São Paulo, terça-feira, 19 de junho de 2007 |
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Mônica Bergamo @ - bergamo@folhasp.com.br
"Cem é sacanagem, pô! Eu tenho 60!" "A vida é mulher do lado e seja o que Deus quiser!", tem repetido Oscar Niemeyer ao longo dos anos. Ao lado de Vera
Magalhães, 63, com que se casou em dezembro de 2006, dias
antes de completar 99 anos, o
arquiteto recebe cem convidados para um almoço no sábado,
16, na "Casa das Canoas", que
construiu em São Conrado e
que hoje abriga a fundação que
leva seu nome.
Os dois estão num sofá, numa das salas da casa. O almoço foi organizado por Carlos Oscar, neto de Niemeyer, que está coordenando uma cavalgada do Rio ao interior de São Paulo para celebrar o centenário do avô -ele fará aniversário no dia 15 de dezembro. Uma fila de peões da Festa de Barretos se forma para os beijos e abraços. No almoço estão ainda os quatro netos, 13 bisnetos e seis trinetos de Niemeyer. Dona Vera acende um cigarro e bate as cinzas na mão. Não pode deixar a sala em busca de um cinzeiro porque, a cada cumprimento, sopra, no ouvido do marido, o nome de quem se aproxima. "Eu estou sempre do lado dele", diz ela, que é secretária de Niemeyer desde 1992. "Nos conhecemos em 1965. Trabalhei na "Módulo" [revista de Niemeyer] até 1989. Depois, ele me convidou para ser secretária. E aí, a convivência, a amizade, essas coisas, levam a um caminho, sabe? O amor não tem muita técnica." Copo de chope na mão, dona Vera apóia no colo um prato com torresmo. Num gesto carinhoso, serve o marido. Ele pede cerveja ao garçom e, em seguida, de braço dado com a mulher, troca o sofá pela mesa da sala. Acende uma cigarrilha. "Ele foi operado [depois de uma fratura no quadril por causa de uma queda] e eu tenho muita preocupação. Fico muito atenta. Não deixo ele sozinho. Sei o quanto foi ruim aquele tombo e que não pode acontecer de novo." "Um dia nunca é igual ao outro" ao lado de Niemeyer, diz dona Vera. "É tudo muito agitado e diferente. De manhã, faço minhas coisas pessoais: tenho massagem, cuido das empregadas, organizo o jantar quando temos visitas. Às 13h, vamos para o escritório dele e só voltamos às sete, oito horas da noite. Tenho admiração pelo Oscar, tenho amigos e uma boa família. Hoje em dia, se você tem um pouquinho disso, já pode se considerar feliz, não?" Os dois moram no apartamento que já era de Niemeyer, em Ipanema. O arquiteto comprou nova cama de casal depois que oficializou sua união com dona Vera. O casamento foi uma surpresa até para a família -Anna Maria Niemeyer, a filha única do arquiteto, soube do enlace um dia depois. No almoço, ela e Vera conversam sem parar. "Elas se dão bem. O resto é boato de imprensa", diz um dos assessores da família. Os peões dão passagem à rainha e à princesa da Festa de Barretos. De chapéus, botas de cano alto, bustiês com lantejoulas douradas e prateadas, elas posam ao lado do arquiteto. À porta, o segurança Silva Neto, o Silvão, que presta serviços à família há 30 anos, tudo observa. "Me chamam de "Miúdo". Só o seu Oscar que não. Ele é uma boa pessoa. Já trabalhei com o Geisel, o Figueiredo, a Xuxa e o Niemeyer. Ou seja: já fui segurança de ditador, capitalista e, agora, de comunista democrata", conta, rindo. Depois de comer um prato de arroz carreteiro, feijão com paio, lingüiça, farofa e ainda suspiro e miniquindins de sobremesa, Niemeyer falou à coluna. Como seu tom de voz é baixo, pediu: "Coloca a cabeça mais perto de mim". FOLHA - As coisas estão melhores
do que há cem anos?
FOLHA - Como?
FOLHA - Não são cem?
FOLHA - E a América Latina...
FOLHA - E o fato de o Chávez não
renovar a concessão da RCTV?
FOLHA - O senhor é um otimista?
FOLHA - No documentário "A Vida
é um Sopro", o senhor disse que o
importante na vida é mulher.
FOLHA - Por isso o senhor se casou
aos 99 anos?
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