|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"CÁLCULO MORTAL"
Semelhança com filme de Hitchcock fica na inspiração
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Qualquer semelhança entre
"Cálculo Mortal" e "Festim
Diabólico", do diretor Alfred
Hitchcock (1899-1980), não é mera coincidência.
Ambos tomaram como inspiração uma mesma história real, o
célebre caso Leopold & Loeb, dois
bem-nascidos estudantes da Universidade de Chicago que, em
1924, mataram um homem com o
único motivo de praticar o assassinato como "arte".
No entanto a semelhança entre
os dois filmes se esgota nessa remota inspiração.
Hitchcock, como se sabe, fez de
"Festim Diabólico" uma experimentação ao confinar a história
num único espaço, onde a câmera
se movimentava sem parar, camuflando os cortes e dando a impressão de que tudo era narrado
em um só plano.
Mas Barbet Schroeder, diretor
de "Cálculo Mortal", não faz
questão nenhuma de evitar os vários clichês.
Mesmo os subtextos que marcam a trama -como a tensão sexual entre os jovens assassinos-
são tratados de forma óbvia, sem
nenhuma originalidade.
Na verdade há, sim, um esforço
honesto de atualizar o tema do
crime perfeito, produto da crença
terrível (que de fato não perdeu a
atualidade) da superioridade de
uns sobre outros.
Não é mais a universidade o
ambiente em que brotam criaturas de tamanha arrogância, mas a
"high school" americana, alvo de
nove entre dez filmes que se pretendem "críticos".
Ao caso Leopold & Loeb, portanto, se junta outra fonte de inspiração: a das mortes cometidas
por jovens estudantes americanos
nos últimos anos.
Mas esse esforço de atualizar
um tema não se concretiza. Logo
"Cálculo Mortal" desvia seu foco
da dupla de estudantes Richard
(Ryan Gosling) e Justin (Michael
Pitt) para se concentrar em recursos banais do thriller contemporâneo, como a obsessão da detetive Cassie Mayweather (Sandra
Bullock) em resolver o caso, ou
ainda seu relacionamento com o
novo parceiro de investigação,
Sam Kennedy (Ben Chaplin).
Pior, talvez, seja o psicologismo
que explica o comportamento da
detetive Cassie (ela teve a mãe assassinada pelo pai), que só contribui para saturar o filme de clichês
e o alonga por desnecessárias
duas horas de projeção.
(PEDRO BUTCHER)
Cálculo Mortal
Murder by Numbers
Direção: Barbet Schroeder
Produção: EUA, 2002
Com: Sandra Bullock, Ben Chaplin
Quando: a partir de hoje nos cines
Butantã, Interlagos, Market Place
Cinemark, Morumbi, Shopping D e circuito
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Cinema/Estréia - "Jogo de Espião": Robert Redford e Brad Pitt estrelam longa modorrento Índice
|