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TELEVISÃO
Em acordo pela disputa do comando da TV, conselho vota mudanças em estatuto que lhe darão mais poderes
Cultura implanta hoje "parlamentarismo"
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
O conselho curador da Fundação Padre Anchieta (FPA, mantenedora da TV Cultura) votará hoje mudanças no estatuto da instituição que darão mais poder ao
próprio conselho. "É uma mudança que instrumentaliza o poder do conselho. É um certo parlamentarismo", define Jorge da
Cunha Lima, atual presidente
executivo da fundação.
Pelo estatuto da FPA, o conselho curador, formado por 46 conselheiros, é responsável pela gestão da TV Cultura junto com a diretoria executiva, que inclui o presidente executivo e o diretor superintendente.
O conselho, que se reúne uma
vez por mês, é um órgão deliberativo, e o seu representante máximo, o presidente da mesa do conselho curador, pode até contratar
auditorias para fiscalizar a diretoria executiva.
Mas, na realidade, o conselho
tem tido apenas o papel de fórum
de discussões e ratificador de decisões da diretoria executiva. Com
as mudanças de hoje, isso deve
mudar um pouco.
As mudanças darão maiores
atribuições ao presidente do conselho curador. Ele passará a representar a fundação em organismos nacionais e internacionais,
como as associações de TVs públicas do país e estrangeiras.
O presidente do conselho também irá presidir uma comissão de
programação estratégica, formada pelos presidentes de outras três
comissões de conselheiros (a de
finanças, a de marketing e receitas
e a de tecnologia).
O cargo de presidente do conselho será "profissionalizado", segundo Cunha Lima, e as deliberações do conselho serão "acompanhadas no dia-a-dia". O cargo poderá passar a ser remunerado.
Essas mudanças são a base de
um acordo entre Jorge da Cunha
Lima e Marcos Mendonça, ex-secretário de Estado da Cultura.
Presidente executivo da FPA desde 1995, Lima era candidato ao
quarto mandato (de três anos).
Mendonça, que tem o apoio do
governo do Estado, principal fonte de receitas da FPA, entrou na
disputa.
Na última segunda-feira, data limite para a inscrição de candidaturas, Mendonça não registrou a
sua. Assim, abriu caminho para
uma "composição" com Lima,
que retirou sua candidatura na última quinta.
As eleições, que seriam hoje, foram adiadas para 10 de maio.
Mendonça deve ser o candidato
único a presidente executivo, e
Cunha Lima, ao revigorado cargo
de presidente do conselho.
Lima diz que viu na negociação
com Mendonça "a grande oportunidade de fortalecer o poder deliberativo e de fiscalização do conselho curador".
O atual presidente da Cultura
afirma ter convicção de que venceria o confronto com Mendonça,
mas a disputa, inédita nos quase
35 anos da FPA, não seria boa para a instituição. "Tinha convicção
de que as eleições estavam ganhas
por mim. Então podia pensar
mais nos interesses da instituição
do que em mim", afirma.
Ele diz que não sofreu pressões
do governador do Estado, Geraldo Alckmin. "O governador não
me pressionou. Tenho informações de que ele não se envolveu
pessoalmente nessa disputa. Ao
mesmo tempo, tenho o sentimento de que uma disputa eleitoral
propicia pressões. É evidente que
meus eleitores sofreram pressões,
mais ou menos fortes", afirma.
A pressão de Mendonça sobre
os conselheiros eleitores de Lima,
segundo o atual presidente, só teria mudado dois votos.
Cunha Lima diz que não desistiu da reeleição por temer eventual boicote do governo estadual,
pelo corte de verbas. "Não é da índole do Geraldo [Alckmin] me asfixiar se eu ganhasse as eleições. A
TV Cultura é do Estado."
Chuteiras
Cunha Lima é ambíguo quando
questionado se a "Era Cunha Lima" na TV Cultura acaba em 12
de junho, quando termina seu
mandato. "Não encerrei minha
carreira. Não é a era que me envolve, é a aura."
O presidente da Cultura refuta
as acusações de que sua gestão foi
malsucedida. Foi na "Era Cunha
Lima" que a Cultura teve suas
maiores audiências, com reprises
de "Castelo Rá-Tim-Bum", em
1996. "Castelo", aliás, admite Lima, é a marca de seu antecessor,
Roberto Muylaert. A principal
marca de Lima, segundo o próprio, é o jornalismo público.
Mas foi na gestão de Lima que a
Cultura mergulhou em profunda
crise financeira, que ele atribui à
crise do Estado.
A saída, para compensar os cortes de verbas públicas, foi abrir a
programação da TV para a publicidade comercial.
Neste ano, a Cultura prevê arrecadar R$ 38,4 milhões de "receitas
próprias" (que incluem prestação
de serviços, convênios, leis de incentivos fiscais e publicidade). O
Estado prevê injetar R$ 80,8 milhões, mas R$ 8 milhões estão
contingenciados (bloqueados).
As despesas somarão R$ 124,4
milhões, R$ 5 milhões a mais do
que as receitas. Isso contando os
R$ 8 milhões contingenciados.
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