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CINEMA/CRÍTICA
"Noiva Síria" usa geopolítica, mas patina na direção
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"A Noiva Síria" é um
desses filmes cujo valor
principal é ser informativo. Estamos no Golã, região da Síria
anexada por Israel, onde existe
uma aldeia de drusos -população que, não sendo síria nem
israelense, vive entre esses dois
povos litigantes.
Tudo mais, ou quase, decorre
dessa contingência geográfica.
Mona (Clara Khoury), a noiva,
é uma drusa e deve casar-se
com um rapaz sírio. Depois
disso, irá para Damasco, não
mais será aceita em Israel e,
portanto, não verá sua família
novamente.
Não que a família seja um paraíso. O pai é um militante pró-Síria, que não suporta a presença de um dos filhos, que casou
com uma russa. A irmã vive
mal com o marido opressor.
Aos dramas presentes e aos
latentes se somarão ainda as regulamentações de fronteira e
os burocratas dispostos a complicar a vida dos outros em função de pequenos desejos ou da
mera necessidade de impor
seus pequenos poderes.
Tudo isso não seria um mau
ponto de partida para uma comédia kafkiana, em que a divisão do mundo em grupos não
só diferentes como opostos se
mostra absurda.
As convicções do diretor e roteirista Eran Riklis não parecem, no entanto, serem fortes o
bastante para levar sua fábula
às últimas conseqüências. Isso
faz com que a trama acabe sendo jogada muito mais para o lado do melodrama.
Seria uma solução -boa ou
má, não vem ao caso-, caso
Riklis a adotasse, o que não
acontece. Prefere investir em
cenas sentimentais, logo substituída por uma outra cômica, e
mais adiante uma anódina.
Um momento que deixa evidente essa limitação é a seqüência em que a representante das Nações Unidas transita
por uma terra de ninguém (a
faixa que já não é Israel e ainda
não é a Síria), do escritório israelense até o árabe, tentando
encontrar solução para um impasse burocrático. Poderia ser
uma cena digna de Buster Keaton, mas se reduz apenas a um
vai-não-vai exasperante.
"A Noiva Síria" tem um bom
elenco -com a ótima Hiam
Abbass, de "Free Zone" e "Munique"- e uma situação promissora. Falta-lhe, no entanto
um tom -o que começa por
um roteiro cheio demais de incidentes e termina numa direção que, qual a noiva do título
em determinados momentos,
não sabe para onde vai. Ela, pelo menos, toma uma atitude.
A Noiva Síria
The Syrian Bride
Direção: Eran Riklis
Produção: França/Alemanha/Israel,
2004
Com: Hiam Abbass e Clara Khoury
Quando: a partir de hoje nos cines
Unibanco Arteplex e Sala UOL
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