São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMIDA

Bienal do Rio revela novas tendências dos livros de culinária

LEITURAS saborosas

CRISTIANE LEONEL
DA REDAÇÃO

O velho caderninho de receitas anda fora de moda. Mas, não, ele não deve ser jogado fora -suas páginas amareladas podem guardar aquelas receitas secretas de família. Os livros de culinária é que mudaram de status: saíram da cozinha para fazer companhia aos livros de arte, expostos na mesa da sala. Além disso, a literatura que antes servia apenas de apoio à dona-de-casa ganhou glamour e, principalmente, diversidade de assuntos, como se vê na 12ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, que acontece até o próximo domingo.
Livros escritos por personalidades internacionais da gastronomia, por exemplo, estão entre os destaques do evento carioca. A editora Globo lança "Jamie Oliver - Um Chef sem Segredos", tradução de "Naked Chef", em que o chef-apresentador-astro inglês tenta desmistificar receitas e ingredientes. O diferencial do livro está no fato de o chef fazer, antes de cada receita, um breve comentário -uma maneira de aproximar e incentivar o leitor-, como: "As cores deste prato são muito interessantes, e os mexilhões e o pesto funcionam surpreendentemente bem juntos, razão pela qual vale a pena tentar. E também porque é rápido de fazer". Além de revelar truques do chef, o livro reúne belas fotos, em especial as de "passo a passo", que facilitam a vida de qualquer cozinheiro.
Maria Cristina Fernandes, coordenadora editorial da editora Globo, afirma que a publicação do livro faz parte de um recente investimento na área de gastronomia. "Em 2003, a editora voltou a lançar livros de culinária depois de cerca de dez anos sem publicar nada. Agora temos lançado cerca de cinco livros por ano."
Outra editora que investiu num título assinado por um nome famoso foi a Ediouro, com "Ducasse de A a Z". O livro tem um caráter autobiográfico, pois traz, por meio das expressões organizadas em ordem alfabética, temas ligados à vida do chef francês Alain Ducasse, como "Nova York", "berinjela" e "[o chef] Paul Bocuse".
Também destaques da Bienal do Livro do Rio são os livros de culinária infantil -no Brasil, o gênero é uma novidade se comparado à Europa, onde já há publicações consagradas e antigas. "Brinque-Book com as Crianças na Cozinha", por exemplo, foi lançado em 1991, mas ganhou nova edição com ilustração em porcelana fria (com bonecos que parecem feitos de massinha) e informações nutricionais.
Gilda de Aquino, autora da obra, tem 70 anos e é formada em letras. Ela resolveu publicar as receitas depois da experiência com os netos, que gostavam de "invadir" sua cozinha.
"A cozinha é muito lúdica, e a culinária tem um caráter didático: aprende-se, por exemplo, matemática através da medidas", defende a autora. Além de ilustrações graciosas, o livro de Aquino traz regras para os mais arteiros. "As mães não gostam muito quando a criança prepara uma comida porque acham muito perigoso, mas no livro eu não coloquei nada que fosse ao fogo."

Comida saudável e saborosa
Numa terceira vertente, estão os títulos sobre cozinha saudável, mas que primam pelo sabor, como "Carne de Soja - 40 Receitas Gostosas e Saudáveis", de Irene Olkowski. A autora apresenta opções um pouco mais requintadas do que a batida receita de bolinho de carne de soja.
"As pessoas têm preconceito em relação à carne de soja, porque quase ninguém sabe prepará-la." "Carne de Soja..." não é um livro de dieta -muitas receitas levam queijos e massas-, mas reúne boas receitas para quem não come carne, como a "sojoada" (feijoada de soja). O livro, que peca por não incluir fotos dos pratos, tem preço mais acessível do que a maioria das publicações do gênero (custa R$ 27,80).
Outros títulos com preços mais acessíveis são as versões reduzidas de "Tomate" e "Feijão", dois primeiros volumes da coleção "Aromas e Sabores da Boa Lembrança", da jornalista Danusia Barbara. As novas versões, lançadas pela editora Senac Rio, perderam a maioria das fotos (belíssimas, aliás, feitas pelo italiano Sergio Pagano), e as que permaneceram estão em preto-e-branco, mas todas as receitas das edições originais permaneceram e o preço foi bastante reduzido (de R$ 75 para R$ 28).
A Bienal lança também versões em português de títulos recomendáveis, como "História da Cozinha Faraônica", que retrata a alimentação no Egito Antigo, "Tortas: Receitas Doces e Salgadas", com boa produção de fotos e receitas detalhadas, e o "40 Receitas sem Fogão", voltado ao público infantil. É literatura para todos os gostos -literalmente.


Texto Anterior: Show: Festival revive paixão do Brasil pelo blues
Próximo Texto: Francesa tem festival inspirado em seu livro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.