São Paulo, segunda-feira, 19 de maio de 2008

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Zélia é homenageada antes de cremação

Caixão desceu para crematório sob aplausos de familiares e amigos; filho diz ter intenção de criar memorial para a mãe e Jorge Amado

Atualmente malconservada, casa onde ficarão as cinzas, em Salvador, pode ser tombada "se for a vontade da família", diz governador

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

MANUELA MARTINEZ
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

O corpo da escritora Zélia Gattai será cremado hoje, e as cinzas, entregues à família na próxima quarta, para serem depositadas no mesmo local onde foram colocados os restos mortais do escritor Jorge Amado (1912-2001), uma mangueira no quintal da casa onde os dois viveram por quase 40 anos, no Rio Vermelho, em Salvador.
Zélia Gattai, 91, morreu anteontem, às 16h30, no Hospital da Bahia, em Salvador, de parada cardiorrespiratória.
Ontem, durante o velório da escritora, o movimento foi pequeno pela manhã em uma das capelas do Cemitério Jardim da Saudade -apenas familiares permaneceram no local.
Por volta das 12h, o governador Jaques Wagner (PT), que decretou luto oficial de três dias, chegou ao velório. "Zélia Gattai, apesar de ter nascido em São Paulo, representava muito bem a mulher baiana, por tudo o que fez em vida para exaltar o nome da Bahia."
Às 17h40, o corpo da escritora seguiu para a "cerimônia de despedida", em outra capela. Após dois minutos de meditação, o caixão desceu para o crematório, sob aplausos. Inicialmente prevista para as 16h30, a cerimônia foi atrasada a pedido de familiares -os filhos Paloma Amado e João Jorge Amado esperavam João Ubaldo Ribeiro. Amigo da família, o escritor não apareceu no cemitério.
No começo da tarde, João Jorge disse ter a intenção de criar um memorial em homenagem aos pais na casa onde serão depositadas as cinzas da escritora. O imóvel está praticamente abandonado desde a morte de Jorge Amado -há infiltrações nos banheiros, as fiações estão expostas, os banheiros apresentam vazamentos e o cupim invadiu os poucos móveis que ainda estão no local.
Ao saber do projeto, o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PMDB), disse que vai criar uma comissão para estudar a obra. Jaques Wagner disse que, "se for a vontade da família", o governo da Bahia pode tombar a casa onde os dois escritores moraram.
Antes de o corpo ser transferido para o crematório, Zélia Gattai foi homenageada por quatro integrantes da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, de Cachoeira (BA) -uma confraria religiosa afro-católica, formada por descendentes de escravos. Entoaram cantos, com terços e velas.
O escritor James Amado, irmão de Jorge Amado, disse que Zélia Gattai "não pegou carona nas obras do marido famoso". "Ela começou a escrever tarde, mas deu o seu recado de forma brilhante." James Amado esteve no velório com sua mulher, Heloísa Ramos, filha do escritor Graciliano Ramos.
"A última alegria profissional de minha mãe foi receber o título de doutora honoris causa pela UFBA [Universidade Federal da Bahia], que foi dado quando ela já não estava com boa saúde. Minha mãe tinha só o curso primário e ser reconhecida pelo povo baiano foi uma grande alegria", disse Paloma.
O artista plástico Santi Scaldaferri, amigo do casal Zélia Gattai e Jorge Amado e autor de diversas esculturas presentes na Casa do Rio Vermelho, disse no velório que "é muito justo que as cinzas dela se juntem às de Jorge Amado, pois a casa tem a atmosfera deles. Jorge Amado era teimoso com todo mundo, exceto com Zélia. Ele sempre a ouvia".


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