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DIREITOS AUTORAIS
Cultura precisa de acesso democrático
LIVIO TRAGTENBERG
ESPECIAL PARA A FOLHA
Volto ao assunto da "reforma agrária no direito autoral" porque a réplica de Ronaldo
Lemos (Ilustrada, 9 de junho) coloca uma questão fundamental. O
articulista atribui a mim "desconhecimento" de causa, quando se
trata, na verdade, de uma divergência básica. Portanto, com o
texto que segue, considero esclarecida as dúvidas e colocado o
meu ponto de vista.
O articulista acredita que "fomentar a ampla circulação da cultura passa a ser não mais um problema ligado à infra-estrutura das
redes de comunicação, mas à propriedade intelectual sobre os
componentes desse sistema". Discordo. Historicamente as tecnologias de comunicação são criadas
para um ou mais usos que respondam a demandas de mercado,
determinando em seu sistema
praticamente todas as modalidades de sua aplicabilidade. Apenas
um espaço periférico e inofensivo
-em termos sistêmicos e mercadológicos- pode ser aproveitado
por usos alternativos.
A internet, por exemplo, é majoritariamente usada e acessada
para vendas, sites de sexo e bate-papo; seu uso com conteúdos
não-comerciais (ou culturais)
ocupa um pequeno espaço.
Mas daí a acreditar que as novas
tecnologias de comunicação são
veículos neutros é, a meu ver, um
erro de avaliação. Mesmo no ambiente digital, continuamos consumidores de servidores e operadoras de telefonia fixa e móvel.
Por favor, não tentem nos vender
mais um "admirável mundo novo" para os próximos anos.
Portanto continua essencial
mexer na política de concessões
dos meios de comunicação existentes e dos que serão criados. O
uso que faremos deles depende
do acesso que tenhamos a esses
meios. De outra forma, continuaremos a ocupar um espaço periférico na comunicação social.
Penso nos 99% da população
condenados a uma TV aberta medíocre e às cadeias de rádio dominadas por grupos políticos e religiosos. Quero para já uma comunicação mais democrática, e isso
não vem só através de mudanças
tecnológicas. Gostaríamos de ver
o Ministério da Cultura no corpo-a-corpo do Congresso, lutando
por projetos de base, como uma
revisão nos critérios de concessão
de órgãos de comunicação. Lutando por um aperfeiçoamento
da cobrança de direitos autorais.
Em seu artigo, Ronaldo Lemos
nos oferece a descrição de um Paraíso na terra, ao relacionar uma
série de iniciativas que se conjugariam ao fomento proposto pelo
MinC, mas não diz como, com
que dinheiro e quando alcançaremos essa terra prometida da cultura democratizada, um tanto
idealizada em conceitos como
"cultura livre". Soa como mais
um documento de boas intenções
que uma política factível.
Ao final, Lemos diz que: "Esperamos a oportunidade de acessarmos (e samplearmos) seu trabalho pela rede, com licença Creative Commons". Desde o ano passado, é possível acessar meu último CD, "Danças Brasileiras", na
internet, que, aliás, já é copyleft.
Livio Tragtenberg é compositor
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