São Paulo, sábado, 19 de abril de 2008

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Público do filme nacional despenca no trimestre

Queda de 24% em 2008 em relação a igual período de 2007 preocupa mercado

Falta do "filme-família" seria explicação para o resultado negativo; sucesso isolado, "Meu Nome Não É Johnny" atraiu distintas gerações


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O público do filme estrangeiro no Brasil teve um pequeno crescimento (1,5%) e o dos títulos nacionais diminuiu consideravalmente (24%) no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2007.
Os índices, divulgados nesta semana pelo portal especializado em mercado de cinema Filme B, atestam que o período registrou um sucesso isolado entre as dez estréias nacionais.
"Meu Nome Não é Johnny", de Mauro Lima, sobre a trajetória real de um garoto da zona sul carioca que torna-se consumidor e traficante de drogas, teve dois milhões dos totais 2,9 milhões de espectadores obtidos pela safra brasileira.
"Do garoto de 14 anos que o pai levou ao cinema até o avô de 70, o filme conseguiu uma comunicação com as diversas gerações. Isso explica muito o sucesso que ele teve", diz a produtora do longa, Mariza Leão.

"Filme-família"
A ausência de mais títulos com o perfil de "filme-família" no período de férias escolares é apontada pelo distribuidor Rodrigo Saturnino (Columbia/ Disney) como determinante para a queda de público.
Saturnino emplacou o sucesso "Meu Nome Não É Johnny" e amargou o fraco resultado de "Polaróides Urbanas", de Miguel Falabella, que acumula 77 mil espectadores. "O público não gostou do filme. Não aconteceu. Paciência", diz.
Mas "talvez a grande novidade, a surpresa" para o distribuidor esteja na seara da produção infantil, com o fiasco de "Xuxa em Sonho de Menina", de Rudi Lagemann, cujos 321 mil espectadores são anêmicos diante das pretensões de seu lançamento, com 220 cópias, número superior às 170 de "Meu Nome Não É Johnny".
A Warner, responsável pelo lançamento de "Xuxa", não comentou o resultado.
A bilheteria negativa do primeiro trimestre não é o aspecto que mais preocupa os profissionais desse mercado, mas sim a perspectiva de que a tendência se mantenha ao longo do ano.
"Olhando as perspectivas de lançamento até o fim do ano, você não vê outro filme que possa ter o mesmo sucesso de público de "Meu Nome Não É Johnny", o que anunciaria uma estagnação da indústria", afirma Marcelo Bertini, presidente da rede Cinemark.
Jorge Peregrino, executivo da Paramount, que lançou o líder de bilheteria nacional em 2007 ("Tropa de Elite") diz que, embora "a produção estrangeira esteja muito forte neste ano, se não houver uma surpresa do lado brasileiro, o mercado não vai crescer".
Marcelo Mendes, distribuidor e exibidor do grupo Estação, tem "expectativa negativa" porque considera evidente que o público encolheu. "Basta comparar "Tropa" e "Johnny", que foram os maiores sucessos [de 2007 e 2008, até aqui] e estão na faixa de 2 milhões de espectadores. Ambos fariam muito mais em outras épocas."
O que está em questão, para Mendes, não é só o resultado do filme brasileiro, mas "o modelo de exibição de cinema, que é o mesmo há praticamente cem anos e precisará ser revisto num momento em que as pessoas têm cinema em casa e medo de sair à rua".
A atriz Bruna Lombardi notou "o tremendo aperto de cinemas" do país ao lançar, em janeiro, "O Signo da Cidade" (36 mil espectadores em sete semanas), que ela roteirizou e Carlos Alberto Riccelli dirigiu. "São muito poucas salas e uma quantidade enorme de filmes, contando com os da indústria americana. A rotatividade acaba tendo que ser insana", diz.
O exibidor Adhemar Oliveira (Espaço Unibanco/Unibanco Arteplex) afirma que "não adianta reclamar da exibição, porque o espaço pedido foi dado" e acha que, para achar a raiz desse problema, "só indo ao psicoterapeuta".


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