|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DISCOS - LANÇAMENTOS
Trios ingleses expõem escuridão e calma
Massive Attack
MARCELO NEGROMONTE
free-lance para a Folha
Bem-vindos ao lado escuro da
Lua. O ataque massivo aos ouvidos e à mente se faz mais eficiente
do que nunca em "Mezzanine",
álbum claustrofóbico, aterrador e
o mais denso do trio inglês de Bristol, Massive Attack.
Essa sedutora mistura de beats
de hip hop, dub, groove de soul,
guitarras atmosféricas, melodias
etéreas com baixo profundo, que é
o trip hop, mudou de rumo depois
de "Mezzanine".
O rebento levou quatro anos para nascer, depois de "Protection"
(1994), e a espera pelo parto foi
uma das mais adiadas e especuladas desde então. Cogitou-se um
"OK Computer", do Radiohead,
inteiro remixado pelos três no lugar deste "Mezzanine".
O terceiro álbum do trio formado por Grant Marshall (Daddy
Gee), Robert Del Naja (3D) e Andrew Vowles (Mushroom, cogumelo em inglês) foi lançado em 20
de abril na Inglaterra e na terça-feira passada nos Estados Unidos. A gravadora Virgin promete
colocá-lo nas prateleiras brasileiras esta semana (aqui, como sempre, há complicações injustificáveis no parto).
Mas o bebê já anda. Alcançou o
primeiro lugar na Inglaterra,
França e Austrália e sexto na Alemanha na semana em que veio ao
mundo. Se os brasileiros tratarem
bem de "Mezzanine", a gravadora dá esperanças de relançar seus
irmãos "Blue Lines" (1991) e
"Protection" em seguida.
Os primeiros sinais de que
"Mezzanine" é um dos discos
mais soturnos deste ano (e ainda
não estamos nem na metade) é a
primeira música, "Angel".
Um baixo poderosíssimo, guitarras ecoantes em overdose de
dubs, clima pós-pós-Pink Floyd,
aliados à voz fantasmagórica do
reggaeman Horace Andy -cuja
carreira mudou de direção depois
de sua participação em "Blue Lines"-, fazem com que você,
amedrontado, verifique se a porta
de sua casa está de fato trancada.
Porque a da sua mente foi completamente arrombada.
E os pioneiros do trip hop vão
direto à parte mais desconhecida
dela em "Risingson", single "extra-oficial", lançado em 97, em
versão limitada, por conta da participação da banda no festival de
Glastonbury.
Daddy Gee e 3D parecem dialogar, sussurrando, num lugar perdido e congelado, numa conspiração diabólica contra o bem, emoldurados por batidas sujas e ambiência surreal. "Nós viemos para
mover sua alma/ e você como que
desaparece ao fundo".
Ameaça cumprida -com vocais
mais ameaçadores ainda- em
"Inertia Creeps", que surge devagar e sobe num crescendo em espiral infinita e hipnótica. Devastadora, um dos pontos altos do disco.
"Teardrop", o primeiro single
"oficial", é claustrofóbica, como
o clipe, em que um bebê, antes de
nascer, "dubla" a música cantada
por Liz Fraser, do Cocteau Twins
- que estava grávida ao gravar a
canção. Sujeira estática de vinis se
opõe à voz clara de Liz e às batidas
secas, criando algo perturbador.
Horace Andy empresta a voz novamente em "Man Next Door",
música que está mais para "Blue
Lines" do que para "Protection". "Tenho que sair daqui,/
este não é um lugar para ficar",
diz em meio a samples das guitarras de "10:15 Saturday Morning",
do The Cure.
O Massive Attack sabe que cria o
medo e abusa disso na faixa-título,
para, em seguida, seduzir - e executar o golpe mortal-, em
"Group Four", duas músicas em
uma genial. Uma parede de guitarras surge na segunda parte com
Liz cantando como um anjo malévolo. A tensão aumenta e seus limites são testados.
Volte a respirar, abra os olhos; a
lobotomia foi bem-sucedida.
Disco: Mezzanine
Banda: Massive Attack
Lançamento: Virgin; a gravadora promete
lançar o álbum no Brasil nesta semana
Onde encomendar: London Calling (tel.
011/223-5300)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|