São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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CDS

MÚSICA

Em novo álbum, cantor jamaicano conjuga legado de reggae e hip hop

Damian Marley vai além da herança paterna famosa

ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Damian Marley tem 27 anos e cabelos enrolados em longos dreadlocks, cultivados sem corte desde os tempos de colégio. Costuma posar para fotos com um olhar desafiador e segurando um gordo baseado entre os dedos. Além das semelhanças físicas, sua voz soa bem parecida com a de Bob Marley e, assim como as dele, suas músicas versam sobre religião, assassinatos, pobreza e outras mazelas que afligem os jamaicanos. Para completar, adotou o codinome "Jr. Gong" -o de Bob era "Tuff Gong".
Com essas características, o filho caçula de Bob podia simplesmente seguir a cartilha pela qual rezaram seus irmãos e fazer discos de reggae à sombra do que seu pai foi um dia. Mas Damian sintetizou o que a música jamaicana tem de melhor, incluindo aí as raízes que espalhou pelos subúrbios de Nova York e que resultaram no hip hop, e fez um dos melhores álbuns de 2005, "Welcome to Jamrock", lançado agora no Brasil.
Esse é o terceiro trabalho do cantor, que ganhou o Grammy de melhor disco de reggae em 2001 com "Halfway Tree". Mas Damian só "bombou" mesmo com a faixa-título do novo CD, uma das dez músicas mais tocadas nos Estados Unidos no ano passado, e descrita pelo rapper Kanye West como a "canção do ano".
"Não esperava, mas sentia que isso poderia acontecer, porque trabalhamos duro no álbum", disse Damian Marley à Folha. Como nos anteriores, o irmão Stephen Marley ajudou na produção.

Estranho no ninho
Ao contrário de Stephen, Damian não faz parte do clã de Rita Marley, que inclui ainda Julian e Ziggy Marley. Ele é filho de Bob Marley com a Miss Universo Cindy Breakspeare e tinha apenas dois anos quando o pai morreu.
Por isso, diz que o que sabe sobre Bob veio da convivência com os irmãos e com Bunny Wailer, co-fundador dos Wailers -que abre seu disco discursando em "Confrontation".
Bunny não é o único veterano jamaicano que aparece em "Welcome to Jamrock". Estão lá também dois bambambãs do dancehall, Bounty Killer e Eek-a-Mouse, além de samples do grupo de ska Skatalites. "Cresci ouvindo reggae, dancehall, meu pai, Shabba Ranks, Supercat, e outros", lembra Damian. "Mas, na adolescência, comecei a escutar hip hop: Snoop Dogg, Tupac e KRSOne."
Ele também sampleou Bob Marley em "Move!", que traz trechos de "Exodus", e "Pimpa's Paradise", quase uma versão para "Pimper's Paradise". "Usei "Pimper's Paradise" por causa do que a música diz", explica Damian. "Falo sobre situações e temas que são familiares à minha geração na Jamaica, e a música trata de coisas relevantes aos jovens."
Sobre a responsa de ser um Marley, Damian minimiza: "Se faço o que faço, não é por causa do meu pai. Minhas influências passam longe das dele, como o dancehall, por exemplo".


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