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Rompendo a inércia
Maior expoente do trip hop, dupla Massive Attack realiza dois shows em São Paulo após "efeito Kraftwerk"
Grupo comenta a produtividade "bissexta" dos artistas do gênero, fala sobre guerra e ironiza Portishead
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THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Sem o "efeito Kraftwerk", a ciclovia está pavimentada e livre
para os homens-máquina do
Massive Attack e seu sombrio
mundo de computadores.
"Teardrop", "Inertia Creeps",
"Butterfly Caught" e "Unfinished
Simpathy" serão ouvidas em São
Paulo nas próximas segunda e
terça-feira, no Via Funchal, na segunda aparição do (antes trio)
duo de Bristol, o maior expoente
do chamado trip hop -aquela
música eletrônica mais lenta, soturna, que bebe muito do hip hop.
Há seis anos o Massive Attack
passou pelo Brasil, mas os shows
do grupo no Free Jazz foram completamente eclipsados pela -para muitos- já lendária performance dos alemães do Kraftwerk.
Os discos e a história do Massive
Attack -hoje uma dupla: Robert
"3D" del Naja e Grant "Daddy G"
Marshall- estão em quadro nesta página. A seguir, a entrevista
que Daddy G concedeu à Folha,
por telefone, da Inglaterra.
Folha - Vocês já estiveram no Brasil há seis anos, naqueles shows
com o Kraftwerk. Gostaram?
Daddy G - Já faz seis anos? Bem,
foi um show memorável. Nós
sempre adoramos o Kraftwerk,
foi uma honra tocar com eles.
Lembro-me de ter jogado futebol
com uns brasileiros numa praia
do Rio. E nós ganhamos deles.
Folha - O trip hop não parece ser a
música mais apropriada para um
país ensolarado como o Brasil...
Daddy G - Para ser sincero, nossa
música não é trip hop, é um estilo
próprio. Nossa música não é para
climas sombrios ou ensolarados.
É música para ser ouvida agora.
Folha - E como você chamaria a
música do Massive Attack?
Daddy G - Não sei. Não dá para
nos rotular. Claro, quando nós
aparecemos, nosso som era lento,
"downtempo", e a música que era
feita na época era completamente
"uptempo". Mas nunca nos associamos a apenas um estilo.
Folha - Você considera o Massive
Attack música eletrônica?
Daddy G - Originalmente foi como começamos, música feita eletronicamente num estúdio. Mas
desde que nos apresentamos ao
vivo, tentamos nos metamorfosear numa banda de shows.
Folha - Como serão os shows? Vão
trazer uma banda completa?
Daddy G - Sim, será mais ou menos como da outra vez. Teremos
[o cantor reggae] Horace Andy.
Na nossa última tour, Sinead
[O'Connor] participou conosco.
Desta vez Sinead não irá, pois parece que ela não quer mais fazer
shows. Então levaremos [a cantora escocesa] Dot Allison. Ela ficará
com os vocais de Sinead. Até fizemos uma nova canção com ela.
Folha - Você não participou de
"100th Window". O que aconteceu? Você gostou do disco?
Daddy G - Minha mulher estava
tendo bebê (e ela está tendo um
segundo, vai nascer em setembro...). Eu queria umas folgas, estar com minha família. Mas 3D ficou com as rédeas do cavalo, e
acho que ele o levou pelo caminho
certo. Não é que necessariamente
eu fosse ter essas idéias. Foi como
3D achava que teria que soar um
álbum do Massive Attack.
Folha - O Massive Attack foi um
trio e agora é uma dupla, sendo
que o último disco foi produzido
por apenas um de vocês. Algumas
pessoas dizem que a banda não é
mais tão forte como costumava ser.
O que você diz para essas pessoas?
Daddy G - Eu digo: estou de volta! Tudo será salvo! Não somos os
Três Mosqueteiros. Provavelmente não deveria dizer isso, mas
acho que os Três Mosqueteiros
poderiam lutar tão bem quanto se
fossem apenas dois. Talvez não
tão bem se fosse apenas um...
Não sei, acho que ainda somos
fortes e que ainda temos muito a
oferecer. As coisas mudam e, talvez, algumas pessoas não estejam
preparadas para mudanças. No
próximo álbum, vamos mudar de
direção, e as pessoas não vão saber para onde iremos, mas ficará a
cargo delas nos acompanhar. Isso
acontece com várias bandas: o
público quer sempre ouvir o mesmo método, não aceita mudanças. E muitas bandas perderam
fãs por causa disso.
Folha - Vários grupos de trip hop
não estão mais lançando discos. Há
alguma crise ou coisa parecida?
Daddy G - Eles são preguiçosos!
Não tem a nada a ver com crise.
Mas nós não somos trip hop. As
pessoas normalmente te rotulam
de uma coisa que você não representa. Se você ouvir "100th Window", verá que não é trip hop, não
soa parecido com o primeiro disco. Mudamos nossa perspectiva.
Folha - Mas por que não vemos
mais álbuns de trip hop?
Daddy G - Porque a maioria das
bandas chamadas de trip hop não
faz mais esse som. Sabia que há
um CD do Portishead vindo aí?
Folha - É mesmo?
Daddy G - É. Deve ficar pronto
em uns dois anos [risos]... Mas esperamos lançar o próximo disco o
mais rápido possível, no começo
do ano que vem. Nem sei o que é
trip hop, ou bandas de trip hop.
Folha - O Massive Attack é um dos
artistas que têm voz contra a Guerra do Iraque e a política britânica.
Você acha que os artistas pop deveriam se pronunciar mais a respeito
desse tipo de assunto?
Daddy G - Acho que algumas
pessoas simplesmente não gostam de combinar política e música. Eu ainda me sinto um pouco
desconfortável em trazer essas
questões para a música. Às vezes
não é certo tentar passar suas convicções para outras pessoas, elas
podem não entender. Sobre a
guerra, tenho certeza de que muita gente pensa da mesma forma,
mas eles estão temerosos de dizer
isso. Mas acho que, quando pessoas inocentes estão morrendo,
não dá para subir no palco e fingir
que nada está acontecendo.
MASSIVE ATTACK. Onde: Via Funchal (r.
Funchal, 65, SP, tel. 0/xx/11/2163-2000).
Quando: dias 24 e 25, às 21h30. Quanto:
de R$ 80 a R$ 200.
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