|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Escritor desce do Olimpo
DA REPORTAGEM LOCAL
Puxado pelas mãos apaixonadas e ao mesmo tempo decepcionadas do cubano Leonardo
Padura Fuentes, Ernest Hemingway desce do Olimpo da literatura
para se misturar a nós, mortais,
em "Adeus Hemingway".
Não é o ícone de toda uma geração de escritores que se vê aí; é um
homem no final da vida, à beira
do colapso, despedaçado pelo
próprio mito. Irá se matar logo, isso sabemos. Poderá ter matado, e
isso ainda não sabemos.
O Hemingway de Padura é, para
usar um desses pejorativos tão ao
gosto dos norte-americanos, um
"loser" (perdedor). Viveu incríveis aventuras, teve muitas mulheres, caçou feras na África, escreveu livros geniais -por que
um homem como esse poderia se
considerar um perdedor?
Porque, imagina o detetive Mario Conde, vivia "à sombra de
uma fama equivocada e fútil, mais
apropriada a uma vedete da violência em eterno safári do que a
um homem dedicado a lutar contra um inimigo tão obstinado e
imune às balas como são as palavras". Resumindo: um "loser".
O detetive Conde, afastado da
polícia havia já oito anos, é convocado para o caso pelo investigador Manuel Palacios, seu amigo
Manolo, porque este conhecia seu
interesse pelo escritor norte-americano, que viveu em Cuba largas
temporadas entre os anos 30 e 50.
No quintal do sítio Vigía, onde
Hemingway morava e hoje transformado em museu, havia aparecido um cadáver. Perto dele, um
distintivo do FBI. Como o escritor
estava sendo investigado pelo governo de seu país naquela época, a
suspeita parece óbvia. Resta a
Conde esclarecer se o escritor que
caçava era capaz de matar também humanos.
É tudo ficção, mas Padura
Fuentes aproveita para contrabalançar, em relatos paralelos
-um, de Conde; outro, de Hemingway-, os argumentos favoráveis e contrários ao autor norte-americano, Nobel de 1954. A seu
favor, relatos e romances ainda
hoje apaixonantes; contra, acessos de mau-caratismo que o fizeram tripudiar de grandes amigos.
No final, duas conclusões: Hemingway é genial, e o livro, também. Particularmente divertida é
a história da calcinha preta de Ava
Gardner envolvendo uma pistola
do velho "Papa", ou a estupefação
que causa no escritor a narrativa
de J.D. Salinger, o autor de "O
Apanhador no Campo de Centeio": uma "novela absurda e disparatada", resmunga.
(CYNARA MENEZES)
Adeus Hemingway
Autor: Leonardo Padura Fuentes
Tradutora: Lúcia Maria Goulart Jahn
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 21 (178 págs.)
Texto Anterior: Autor "vinga-se" de Hemingway Próximo Texto: Música: Joey Ramone, 50 hoje, move festas em SP Índice
|