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Morcheeba
free-lance para a Folha
Um álbum para chapados.
Muito mais pop e acessível que
"Mezzanine", "Big Calm", do
trio londrino Morcheeba, traz luz
e muita, muita calma, mas está
ainda longe de ser iluminado.
Há flertes com o trip hop, mas
eles não se consideram parte da
turma de Bristol (Portishead,
Tricky, ex-Massive Attack etc),
como disse à Folha o letrista e arranjador Paul Ross, de Milwaukee (EUA), onde estava em turnê.
"Eu não ligo para o que falam
de nosso som. A única coisa que
temos em comum é a idade, entre
25 e 30 anos. A música eletrônica
é, em geral, inútil", disse Paul
numa das raras respostas polissilábicas.
A banda também fez algumas
produções entre o primeiro álbum, "Who Can You Trust?"
(95) e este disco. Morcheeba produziu algumas faixas de "Feelings", de David Byrne. "Ele é
muito interessante e engraçado", disse Paul.
Em "Big Calm", a voz de Skye
Edwards é limpa e suave, o que,
segundo Paul, "deu mais calma
à banda". E é verdade, é excelente para ouvir enquanto o sono não chega.
O guitarrista Ross Godfrey, irmão de Paul, completa o trio,
que mistura reggae, dub, hip
hop e, menos presente, blues.
Às vezes, esses gêneros aparecem individualmente nas músicas, como em "Bullet Proof"
(homônima de uma do Rage
Against the Machine), em que
os Beastie Boys são lembrados,
com scratches do DJ First Rate.
Suavemente, diga-se.
"Friction" é um raggamuffin
em lenta rotação, quase parando, com certo groove, sopros e
intervenções vocais típicas a
cargo de Spikey T.
O blues, aí temos o dedo de
Ross, que é fã do gênero, está
em "Diggin' a Watery Grave",
quase um interlúdio, com guitarra calma (sempre calma), remetendo às imagens de tufos de
capim rolando em cidades desertas de faroestes norte-americanos. Quase um clichê.
Não há dor, pestilência, perda
e obscurantismo comuns ao
som de outros nomes do trip
hop presentes no do Morcheeba. Ao contrário, é alegre, uma
alegria artificial, mas não forçada.
Mas soa tão malevolente, que
é despropositado chamá-lo de
"para cima".
A malevolência é honestamente relacionada com o nome
da banda. Morcheeba é a justaposição das gírias "mor"
(abreviação de middle of the
road, meio do caminho em inglês, "como Phil Collins e Dire
Straits, nem bom nem ruim",
disse Paul) e "cheeba", um dos
nomes para maconha na Inglaterra.
"Falamos sobre drogas e álcool
nas nossas músicas, mas sem nenhum julgamento." Ah, sim,
Marcelo D2, do Planet Hemp,
alega o mesmo.
"Part of the Process", primeiro single e a mais radiofônica do
disco, utiliza riffs muito parecidos com os de "Diggin' a Watery
Grave". Não devem ter percebido a casualidade...
Cordas também ajudam a manter a malacia presente no disco,
como "Fear and Love" e "Over
& Over", com violinos, violoncelos e e violas.
Da capa do disco -uma mulher esparramada na cadeira, fitando o infinito numa sala de estar art déco- às músicas suaves,
passando pelo nome da banda, o
Morcheeba é bem coerente.
Está no "meio do caminho" e
fala, calmamente, de e para usuários casuais de maconha, para
quem o mundo gira em "slow
motion".
(MN)
Disco: Big Calm
Banda: Morcheeba
Lançamento: WEA
Quanto: R$ 18, em média
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