São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

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Carlos Fajardo discute a superfície em fotos

CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local

Durante toda a sua carreira, Carlos Fajardo se dedicou a construir "circunstâncias singulares da percepção".
Em 30 anos de convívio com a produção estética, tornou o próximo distante, brincou com a leveza de algo pesado, trouxe o cheiro, o calor e o movimento para dentro do museu e mostrou, como poucos, os avessos da arte.
Hoje o artista conclui sua trajetória de doutor do desconhecido.
Fajardo, que diz que "aquilo que todos conhecem não precisa ser feito", defende, a partir das 14h, sua tese de doutorado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Em "A Profundidade e a Superfície", nome da sua tese, ele leva ao fundo das idéias as discussões que costuma ter, como artista, com a superfície das matérias.
Isso não significa que as matérias estejam sendo deixadas de lado. Fajardo abre hoje, no Paço das Artes, também na USP, uma exposição vinculada à sua tese com 45 "exemplos exemplares" dos períodos da sua criação artística.
Não foram poucos. Começou a pintar com Wesley Duke Lee, "pai" da arte pop brasileira, e passou por grupos fundamentais da nossa arte contemporânea, como o iconoclástico Grupo Rex e a sofisticada Escola Brasil.
Nessa destacada variedade de linguagens com as quais trabalhou, Fajardo cunhou como marca pessoal aquilo que a crítica Sônia Salztein definiu como "a-estilo" (ausência de estilo).
A exposição no Paço das Artes deixa isso aparente, mas mostra outra "sombra artística" de Fajardo: suas obras sempre questionam a importância da superfície da obra de arte.
Como o próprio artista-professor explica: "Se você for pensar que há uma variedade formal em meu trabalho, é porque a forma não é questão. Se há uma variedade material, é porque o material deixou de ser questão. A única coisa em comum na minha obra é a discussão da superfície".
Cézanne (1839-1906) dizia que entre ele e o mundo existia cor.
No mesmo caminho, Fajardo diz, para explicar o que é essa "discussão da superfície": "Meu mundo começa no meu olho".
Isso fica mais evidente a partir da exposição-tese do Paço das Artes. Nela, Carlos Fajardo expõe pela primeira vez uma série de fotografias.
Nos retratos que fez de paredes, objetos, materiais, o artista traz para a superfície as diferentes texturas e cores que uma superfície pode ter.
Ele constrói um universo, muitas vezes irreconhecível, a partir daquilo que o olhar, o seu olhar, capturou.
Nessas fotografias, fica exposta a síntese do discurso visual de Fajardo, que começou narrando a profundidade (sua primeira obra, com placas de acrílico saindo da tela, está na mostra) e partiu para a tridimensionalidade.

Exposição: Carlos Fajardo
Quando: hoje às 19h; seg. a sex., das 13h às 20h; sáb., das 10h às 14h; até 21 de junho; hoje, às 14h, Fajardo defende sua tese de doutorado na ECA-USP (av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Cidade Universitária, tel. 011/818-4063)
Onde: Paço das Artes (av. da Universidade, 1, Cidade Universitária, tel. 011/813-3627)
Técnicas: pinturas, esculturas e fotografias, entre outras Preços das obras: R$ 700 (só estão à venda as fotografias)



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