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SHOW
Evento em São Paulo, Rio e Belo Horizonte faz mescla de novos astros, como Tommy Castro, e veteranos, como Magic Slim
Festival revive paixão do Brasil pelo blues
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REDAÇÃO
Uma tradição relativamente nova de culto a um ritmo muito antigo reaparece no Brasil de hoje a
domingo. Iniciada com o Festival
de Blues de Ribeirão Preto, em
1989, ela é retomada agora com o
Blues Festival, que acontece em
São Paulo, Rio e Belo Horizonte.
O culto ao ritmo negro desenvolvido no delta do Mississippi
norte-americano tem fiéis e boa
recepção por aqui, talvez por ser
derivado da mesma herança musical africana de que compartilham Brasil e Estados Unidos.
Ainda assim, apesar de alguns
eventos esporádicos, o último
grande festival do gênero foi o
Nescafé in Blues, que teve três edições e acabou em 1996.
Para o evento que pretende retomar a tradição "blueseira" do
país foram convidados 12 artistas
(cinco brasileiros e sete estrangeiros) que estão distribuídos de
modo desigual pelas três cidades
onde acontece o evento (veja programação ao lado).
A lista de convidados pode ser
dividida basicamente em duas
partes: a "velha-guarda" e os "novos astros". Na primeira e mais
numerosa, estão figuras como o
guitarrista Eddie C. Campbell, 70,
que já acompanhou lendas do ritmo como Howlin" Wolf e Muddy
Waters. Na segunda, marcam
presença artistas como o californiano Tommy Castro, guitarrista
que reaproxima o blues de um de
seus filhos, o rock.
Entre os veteranos, há aqueles
que retornam ao país, como Morris Holt, 67, mais conhecido pela
alcunha de Magic Slim. Holt se interessou pelo piano quando
criança, mas foi forçado a abandoná-lo quando perdeu um dedo,
ainda na infância. Partiu, então,
para a guitarra, onde construiu
uma carreira respeitável com seus
irmãos, no grupo Teardrops.
Célebre por seu chapéu e seu extenso e imprevisível repertório,
Holt é simples e direto na hora de
definir seu show. "Gosto de me
divertir, de tocar blues e de deixar
as pessoas felizes. É isso o que vou
fazer aí", resume. Desta vez, Magic Slim não vem acompanhado
de seu irmão e baixista Nick, mas
releva a ausência: "Não faz muita
diferença. Meu atual baixista também é muito bom", diz.
Outra atração veterana e que retorna ao país é a cantora Sarah
Streeter, mais conhecida como
"Big Time" Sarah. Ela vem integrando o trio Chicago Blues Ladies (que se apresenta com o trio
brasileiro Blue Jeans) com Nellie
Travis, de cujo pai era amiga, e
Grana Louise, que conheceu durante um espetáculo.
Questionada sobre sua carreira
prematura, iniciada aos 14 anos,
Sarah diz que não acha que o
blues seja algo que demande maturidade do ouvinte ou do artista
e aproveita para dar o sermão:
"Seria bom se os jovens se interessassem pelo blues, pois aprenderiam mais sobre sua cultura e suas
raízes do que ouvindo funk e
rock, como fazem".
Outro estereótipo que a cantora
renega é o da melancolia geralmente associada ao blues. "Pode
esperar por mulheres "selvagens"
no palco", previne Sarah. Advertida de que o requebrado feminino
não é exatamente novidade na
música brasileira, a cantora diz
que vai oferecer mais do mesmo:
"Vou balançar e fazer balançar os
quadris e os peitos".
Juntando-se ao estilo "big
momma" de Big Time Sarah está
uma de suas parceiras de trio,
Grana Louise. Bailarina na infância e cantora de jazz na adolescência, Louise promete, além dos requebrados anunciados por sua
parceira, um repertório menos
óbvio. "Não fazemos um show de
hits. Cantamos muitas músicas
obscuras ou que não são ouvidas
há muito tempo", explica.
Defendendo, em cima do palco,
a tradição do ritmo no Brasil estão
conhecidos "bluesmen" da pátria
como o cantor e guitarrista Big
Joe Manfra e o gaitista Jefferson
Gonçalves. Além deles, há o precursor Flávio Guimarães, gaitista
e fundador do Blues Etílicos, que
cuida das "after hours" dos shows
de São Paulo, recebendo convidados como Vasco Faé (na sexta) e
Ricardo Corte Real (no sábado).
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