São Paulo, sábado, 19 de março de 2011

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Vida de jornalista inspira retrato da Rússia

Marina Goldovskaya estreia no É Tudo Verdade filme sobre repórter em que a história recente serve como pano de fundo

Diretora homenageada na mostra acompanhou Anna Politkovskaya, assassinada em 2006, por quase 20 anos

MARINA DARMAROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Foi quase ao acaso que Marina Goldovskaya, cineasta russa homenageada pelo festival É Tudo Verdade deste ano, começou a filmar o dia a dia de Anna Politkovskaya, a jornalista mais conhecida da Rússia.
Rodando o documentário "Um Gosto de Liberdade" (1991), sobre as mudanças na União Soviética, Goldovskaya resolveu retratar três famílias que refletiam aquelas transformações.
Uma delas era a de Aleksandr Politkovsky, seu aluno e marido da então estudante de jornalismo Politkovskaya, assassinada em 2006. Assim, deu início a um arquivo de imagens que cobre quase 20 anos de sua vida pessoal.
"O Gosto Amargo da Liberdade", que terá estreia mundial no festival brasileiro, traça um panorama da história da jovem Federação Russa. Leia a seguir trechos da entrevista da diretora à Folha.

 

Folha - Como começou sua ligação com o É Tudo Verdade?
Marina Goldovskaya
- Conheci Amir Labaki no festival de Amsterdã há cerca de 15 anos. Ele viu "Casa da Rua Arbat" e amou. No primeiro ano de existência do festival, fui ao evento e voltei mais outras duas ou três vezes.

Seus filmes continuam muito russos, apesar de você morar nos EUA há anos...
Há 20 anos, fui lecionar na Universidade de San Diego e lá conheci meu marido. Acabei me tornando professora do da Universidade da Califórnia, mas continuei a ir à Rússia todo ano. Sinto que conheço a Rússia muito bem. Não apenas a conheço, sinto-a: é meu país.

Você já tinha feito um filme com Politkovskaya. Como é o novo longa?
Ela era só uma estudante de jornalismo e dona de casa quando comecei a filmá-la, não estava trabalhando porque os filhos eram muito pequenos, mas era uma pessoa incrível. Não sentia isso, mas meu filme tornava-se cada vez mais sobre ela.
Ainda existe o sentimento de que ela era essa mulher de ferro, interessada apenas em guerras, viajando e lutando, mas conheci uma Politkovskaya completamente diferente. Era normal, carismática e muito afetuosa com seus amigos e filhos. Reportei esse lado dela mais que qualquer outra coisa.

Você acha que teve sorte de tê-la filmado tanto tempo, de ter escolhido seu marido e não outro estudante quando fez o primeiro filme sobre Politkovskaya?
Fui muito sortuda, sim. Ninguém poderia adivinhar o que viria, mas, então, quando aconteceu, seus filhos me telefonaram perguntando se eu faria um novo filme sobre ela. Precisava de tempo para me restabelecer, porque estava devastada, e posterguei por alguns anos.

Você está feliz por não estar lá em tempos como estes?
Não, ainda volto o tempo todo. É excitante passar por uma série de mudanças, e nem todo mundo vive um período tão interessante na vida. Claro que não é bom para jornalistas, mas tentamos fazer nosso trabalho.
Meu filme também é sobre o que nós vivemos e o quanto a coragem, a decisão e a decência são importantes para um jornalista.

Você se sentiu ameaçada ou teve medo enquanto fazia as filmagens para o novo longa?
Não, nunca sinto medo quando estou em Moscou. Sou feliz de ainda poder ir à Rússia e espero poder continuar a fazê-lo por mais 30 anos, até estar completamente incapacitada.


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