São Paulo, segunda-feira, 19 de maio de 2008

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"Linha de Passe" é bem avaliado pela crítica

Salles e Daniela Thomas ganham elogios por olhar "alternativo" sobre a periferia; concorrentes corroboram foco na realidade

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES

Depois de calorosa acolhida do público em sua estréia, no sábado, o filme brasileiro concorrente à Palma de Ouro "Linha de Passe", de Walter Salles e Daniela Thomas, recebeu ontem elogios da crítica internacional no Festival de Cannes.
"Sólido e envolvente" foi como o crítico Jonathan Romney, da revista inglesa "Screen", adjetivou o longa, por evocar "a dureza que é manter corpo e mente juntos na maior cidade brasileira [São Paulo]" e oferecer "uma alternativa mais realista aos românticos e estilizadamente cintilantes filmes com os quais o cinema brasileiro vem sendo identificado".
"Linha de Passe" segue o cotidiano de uma família de trabalhadores da periferia paulistana. "[Merece] Cumprimentos o conjunto de boas atuações que torna altamente singular cada membro da família", assinala Debora Young, da "Hollywood Reporter". A resenha da "Variety", por Todd McCarthy, também se refere ao retrato que o "Linha de Passe" faz dos jovens que buscam uma saída para a pobreza sem cair no crime como uma visão "alternativa" adotada pelo filme, que "toca em temas sérios sem sublinhar sua autoimportância".
Salles disse à Folha que "não houve intenção de ir contra uma tendência do cinema brasileiro, e sim de falar de uma parte da juventude que não era retratada". Ele se refere aos jovens da periferia que não têm envolvimento com a criminalidade. "O mundo das estatísticas [de violência] é diferente do mundo da rua", afirmou.
"Linha de Passe" foi filmado na Cidade Líder, em São Paulo. "Não há figurantes", diz Thomas. Os personagens laterais -jovens aspirantes a uma carreira no futebol e evangélicos- reencenam situações comuns à sua biografia, como a participação nas "peneiras" dos clubes para a seleção de jogadores ou em cultos religiosos. Para Salles, "há indícios de que o cinema voltou a ter relação direta com a realidade" e de que os filmes da competição em Cannes refletem "o desejo dos cineastas de falar do seu tempo".
Os dois longas exibidos ontem na disputa corroboram tal afirmação. O italiano "Gomorra", de Matteo Garrone, adapta o best-seller "Camorra", de Roberto Saviano, sobre as operações criminosas e o poderio econômico dessa organização mafiosa. Por conta das denúncias, Saviano foi ameaçado de morte e vive sob proteção. O autor foi a Cannes com esquema de segurança reforçado.
O filipino "Serbis" (serviço, como programa sexual), de Brillante Mendoza, entrelaça tipos urbanos em Manila, a partir da história de uma família que vive num híbrido de casa e cinema pornô, onde casais gays têm encontros sexuais.


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