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Gordo diz que segue "retardado, mas responsável"
Em fase "família", líder do Ratos de Porão lança programa de entrevistas e se considera a "Angélica do inferno"
Apresentador critica a MTV, emissora onde trabalha, e afirma odiar tudo aquilo que há de novo no cenário da música pop mundial
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu era um gordo maluco
que só cheirava. Minha vida
mudou muito. Hoje em dia, tudo que tenho que fazer pelos
meus filhos, de trocar fralda a
assistir 6.000 vezes a "Branca
de Neve" ou "Bob Esponja", eu
curto. Sei todas as músicas de
"Cocoricó" de cor." O autor do
relato acima é o marido de Viviane e pai de Victoria e Pietro,
João Francisco Benedam, o
João Gordo da MTV e dos vocais furiosos do Ratos de Porão
em horário comercial.
Em busca de, nas palavras do
próprio, "menos insanidade e
demência", o quarentão acaba
de estrear um programa no canal de música. Em "Gordo Visita", ele vai à casa de uma personalidade, bisbilhota álbuns de
família e objetos pessoais, e
conversa, entre outros assuntos, sobre carreira, dinheiro e
sexo. "Tirei a idéia do Amaury
Jr.", ironiza. A relação de anfitriões é heterogênea: já soaram
as campainhas da ex-BBB Sabrina Sato (edição que vai ao ar
hoje à noite, às 22h), dos cantores Ronnie Von e Zeca Pagodinho e do boxeador Popó. Mas
há quem recuse o convite para
abrir as portas de casa a Gordo
e sua equipe. "Ficam com medo, acham que eu vou vomitar
na pia."
O apresentador é a única semelhança que a nova atração
guarda com o programa "Gordo
Freak Show", o circo de bizarrices em cujo picadeiro se revezam gincanas e shows de calouros insólitos.
"Achei que estava muito extremo no "Freak", xingando o
espectador. Aproveitando a minha facilidade para a conversa
espontânea, propus o "Visita'",
diz Gordo. Aos que possam ver
no formato um precedente à
caretice e ao bom mocismo, ele
tranqüiliza. "Continuo o mesmo retardado de sempre, mas
com responsabilidade."
"Angélica do inferno"
O conceito do programa recém-estreado lembra o de "Estrelas", que Angélica comanda
aos sábados na TV Globo. Ela
também visita famosos em busca de histórias e hábitos prosaicos. Mas Gordo logo afasta
qualquer parentesco entre as
atrações e seus cicerones. "Sou
a Angélica do inferno."
A morada do belzebu, pelo
visto, é ambiente inóspito para
a televisão. Nem a
MTV tem vez.
"Nunca gostei da
programação do canal. Se dependesse
de mim, passava [o
desenho] Speed Racer e tocava grindcore [uma variação
acelerada de hardcore] o dia inteiro."
Ainda assim, Gordo
pondera que a emissora é a única a dedicar faixas do horário nobre ao som
underground.
No toca-CD do
apresentador e músico, o repertório
varia de acordo com
a ocasião: se ele está
montando o set list
de uma noite de discotecagem, o critério de seleção é "de
1987 para baixo", o que torna
elegíveis de Deep Purple a Elton John. "Já em casa, só ouço
barulheira." No novo rock europeu (Franz Ferdinand, Kaiser Chiefs, Arctic Monkeys),
não há nada interessante?
"Odeio tudo que é novo. É uma
revisita àquilo que já era ruim
no original."
Revisitar o incidente com o
ator Dado Dolabella, em 2003,
durante uma gravação do "Gordo a Go-Go", também não lhe
agrada muito. Na ocasião, uma
troca de insultos e a quebra de
uma mesa por Dolabella quase
descambaram para a agressão
física. Três anos depois, no entanto, ele encara o episódio de
maneira mais descontraída. "A
fita do programa tinha que ser
divulgada na internet. Ia bombar no YouTube [site que oferece vídeos de erros de gravação e
momentos inusitados de programas de TV]."
Trocando o condicional pelo concreto, Gordo diz já
ter planos para
quando a idade
apontar para a aposentadoria televisiva e fizer o sangue
metaleiro esfriar.
"Terminar o segundo grau e cursar história. O que eu uso é
o que aprendi na
rua, porque virei
punk e não queria
saber de estudar."
Ele garante que não
vai se incomodar caso a sua prole não
tenha herdado o
DNA hardcore do
pai. "Se meus filhos
quiserem ser crentes ou pagodeiros,
quem sou eu para
impedir?"
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