São Paulo, segunda-feira, 19 de abril de 2010

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Crítica/CD/"Vol. 2"

Intensa e irônica, Andreia Dias canta a crônica do amor louco

Ao adotar o rock, cantora brinca com os clichês e constrói fascinante personagem que se entrega, sem vergonha, à paixão

BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Qual é a mulher realmente forte? A blasé, que se faz de fatal, inatingível para meros mortais, ou aquela que não esconde sentimentos, olha no olho do ser amado e declara o amor?
A antidiva Andreia Dias segue o segundo modelo. Em "Vol. 2", ela expõe fraturas, dá vexames e canta com propriedade de quem conhece bem o mais fundo dos poços. Esse personagem, seja real ou ficcional, construído em versos sagazes, faz de "Vol. 2" um disco conceitual sobre a crônica de um amor louco.
Poderia tudo descambar para a caricatura, para o brega-chique, mas Andreia encontra o tom certo. A ironia não engraçadinha é o segredo, por exemplo, da roqueira "Noites": "Noites que passei em branco/sonhando com você/.../esperando o amanhecer/que novela mexicana é esta vida sem você". Trompete e trombone conferem um tom mariachi à música.
Andreia sabe que essa coisa de cantar sobre sentimentos é cheia de clichês, e por isso manipula-os com habilidade.
Em "Nós Dois", que lembra o psicodélico Cidadão Instigado lembrando Roberto Carlos, ela brinca com as rimas: "Pra nós dois, o esquema é mais complexo/ muito amor, bastante....dai-nos feijão com arroz". Em "Joia Rara", subverte o Rei: "Quero estar sempre ao seu lado/ também por cima e por baixo/.../ mando tudo pro inferno/ te aqueço neste inverno/quero ser seu edredon".
Mas, aqui, não há nenhum sentimento de culpa.


VOL. 2

Artista: Andreia Dias
Lançamento: em maio pela Scubidu Records; preço não definido
Avaliação: bom




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