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"Linha de Passe" é bem avaliado pela crítica
Salles e Daniela Thomas ganham elogios por olhar "alternativo" sobre a periferia; concorrentes corroboram foco na realidade
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
Depois de calorosa acolhida
do público em sua estréia, no
sábado, o filme brasileiro concorrente à Palma de Ouro "Linha de Passe", de Walter Salles
e Daniela Thomas, recebeu ontem elogios da crítica internacional no Festival de Cannes.
"Sólido e envolvente" foi como o crítico Jonathan Romney,
da revista inglesa "Screen", adjetivou o longa, por evocar "a
dureza que é manter corpo e
mente juntos na maior cidade
brasileira [São Paulo]" e oferecer "uma alternativa mais realista aos românticos e estilizadamente cintilantes filmes
com os quais o cinema brasileiro vem sendo identificado".
"Linha de Passe" segue o cotidiano de uma família de trabalhadores da periferia paulistana. "[Merece] Cumprimentos o conjunto de boas atuações
que torna altamente singular
cada membro da família", assinala Debora Young, da "Hollywood Reporter". A resenha da
"Variety", por Todd McCarthy,
também se refere ao retrato
que o "Linha de Passe" faz dos
jovens que buscam uma saída
para a pobreza sem cair no crime como uma visão "alternativa" adotada pelo filme, que "toca em temas sérios sem sublinhar sua autoimportância".
Salles disse à Folha que "não
houve intenção de ir contra
uma tendência do cinema brasileiro, e sim de falar de uma
parte da juventude que não era
retratada". Ele se refere aos jovens da periferia que não têm
envolvimento com a criminalidade. "O mundo das estatísticas [de violência] é diferente do
mundo da rua", afirmou.
"Linha de Passe" foi filmado
na Cidade Líder, em São Paulo.
"Não há figurantes", diz Thomas. Os personagens laterais
-jovens aspirantes a uma carreira no futebol e evangélicos-
reencenam situações comuns à
sua biografia, como a participação nas "peneiras" dos clubes
para a seleção de jogadores ou
em cultos religiosos. Para Salles, "há indícios de que o cinema voltou a ter relação direta
com a realidade" e de que os filmes da competição em Cannes
refletem "o desejo dos cineastas de falar do seu tempo".
Os dois longas exibidos ontem na disputa corroboram tal
afirmação. O italiano "Gomorra", de Matteo Garrone, adapta
o best-seller "Camorra", de Roberto Saviano, sobre as operações criminosas e o poderio
econômico dessa organização
mafiosa. Por conta das denúncias, Saviano foi ameaçado de
morte e vive sob proteção. O
autor foi a Cannes com esquema de segurança reforçado.
O filipino "Serbis" (serviço,
como programa sexual), de Brillante Mendoza, entrelaça tipos urbanos em Manila, a partir da história de uma família que vive num híbrido de casa e
cinema pornô, onde casais gays
têm encontros sexuais.
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