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Carlos Fajardo discute a superfície em fotos
CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local
Durante toda a sua carreira, Carlos Fajardo se dedicou a construir
"circunstâncias singulares da
percepção".
Em 30 anos de convívio com a
produção estética, tornou o próximo distante, brincou com a leveza
de algo pesado, trouxe o cheiro, o
calor e o movimento para dentro
do museu e mostrou, como poucos, os avessos da arte.
Hoje o artista conclui sua trajetória de doutor do desconhecido.
Fajardo, que diz que "aquilo
que todos conhecem não precisa
ser feito", defende, a partir das
14h, sua tese de doutorado na Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo.
Em "A Profundidade e a Superfície", nome da sua tese, ele leva
ao fundo das idéias as discussões
que costuma ter, como artista,
com a superfície das matérias.
Isso não significa que as matérias estejam sendo deixadas de lado. Fajardo abre hoje, no Paço das
Artes, também na USP, uma exposição vinculada à sua tese com 45
"exemplos exemplares" dos períodos da sua criação artística.
Não foram poucos. Começou a
pintar com Wesley Duke Lee,
"pai" da arte pop brasileira, e
passou por grupos fundamentais
da nossa arte contemporânea, como o iconoclástico Grupo Rex e a
sofisticada Escola Brasil.
Nessa destacada variedade de
linguagens com as quais trabalhou, Fajardo cunhou como marca pessoal aquilo que a crítica Sônia Salztein definiu como "a-estilo" (ausência de estilo).
A exposição no Paço das Artes
deixa isso aparente, mas mostra
outra "sombra artística" de Fajardo: suas obras sempre questionam a importância da superfície
da obra de arte.
Como o próprio artista-professor explica: "Se você for pensar
que há uma variedade formal em
meu trabalho, é porque a forma
não é questão. Se há uma variedade material, é porque o material
deixou de ser questão. A única coisa em comum na minha obra é a
discussão da superfície".
Cézanne (1839-1906) dizia que
entre ele e o mundo existia cor.
No mesmo caminho, Fajardo
diz, para explicar o que é essa
"discussão da superfície": "Meu
mundo começa no meu olho".
Isso fica mais evidente a partir
da exposição-tese do Paço das Artes. Nela, Carlos Fajardo expõe pela primeira vez uma série de fotografias.
Nos retratos que fez de paredes,
objetos, materiais, o artista traz
para a superfície as diferentes texturas e cores que uma superfície
pode ter.
Ele constrói um universo, muitas vezes irreconhecível, a partir
daquilo que o olhar, o seu olhar,
capturou.
Nessas fotografias, fica exposta a
síntese do discurso visual de Fajardo, que começou narrando a profundidade (sua primeira obra,
com placas de acrílico saindo da
tela, está na mostra) e partiu para
a tridimensionalidade.
Exposição: Carlos Fajardo
Quando: hoje às 19h; seg. a sex., das 13h
às 20h; sáb., das 10h às 14h; até 21 de
junho; hoje, às 14h, Fajardo defende sua
tese de doutorado na ECA-USP (av. Prof.
Lúcio Martins Rodrigues, 443, Cidade
Universitária, tel. 011/818-4063)
Onde: Paço das Artes (av. da Universidade,
1, Cidade Universitária, tel. 011/813-3627)
Técnicas: pinturas, esculturas e
fotografias, entre outras
Preços das obras: R$ 700 (só estão à
venda as fotografias)
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