São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 2002

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Ator é aluno "diferente"

DA ENVIADA A JOÃO PESSOA

Por conta das filmagens de "Abril Despedaçado", em 2000, Ravi Ramos Lacerda ausentou-se da escola João Régis Amorim por quase quatro meses. Na volta, pediu para ter as faltas abonadas e para ser submetido a provas.
Pedido negado, a reprovação na sexta série do ensino fundamental foi inevitável. "Acho que não acreditaram que eu estava fazendo o filme", diz Ravi, que era tido como aluno agitado e disperso pela maioria dos professores.
A coordenadora pedagógica Maria Silvany Ramalho diz que o ator tem "todo o apoio da escola", mesmo porque "é um prazer imenso que ele seja conhecido no Brasil e até no mundo". Este ano, Ravi tornou-se bolsista. Mas as faltas são "constrangedoras" e "ruins para o rendimento", segundo a coordenadora. "A gente quer que ele faça lá, mas que corresponda cá", diz.
Entre seus professores, Luís Mangueira Peixoto, 38, que leciona geografia, é o que tem mais aproximação com Ravi.
"Existe um problema em educação que é o seguinte: quando um aluno dá um pouquinho de trabalho, tem muita energia, a gente o escanteia. Procuro fazer o contrário. Esses alunos estão precisando da gente."
"Sempre achei Ravi um pouquinho diferente. Noto que, quando falo algo importante sobre os problemas sociais do nosso país, ele compreende. Os alunos que tiram nove e dez nem sempre compreendem o que eu digo", afirma.
Contrariando a vontade de Ravi, o professor Peixoto leu para a classe o jornal que citava a participação do ator no Festival de Veneza. "Disse a ele que realmente não é hora de se orgulhar de nada ainda, mas é hora de conhecerem o trabalho dele, para aprenderem a respeitá-lo", diz o professor.
Na última terça, Ravi fez provas bimestrais de português. "Acho que tirei nove", arrisca. A coordenadora Ramalho estava ansiosa pelos resultados. Trabalhando no lançamento do filme, Ravi recomeçou a faltar. "Queremos acompanhar seu rendimento desde o começo", diz a professora. (SA)


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