São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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CINEMA/CRÍTICA

"Noiva Síria" usa geopolítica, mas patina na direção

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"A Noiva Síria" é um desses filmes cujo valor principal é ser informativo. Estamos no Golã, região da Síria anexada por Israel, onde existe uma aldeia de drusos -população que, não sendo síria nem israelense, vive entre esses dois povos litigantes.
Tudo mais, ou quase, decorre dessa contingência geográfica. Mona (Clara Khoury), a noiva, é uma drusa e deve casar-se com um rapaz sírio. Depois disso, irá para Damasco, não mais será aceita em Israel e, portanto, não verá sua família novamente.
Não que a família seja um paraíso. O pai é um militante pró-Síria, que não suporta a presença de um dos filhos, que casou com uma russa. A irmã vive mal com o marido opressor.
Aos dramas presentes e aos latentes se somarão ainda as regulamentações de fronteira e os burocratas dispostos a complicar a vida dos outros em função de pequenos desejos ou da mera necessidade de impor seus pequenos poderes.
Tudo isso não seria um mau ponto de partida para uma comédia kafkiana, em que a divisão do mundo em grupos não só diferentes como opostos se mostra absurda.
As convicções do diretor e roteirista Eran Riklis não parecem, no entanto, serem fortes o bastante para levar sua fábula às últimas conseqüências. Isso faz com que a trama acabe sendo jogada muito mais para o lado do melodrama.
Seria uma solução -boa ou má, não vem ao caso-, caso Riklis a adotasse, o que não acontece. Prefere investir em cenas sentimentais, logo substituída por uma outra cômica, e mais adiante uma anódina.
Um momento que deixa evidente essa limitação é a seqüência em que a representante das Nações Unidas transita por uma terra de ninguém (a faixa que já não é Israel e ainda não é a Síria), do escritório israelense até o árabe, tentando encontrar solução para um impasse burocrático. Poderia ser uma cena digna de Buster Keaton, mas se reduz apenas a um vai-não-vai exasperante.
"A Noiva Síria" tem um bom elenco -com a ótima Hiam Abbass, de "Free Zone" e "Munique"- e uma situação promissora. Falta-lhe, no entanto um tom -o que começa por um roteiro cheio demais de incidentes e termina numa direção que, qual a noiva do título em determinados momentos, não sabe para onde vai. Ela, pelo menos, toma uma atitude.


A Noiva Síria
The Syrian Bride
  
Direção: Eran Riklis
Produção: França/Alemanha/Israel, 2004
Com: Hiam Abbass e Clara Khoury
Quando: a partir de hoje nos cines Unibanco Arteplex e Sala UOL



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