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Zélia é homenageada antes de cremação
Caixão desceu para crematório sob aplausos de familiares e amigos; filho diz ter intenção de criar memorial para a mãe e Jorge Amado
Atualmente malconservada, casa onde ficarão as cinzas, em Salvador, pode ser tombada "se for a vontade da família", diz governador
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
MANUELA MARTINEZ
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM SALVADOR
O corpo da escritora Zélia
Gattai será cremado hoje, e as
cinzas, entregues à família na
próxima quarta, para serem depositadas no mesmo local onde
foram colocados os restos mortais do escritor Jorge Amado
(1912-2001), uma mangueira
no quintal da casa onde os dois
viveram por quase 40 anos, no
Rio Vermelho, em Salvador.
Zélia Gattai, 91, morreu anteontem, às 16h30, no Hospital
da Bahia, em Salvador, de parada cardiorrespiratória.
Ontem, durante o velório da
escritora, o movimento foi pequeno pela manhã em uma das
capelas do Cemitério Jardim
da Saudade -apenas familiares
permaneceram no local.
Por volta das 12h, o governador Jaques Wagner (PT), que
decretou luto oficial de três
dias, chegou ao velório. "Zélia
Gattai, apesar de ter nascido
em São Paulo, representava
muito bem a mulher baiana,
por tudo o que fez em vida para
exaltar o nome da Bahia."
Às 17h40, o corpo da escritora seguiu para a "cerimônia de
despedida", em outra capela.
Após dois minutos de meditação, o caixão desceu para o crematório, sob aplausos. Inicialmente prevista para as 16h30, a
cerimônia foi atrasada a pedido
de familiares -os filhos Paloma Amado e João Jorge Amado
esperavam João Ubaldo Ribeiro. Amigo da família, o escritor
não apareceu no cemitério.
No começo da tarde, João
Jorge disse ter a intenção de
criar um memorial em homenagem aos pais na casa onde serão depositadas as cinzas da escritora. O imóvel está praticamente abandonado desde a
morte de Jorge Amado -há infiltrações nos banheiros, as fiações estão expostas, os banheiros apresentam vazamentos e o
cupim invadiu os poucos móveis que ainda estão no local.
Ao saber do projeto, o prefeito de Salvador, João Henrique
Carneiro (PMDB), disse que vai
criar uma comissão para estudar a obra. Jaques Wagner disse que, "se for a vontade da família", o governo da Bahia pode
tombar a casa onde os dois escritores moraram.
Antes de o corpo ser transferido para o crematório, Zélia
Gattai foi homenageada por
quatro integrantes da Irmandade de Nossa Senhora da Boa
Morte, de Cachoeira (BA)
-uma confraria religiosa afro-católica, formada por descendentes de escravos. Entoaram
cantos, com terços e velas.
O escritor James Amado, irmão de Jorge Amado, disse que
Zélia Gattai "não pegou carona
nas obras do marido famoso".
"Ela começou a escrever tarde,
mas deu o seu recado de forma
brilhante." James Amado esteve no velório com sua mulher,
Heloísa Ramos, filha do escritor Graciliano Ramos.
"A última alegria profissional
de minha mãe foi receber o título de doutora honoris causa
pela UFBA [Universidade Federal da Bahia], que foi dado
quando ela já não estava com
boa saúde. Minha mãe tinha só
o curso primário e ser reconhecida pelo povo baiano foi uma
grande alegria", disse Paloma.
O artista plástico Santi Scaldaferri, amigo do casal Zélia
Gattai e Jorge Amado e autor
de diversas esculturas presentes na Casa do Rio Vermelho,
disse no velório que "é muito
justo que as cinzas dela se juntem às de Jorge Amado, pois a
casa tem a atmosfera deles.
Jorge Amado era teimoso com
todo mundo, exceto com Zélia.
Ele sempre a ouvia".
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