cheguem ao comportamento suicida e de calamidade que eu cheguei.


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