São Paulo, sexta-feira, 19 de julho de 2002

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"CÁLCULO MORTAL"

Semelhança com filme de Hitchcock fica na inspiração

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Qualquer semelhança entre "Cálculo Mortal" e "Festim Diabólico", do diretor Alfred Hitchcock (1899-1980), não é mera coincidência.
Ambos tomaram como inspiração uma mesma história real, o célebre caso Leopold & Loeb, dois bem-nascidos estudantes da Universidade de Chicago que, em 1924, mataram um homem com o único motivo de praticar o assassinato como "arte".
No entanto a semelhança entre os dois filmes se esgota nessa remota inspiração.
Hitchcock, como se sabe, fez de "Festim Diabólico" uma experimentação ao confinar a história num único espaço, onde a câmera se movimentava sem parar, camuflando os cortes e dando a impressão de que tudo era narrado em um só plano.
Mas Barbet Schroeder, diretor de "Cálculo Mortal", não faz questão nenhuma de evitar os vários clichês.
Mesmo os subtextos que marcam a trama -como a tensão sexual entre os jovens assassinos- são tratados de forma óbvia, sem nenhuma originalidade.
Na verdade há, sim, um esforço honesto de atualizar o tema do crime perfeito, produto da crença terrível (que de fato não perdeu a atualidade) da superioridade de uns sobre outros.
Não é mais a universidade o ambiente em que brotam criaturas de tamanha arrogância, mas a "high school" americana, alvo de nove entre dez filmes que se pretendem "críticos".
Ao caso Leopold & Loeb, portanto, se junta outra fonte de inspiração: a das mortes cometidas por jovens estudantes americanos nos últimos anos.
Mas esse esforço de atualizar um tema não se concretiza. Logo "Cálculo Mortal" desvia seu foco da dupla de estudantes Richard (Ryan Gosling) e Justin (Michael Pitt) para se concentrar em recursos banais do thriller contemporâneo, como a obsessão da detetive Cassie Mayweather (Sandra Bullock) em resolver o caso, ou ainda seu relacionamento com o novo parceiro de investigação, Sam Kennedy (Ben Chaplin).
Pior, talvez, seja o psicologismo que explica o comportamento da detetive Cassie (ela teve a mãe assassinada pelo pai), que só contribui para saturar o filme de clichês e o alonga por desnecessárias duas horas de projeção.
(PEDRO BUTCHER)


Cálculo Mortal
Murder by Numbers  
Direção: Barbet Schroeder
Produção: EUA, 2002
Com: Sandra Bullock, Ben Chaplin
Quando: a partir de hoje nos cines Butantã, Interlagos, Market Place Cinemark, Morumbi, Shopping D e circuito



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