São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 2005

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SHOW

Evento em São Paulo, Rio e Belo Horizonte faz mescla de novos astros, como Tommy Castro, e veteranos, como Magic Slim

Festival revive paixão do Brasil pelo blues

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REDAÇÃO

Uma tradição relativamente nova de culto a um ritmo muito antigo reaparece no Brasil de hoje a domingo. Iniciada com o Festival de Blues de Ribeirão Preto, em 1989, ela é retomada agora com o Blues Festival, que acontece em São Paulo, Rio e Belo Horizonte.
O culto ao ritmo negro desenvolvido no delta do Mississippi norte-americano tem fiéis e boa recepção por aqui, talvez por ser derivado da mesma herança musical africana de que compartilham Brasil e Estados Unidos. Ainda assim, apesar de alguns eventos esporádicos, o último grande festival do gênero foi o Nescafé in Blues, que teve três edições e acabou em 1996.
Para o evento que pretende retomar a tradição "blueseira" do país foram convidados 12 artistas (cinco brasileiros e sete estrangeiros) que estão distribuídos de modo desigual pelas três cidades onde acontece o evento (veja programação ao lado).
A lista de convidados pode ser dividida basicamente em duas partes: a "velha-guarda" e os "novos astros". Na primeira e mais numerosa, estão figuras como o guitarrista Eddie C. Campbell, 70, que já acompanhou lendas do ritmo como Howlin" Wolf e Muddy Waters. Na segunda, marcam presença artistas como o californiano Tommy Castro, guitarrista que reaproxima o blues de um de seus filhos, o rock.
Entre os veteranos, há aqueles que retornam ao país, como Morris Holt, 67, mais conhecido pela alcunha de Magic Slim. Holt se interessou pelo piano quando criança, mas foi forçado a abandoná-lo quando perdeu um dedo, ainda na infância. Partiu, então, para a guitarra, onde construiu uma carreira respeitável com seus irmãos, no grupo Teardrops.
Célebre por seu chapéu e seu extenso e imprevisível repertório, Holt é simples e direto na hora de definir seu show. "Gosto de me divertir, de tocar blues e de deixar as pessoas felizes. É isso o que vou fazer aí", resume. Desta vez, Magic Slim não vem acompanhado de seu irmão e baixista Nick, mas releva a ausência: "Não faz muita diferença. Meu atual baixista também é muito bom", diz.
Outra atração veterana e que retorna ao país é a cantora Sarah Streeter, mais conhecida como "Big Time" Sarah. Ela vem integrando o trio Chicago Blues Ladies (que se apresenta com o trio brasileiro Blue Jeans) com Nellie Travis, de cujo pai era amiga, e Grana Louise, que conheceu durante um espetáculo.
Questionada sobre sua carreira prematura, iniciada aos 14 anos, Sarah diz que não acha que o blues seja algo que demande maturidade do ouvinte ou do artista e aproveita para dar o sermão: "Seria bom se os jovens se interessassem pelo blues, pois aprenderiam mais sobre sua cultura e suas raízes do que ouvindo funk e rock, como fazem".
Outro estereótipo que a cantora renega é o da melancolia geralmente associada ao blues. "Pode esperar por mulheres "selvagens" no palco", previne Sarah. Advertida de que o requebrado feminino não é exatamente novidade na música brasileira, a cantora diz que vai oferecer mais do mesmo: "Vou balançar e fazer balançar os quadris e os peitos".
Juntando-se ao estilo "big momma" de Big Time Sarah está uma de suas parceiras de trio, Grana Louise. Bailarina na infância e cantora de jazz na adolescência, Louise promete, além dos requebrados anunciados por sua parceira, um repertório menos óbvio. "Não fazemos um show de hits. Cantamos muitas músicas obscuras ou que não são ouvidas há muito tempo", explica.
Defendendo, em cima do palco, a tradição do ritmo no Brasil estão conhecidos "bluesmen" da pátria como o cantor e guitarrista Big Joe Manfra e o gaitista Jefferson Gonçalves. Além deles, há o precursor Flávio Guimarães, gaitista e fundador do Blues Etílicos, que cuida das "after hours" dos shows de São Paulo, recebendo convidados como Vasco Faé (na sexta) e Ricardo Corte Real (no sábado).


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