São Paulo, sábado, 19 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

CRÍTICA MÚSICA ERUDITA

Osesp abre temporada promissora com força vocal redobrada

Participação do Coral Lírico do Municipal imprime energia extra à "Nona Sinfonia", de Beethoven

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

"Ó amigos, chega desses sons! Entoemos algo mais agradável, e repleto de alegria!" Depois de quase uma hora de música instrumental, a voz poderosa do barítono Jochen Kupfer entoou as palavras -do próprio Beethoven (1770-1827)- que antecedem a entrada dos versos da "Ode à Alegria", de Friedrich Schiller (1759-1805).
Desde a estreia, em Viena, em 1824, a "Nona Sinfonia" continua a desdobrar sentidos a cada interpretação digna. Parece remeter ao presente, às lutas e comoções de um tempo que -seja qual for- é sempre o nosso.
Não havia um único lugar vazio na Sala São Paulo na noite de quinta e, para a abertura dessa promissora temporada, a Osesp contou com forças vocais redobradas graças à participação do Coral Lírico do Municipal.
Ao lado de Kupfer, o quarteto vocal solista foi integrado pela soprano alemã Susanne Bernhard, pela brasileira Denise de Freitas (contralto) e pelo tenor norte-americano Donald Litaker, cuja voz lembra a do lendário canadense Jon Vickers.
O grupo saiu-se bem. Contudo, na longa coda, os trechos em cânone poderiam aparecer mais, sobretudo nas vozes internas.
O maestro espanhol Rafael Frühbeck de Burgos regeu como se cuidasse da música: sonoridade um pouco escura das cordas no primeiro movimento -que emula a afinação da orquestra- e controle de dinâmica no segundo, com a obsessiva nota fá soando dos tímpanos tocados por Ricardo Bologna.
Do ponto de vista da orquestra, o momento de maior interação e amálgama foi o terceiro movimento, no qual afetos e cores pareciam nascer e se impor a partir dos movimentos de arco do spalla Emmanuele Baldini.
Antes de Beethoven, porém, pelo segundo ano consecutivo, a temporada abriu com a estreia de uma obra encomendada, aqui a "Fanfarra sobre Motivo do Hino Nacional Brasileiro", de Edino Krieger, catarinense radicado no Rio que completava 83 anos no dia do concerto.
Escrita apenas para metais e percussão, a peça permite que, ao final, os intervalos do nosso hino sejam superpostos -sem ironia- ao tema da "Ode à Alegria". Mais do que antecipação da "Nona Sinfonia", Krieger redireciona o humanismo, como se o "beijo para o mundo todo", dos versos de Schiller, pudesse também partir do Brasil.



DE BURGOS REGE 9ª DE BEETHOVEN
QUANDO amanhã, às 17h
ONDE Sala São Paulo (pça. Julio Prestes, 16, tel. 4003-1212)
QUANTO de R$ 24 a R$ 135
CLASSIFICAÇÃO 7 anos
AVALIAÇÃO ótimo



Texto Anterior: Artistas boicotam novo Guggenheim em Abu Dhabi
Próximo Texto: Grátis: Orquestra faz concerto no parque
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.