São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 2002

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CINEMA/ESTRÉIA

"CHARLOTTE GRAY"

Jovem (Cate Blanchett) busca o paradeiro do namorado

Narrativa expõe história de amor durante a barbárie

MARCELO STAROBINAS
DE LONDRES

A Segunda Guerra Mundial parece ser mesmo uma inesgotável fonte de inspiração para o cinema. Por mais que já se tenha retratado as distintas faces da barbárie, há sempre um novo aspecto, com novos heróis e vilões, para explorar a partir desse conflito que foi um divisor de águas na história do século 20.
A brutalidade dos nazistas e de seus aliados volta às telas com "Charlotte Gray". Desta vez são os franceses dos anos 40 que estão sob os holofotes: a trama se de- senrola quase toda na França sob comando do regime colaboracionista de Vichy.
Charlotte Gray (Cate Blanchett) é uma jovem escocesa arrastada para o centro dos esforços de guerra da inteligência britânica por razões passionais. Seu namorado, piloto da Royal Air Force, é abatido em combate na França. Seu corpo não é encontrado.
Charlotte, que por ter vivido em Paris fala francês com fluência, só vê uma maneira de rever seu grande amor: aceitar o convite para uma missão de apoio à resistência na França sob ocupação alemã. Entre uma operação e outra, ela leva adiante a busca por informações sobre o paradeiro de seu piloto desaparecido.
"Gosto do altruísmo de Charlotte Gray, do fato de ir à França ajudar nos esforços de guerra", disse a atriz australiana Cate Blanchett, em encontro com jornalistas do qual a Folha participou. "Mas ela também resolve ir para curar os vazios que há dentro dela."
Blanchett, que concorreu ao Oscar de melhor atriz por "Elizabeth" (atuação que lhe rendeu um Globo de Ouro), disse ter se apaixonado pelo papel já nas primeiras páginas do script, uma adaptação do romance de Sebastian Faulks. "O que eu amo em Charlotte é que ela é cheia de falhas. No começo do filme, tem um claro sentido do certo e do errado. Isso lhe dá um ar de ingenuidade."
Lançada de pára-quedas sobre um vilarejo da zona rural francesa, a agente secreta britânica vive a dura realidade da guerra. Como pano de fundo histórico, a co-produção britânico-australiana retrata o drama dos judeus, que se escondiam das autoridades francesas para não serem deportados aos campos de extermínio nazistas. Apresenta também as dificuldades dos grupos de resistência num confronto com um inimigo mais forte (os soldados alemães e seus comparsas franceses).
Acertadamente, porém, "Charlotte Gray" não pretende ser um compêndio histórico cinematográfico sobre a Segunda Guerra. Conta uma história de amor num momento de barbárie. "Charlotte Gray lida com a face humana da guerra, não tem uma pretensão de falar dos grandes aspectos políticos do conflito", diz Blanchett.
Apesar de ter se tornado um dos grande nomes da nova geração do cinema, Blanchett -presente em outros lançamentos recentes como "Vida Bandida", "The Shipping News" (ainda sem título em português) e "Senhor dos Anéis"- diz não se importar com os prêmios. "Vejo "Charlotte Gray" como um grande filme. Não importa se vai receber prêmios ou não. Não vejo os prêmios como medida do sucesso de um filme."
O longa, dirigido por Gillian Armstrong, que revelou Blanchett para grandes audiências em "Oscar e Lucinda", traz também belas imagens de vilarejos franceses. "Encontrar o local certo do vilarejo é sempre uma parte crucial da história -você precisa da atmosfera certa para reforçar a narrativa", disse a diretora.


CHARLOTTE GRAY - UMA PAIXÃO SEM FRONTEIRAS. Charlotte Gray. Direção: Gillian Armstrong. Produção: Alemanha/Reino Unido/Austrália, 2001. Com: Cate Blanchett, Billy Crudup. Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Center Iguatemi, Unibanco Arteplex, Jardim Sul, Market Place Cinemark e SP Market.



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