São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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CINEMA

Filmes com novas abordagens da doença são exibidos no Espaço Unibanco

Mostra revê Aids sem "apelo dramático" da década de 90

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Para saber o que é a Aids hoje para os 40 milhões que vivem com o HIV no mundo, talvez seja melhor ir ao cinema. Nos últimos anos, em razão dos avanços do tratamento -e da qualidade de vida dos pacientes - a doença saiu do noticiário para voltar apenas em datas especiais.
A 3ª Mostra Aids que começou ontem no Espaço Unibanco, traz o principal da produção cinematográfica dos últimos dois anos com temas relacionados à doença. Isso não quer dizer que a Aids seja sempre o argumento dos filmes -em alguns, é apenas mais um componente do roteiro.
O evento traz inéditos como a produção africana "Wa NWina", de Dumisani Phakathi, que retorna a seu bairro em Soweto (África do Sul) para saber como a doença afetou o cotidiano de amigos de infância.
"Filmes como "O Outro Lado da Aids" foram incluídos para polemizar", diz Mário Scheffer, integrante da ONG Pela Vidda, de auxílio a soropositivos e organizadora da mostra. A produção, dirigida por Robin Scovill, fala da absurda teoria de que o HIV não é o causador da Aids.
Na primeira edição do evento, em 97, a temática dos filmes que tratavam de Aids era praticamente a mesma: a descoberta do vírus, o preconceito, a solidão, a morte. Era a Aids terminal, prato cheio para dramas como "Filadélfia", estrelado por Tom Hanks.
De 97 a 2004 não houve mostras, diz Scheffer , em razão da ausência de produções com abordagens inovadoras. A própria difusão do coquetel, que garantiu melhor qualidade de vida aos doentes, pode ter desestimulado a indústria cinematográfica, acredita o ativista. "A Aids deixou de ter apelo dramático. Mas de 2004 até hoje houve um monte de filmes novos. São filmes sobre viver com Aids, ou sobre a realidade da epidemia, que resiste."
Dois filmes da diretora Louise Hogarth vêm nessa linha, da resistência do problema. O curta "Alguém ainda morre de Aids?", por exemplo, é uma resposta a propaganda irresponsável de muitos governos e da indústria farmacêutica de que a doença está controlada. O perturbador longa "O Presente", também dirigido por Hogarth, fala das sombrias festas de barebacking, prática intencional de sexo anal sem proteção, muitas vezes com o propósito de adquirir o HIV.
Os filmes foram escolhidos por jornalistas voluntários e pelos integrantes da ONG. Metade dos ingressos foram distribuídos a pessoas com HIV, ativistas e trabalhadores de serviços de saúde.


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