São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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CRÍTICA/ SANDY E JUNIOR

Dupla amadurece sem profundidade

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Pra que que a gente tem que se arriscar?", pergunta Sandy em "Estranho Jeito de Amar", primeira faixa do recém-lançado disco que leva o nome da dupla com seu irmão, Junior.
Ela tem razão. Riscos trazem a possibilidade de erros, em time que está ganhando não se mexe, ignorância é força. Mas há o preço a se pagar. Sem riscos, não há mudanças, não há novidades, não há nada além do que sempre houve.
No caso da dupla ex-adolescente, sempre sucesso de vendas -mas hoje nem tanto quanto antigamente-, a intenção, o discurso e o resultado são todos diferentes: os irmãos, em si, parecem querer mudar. O marketing da gravadora agradece e aposta. No trabalho em si, pouca novidade.
A idéia é que a dupla, agora, é adulta e emancipada. Falam coisas mais profundas, compõem suas próprias músicas (ao lado parceiros mais experientes, lógico) e participam da produção e gravação de seus discos. Em parte da tiragem, acompanha o CD um DVD com breve documentário sobre a gravação: Junior tocando bateria, Sandy escrevendo letras. Tudo incrível, se você tem 15 anos e ingenuidade de 12.
Junior, a certa altura do documentário, diz: "A gente tem vontade de se expressar, mas acaba não sabendo o que quer. É difícil parar, olhar no espelho e falar: "eu sou assim'".
Soa genuína a vontade dos cantores de atingir a maturidade, mas, a julgar pelo novo trabalho, que eles afirmam tão representativo, parecem incapazes de qualquer tipo de profundidade.
As composições de Sandy, por exemplo, carregam em certa melancolia superficial e na vontade de se colocar como jovem mulher independente, desde que não precise ir longe das tradições. Junior, que se alterna com a irmã nos vocais, canta certa revolta com a intensidade de uma planta.
As letras de uma maneira geral falam de amor, de forma vaga -nada muito direto, mas que pode se encaixar em situações na vida dos ouvintes ou dos próprios artistas. Vale dizer, aliás, que Sandy & Junior, se não fossem os próprios, provavelmente seriam fãs de Sandy & Junior.
Sandy, agora vendida como adulta, parece ter intenções de Elis Regina, mas a vocação passa longe. Há inclusive participação de Milton Nascimento no disco -recitando Gabriel o Pensador, em momento constrangedor.
Ao contrário do que os próprios parecem acreditar, Sandy e Junior não são artistas, são produtos. Artisticamente, eles não têm (ou não demonstram) qualquer personalidade, são pessoas de plástico. Não há qualquer tipo de demonstração de qualquer coisa humana, inesperada, particular de qualquer um deles, que possa surpreender as pessoas, ou mostrar que eles realmente têm desejos, pensamentos, personalidade.
A produção do disco, de fato, é impecável. As composições são redondinhas, os instrumentais são caprichados, eles são afinadinhos -e a sonoridade é tão límpida e cristalina que chega a doer no ouvido. Apesar das ambições de artista pop de qualidade mundial, o resultado é mais um álbum da linha Música Cafona Brasileira, que está fadado a soar datado e encher baciadas de discos usados e esquecidos em poucos anos -como todos os outros da dupla.


b>Sandy e Junior
   
Gravadora:Universal
Quanto: R$ 30, em média



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