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Público do filme nacional despenca no trimestre
Queda de 24% em 2008 em relação a igual período de 2007 preocupa mercado
Falta do "filme-família" seria explicação para o resultado negativo; sucesso isolado, "Meu Nome Não É Johnny" atraiu distintas gerações
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O público do filme estrangeiro no Brasil teve um pequeno
crescimento (1,5%) e o dos títulos nacionais diminuiu consideravalmente (24%) no primeiro trimestre deste ano, em
relação ao mesmo período de
2007.
Os índices, divulgados nesta
semana pelo portal especializado em mercado de cinema Filme B, atestam que o período registrou um sucesso isolado entre as dez estréias nacionais.
"Meu Nome Não é Johnny",
de Mauro Lima, sobre a trajetória real de um garoto da zona
sul carioca que torna-se consumidor e traficante de drogas,
teve dois milhões dos totais 2,9
milhões de espectadores obtidos pela safra brasileira.
"Do garoto de 14 anos que o
pai levou ao cinema até o avô de
70, o filme conseguiu uma comunicação com as diversas gerações. Isso explica muito o sucesso que ele teve", diz a produtora do longa, Mariza Leão.
"Filme-família"
A ausência de mais títulos
com o perfil de "filme-família"
no período de férias escolares é
apontada pelo distribuidor Rodrigo Saturnino (Columbia/
Disney) como determinante
para a queda de público.
Saturnino emplacou o sucesso "Meu Nome Não É Johnny"
e amargou o fraco resultado de
"Polaróides Urbanas", de Miguel Falabella, que acumula 77
mil espectadores. "O público
não gostou do filme. Não aconteceu. Paciência", diz.
Mas "talvez a grande novidade, a surpresa" para o distribuidor esteja na seara da produção
infantil, com o fiasco de "Xuxa
em Sonho de Menina", de Rudi
Lagemann, cujos 321 mil espectadores são anêmicos diante
das pretensões de seu lançamento, com 220 cópias, número superior às 170 de "Meu Nome Não É Johnny".
A Warner, responsável pelo
lançamento de "Xuxa", não comentou o resultado.
A bilheteria negativa do primeiro trimestre não é o aspecto
que mais preocupa os profissionais desse mercado, mas sim a
perspectiva de que a tendência
se mantenha ao longo do ano.
"Olhando as perspectivas de
lançamento até o fim do ano,
você não vê outro filme que
possa ter o mesmo sucesso de
público de "Meu Nome Não É
Johnny", o que anunciaria uma
estagnação da indústria", afirma Marcelo Bertini, presidente
da rede Cinemark.
Jorge Peregrino, executivo
da Paramount, que lançou o líder de bilheteria nacional em
2007 ("Tropa de Elite") diz que,
embora "a produção estrangeira esteja muito forte neste ano,
se não houver uma surpresa do
lado brasileiro, o mercado não
vai crescer".
Marcelo Mendes, distribuidor e exibidor do grupo Estação, tem "expectativa negativa"
porque considera evidente que
o público encolheu. "Basta
comparar "Tropa" e "Johnny",
que foram os maiores sucessos
[de 2007 e 2008, até aqui] e estão na faixa de 2 milhões de espectadores. Ambos fariam muito mais em outras épocas."
O que está em questão, para
Mendes, não é só o resultado do
filme brasileiro, mas "o modelo
de exibição de cinema, que é o
mesmo há praticamente cem
anos e precisará ser revisto
num momento em que as pessoas têm cinema em casa e medo de sair à rua".
A atriz Bruna Lombardi notou "o tremendo aperto de cinemas" do país ao lançar, em
janeiro, "O Signo da Cidade"
(36 mil espectadores em sete
semanas), que ela roteirizou e
Carlos Alberto Riccelli dirigiu.
"São muito poucas salas e uma
quantidade enorme de filmes,
contando com os da indústria
americana. A rotatividade acaba tendo que ser insana", diz.
O exibidor Adhemar Oliveira
(Espaço Unibanco/Unibanco
Arteplex) afirma que "não
adianta reclamar da exibição,
porque o espaço pedido foi dado" e acha que, para achar a raiz
desse problema, "só indo ao
psicoterapeuta".
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