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CRÍTICA/ SANDY E JUNIOR
Dupla amadurece sem profundidade
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Pra que que a gente tem
que se arriscar?", pergunta
Sandy em "Estranho Jeito de
Amar", primeira faixa do recém-lançado disco que leva o nome da
dupla com seu irmão, Junior.
Ela tem razão. Riscos trazem a
possibilidade de erros, em time
que está ganhando não se mexe,
ignorância é força. Mas há o preço
a se pagar. Sem riscos, não há mudanças, não há novidades, não há
nada além do que sempre houve.
No caso da dupla ex-adolescente, sempre sucesso de vendas
-mas hoje nem tanto quanto antigamente-, a intenção, o discurso e o resultado são todos diferentes: os irmãos, em si, parecem
querer mudar. O marketing da
gravadora agradece e aposta. No
trabalho em si, pouca novidade.
A idéia é que a dupla, agora, é
adulta e emancipada. Falam coisas mais profundas, compõem
suas próprias músicas (ao lado
parceiros mais experientes, lógico) e participam da produção e
gravação de seus discos. Em parte
da tiragem, acompanha o CD um
DVD com breve documentário
sobre a gravação: Junior tocando
bateria, Sandy escrevendo letras.
Tudo incrível, se você tem 15 anos
e ingenuidade de 12.
Junior, a certa altura do documentário, diz: "A gente tem vontade de se expressar, mas acaba
não sabendo o que quer. É difícil
parar, olhar no espelho e falar: "eu
sou assim'".
Soa genuína a vontade dos cantores de atingir a maturidade,
mas, a julgar pelo novo trabalho,
que eles afirmam tão representativo, parecem incapazes de qualquer tipo de profundidade.
As composições de Sandy, por
exemplo, carregam em certa melancolia superficial e na vontade
de se colocar como jovem mulher
independente, desde que não precise ir longe das tradições. Junior,
que se alterna com a irmã nos vocais, canta certa revolta com a intensidade de uma planta.
As letras de uma maneira geral
falam de amor, de forma vaga
-nada muito direto, mas que pode se encaixar em situações na vida dos ouvintes ou dos próprios
artistas. Vale dizer, aliás, que
Sandy & Junior, se não fossem os
próprios, provavelmente seriam
fãs de Sandy & Junior.
Sandy, agora vendida como
adulta, parece ter intenções de
Elis Regina, mas a vocação passa
longe. Há inclusive participação
de Milton Nascimento no disco
-recitando Gabriel o Pensador,
em momento constrangedor.
Ao contrário do que os próprios
parecem acreditar, Sandy e Junior
não são artistas, são produtos. Artisticamente, eles não têm (ou não
demonstram) qualquer personalidade, são pessoas de plástico.
Não há qualquer tipo de demonstração de qualquer coisa humana,
inesperada, particular de qualquer um deles, que possa surpreender as pessoas, ou mostrar
que eles realmente têm desejos,
pensamentos, personalidade.
A produção do disco, de fato, é
impecável. As composições são
redondinhas, os instrumentais
são caprichados, eles são afinadinhos -e a sonoridade é tão límpida e cristalina que chega a doer
no ouvido. Apesar das ambições
de artista pop de qualidade mundial, o resultado é mais um álbum
da linha Música Cafona Brasileira,
que está fadado a soar datado e
encher baciadas de discos usados
e esquecidos em poucos anos
-como todos os outros da dupla.
b>Sandy e Junior
Gravadora:Universal
Quanto: R$ 30, em média
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