|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BIENAL DO LIVRO
Lançamentos infantis chegam com enredos previsíveis; exceções ficam com publicações sem impacto
Sem critério, editoras repetem fórmulas
MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
EDITORA DA FOLHINHA
KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO
Em 2002, mais de 339 milhões
de livros estiveram em exposição
na Bienal. Cerca de 23% deles
eram títulos infanto-juvenis. O
cenário atual ainda não está
quantificado, mas deve mudar
pouco nesta 18ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que
começou na última quinta. Mas
um mar dessas letras poderia ficar
fora da estante.
O exame dos títulos mostra que
a Bienal existe para ilustrar o cenário pouco rigoroso do mercado
brasileiro destinado a crianças e
jovens, que produz incansavelmente, mas quase às cegas, imitando modismos internacionais.
Depois do sucesso dos livros de
Harry Potter, que já venderam no
Brasil cerca de 1,5 milhão de
exemplares, segundo a editora
Rocco, a maioria das publicações
tenta repetir o fenômeno. É o caso
de "Artemis Fowl" (ed. Record),
do best-seller internacional Eoin
Colfer, que vem dar autógrafos.
Apesar de previsível, do ponto
de vista estilístico, o irlandês já
vendeu mais de 350 mil exemplares e recebeu convite de Hollywood. O enredo trata de um gênio
infantil do crime. Na mesma onda, "A Menina da Sexta Lua" (ed.
Best Seller), da italiana Roberta
Rizzo, narra as aventuras de uma
garota com "sabedoria ancestral"
que precisa esclarecer mistérios.
Monstros, dragões e piratas povoam enredos previsíveis, como
"Coleção Histórias do Dragão",
iniciada nos EUA em 1948, por
Ruth Stiles Gannett (ed. Salamandra). Ou ainda "As Chamas do Inferno", da série "Brigada dos Espectros", de Alain Venisse (ed.
Arxjovem). Os personagens exterminam espíritos e enfrentam
incêndios misteriosos.
Policiais futuristas -com assassinatos, roubos e tramas nos
computadores- acrescentam
pouco ao repertório do público
infanto-juvenil, como "O Segredo
da Invisibilidade", de Edison Rodrigues Filho (Melhoramentos).
As editoras não selecionam o
que é considerado alta literatura,
apesar de suas boas intenções
-por exemplo, "Contos Fantásticos das Trigêmeas", da Scipione,
com "Cinderela", "João e Maria"
e "Chapeuzinho Vermelho", entre outros, que faz clássicos conviverem com personagens infantilizados para facilitar as vendas.
Quer mais? Experimente "O Livro das Encrencas", de Rosana
Rios (Ática), ou "Jiló -°Um Garoto
em Perigo", de Márcio Poletto
(Melhoramentos), para conferir
se todos eles não falam dos mesmos assuntos: enrascadas, tráfico
de drogas e seqüestros.
"O Gênio e As Rosas e Outros
Contos", de Paulo Coelho, com
ilustrações de Mauricio de Sousa
-lançamento da ed. Globo-,
certamente liderará vendas, mas
sem a consistência desejável.
Em contraposição às novidades
efêmeras, a Nova Fronteira lança
volumes significativos: a coletânea de poemas de Ana Cristina
Cesar (1952-1983) e seleções de escritos de Lima Barreto (1881-1922) e de João Ubaldo Ribeiro,
na coleção "Novas Seletas". Pode
ser útil conhecer a antologia "De
Primeira Viagem", da Cia. das Letras, que traz oito contos, de Ana
Miranda e Milton Hatoum, entre
outros, sobre primeiras experiências com sexo e amor.
Entre as publicações para crianças com até 12 anos, chamam a
atenção o poema "Esquisita como
Eu", de Martha Medeiros (ed.
Projeto), que estréia no infantil, e
"Um Sonho para Todas as Noites", de Lisa Bresner (Cia. das Letrinhas), que ensina às crianças a
escrita chinesa por meio da construção de uma espécie de carta.
Texto Anterior: Photek mostra o drum'n'bass "paranóico" Próximo Texto: Televisão: Cultura implanta hoje "parlamentarismo" Índice
|