São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

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Pintor, que abre hoje exposição no Rio, diz que a obra termina quando há silêncio

Sued doma a gritaria da cor

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Aos 79 anos, Eduardo Sued continua expandindo sua pintura. O verbo pode ser lido literalmente: desde 2000, o artista tem ampliado ainda mais o formato de suas grandes telas.
Na exposição que abre hoje no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio, a primeira em sua cidade natal após seis anos, Sued apresenta vários quadros recentes com mais de dois metros de altura ou comprimento.
"Essa necessidade apareceu ainda com mais veemência agora. É mais cansativo para mim, tenho até um ajudante. Mas são os meus apelos interiores", diz ele, sempre avesso a elucubrações racionalistas.
A expansão também se dá no quesito dramaticidade. O pintor, um dos mais importantes do país, volta a deixar de lado suas superfícies lisas e linhas retas à Mondrian para usar as tintas com grande vigor, como já fez em outros momentos de seus 50 anos de carreira.
"A pasta agora se engrossa e se agita. É uma textura mais dramática, as pinceladas aparecem com maior evidência. Essa matéria exacerbada se contrasta com a matéria lisa da tela", explica o próprio Sued, que chama essas exacerbações da sua pintura de "disturbiadas".
"Continua havendo geometria hoje, mas com uma pincelada mais impressionista", acrescenta o curador Ronaldo Brito.
Há mais novidades: todos os trabalhos recentes têm hastes de madeira que se projetam para fora da moldura, tanto nas laterais quanto nas bases dos quadros.
"É um novo tipo de colagem, ou melhor, de assemblage. Os pedaços de madeira não estão no plano da tela. Eles se inclinam e dão a impressão de uma terceira dimensão", diz o pintor.
Encerrando a série de novidades, Sued acrescenta às suas cores fortes as chamadas cores metálicas: cobre, bronze e prata. "As telas não ficaram mais frias. Ficaram até mais densas, profundas", acredita.
É perda de tempo enxergar motivações conceituais por trás das mudanças de rumo de Sued. Ele está entre os pintores que decidem as telas enquanto as fazem, não a partir de uma alguma predeterminação.
"O processo é o que conta", diz Sued, transferindo dos olhos para os ouvidos, metaforicamente, o canal da criação. "No princípio há uma algazarra: as cores gritando, querendo se irmanar. Você ouve essa gritaria e, quando há silêncio, é o final da obra."
Batizada de "Eduardo Sued: A Experiência da Pintura", a exposição reúne, ao lado das 25 grandes telas novas, outras 18 de momentos - e formatos - diversos da carreira do pintor, um construtivista que mistura Picasso, Matisse e referências várias.
Trabalhando oito horas por dia em seu ateliê, Sued não parece disposto a parar de misturar e inovar. "Eu me sinto um jovem. É evidente que o corpo não acompanha, mas a mente está muito ativa, como sempre esteve", orgulha-se.


EDUARDO SUED: A EXPERIÊNCIA DA PINTURA. Quando: De 20/7 a 26/9 (ter. a dom., das 10h às 21h). Onde: Centro Cultural Banco do Brasil/RJ (r. 1º de Março, 66, tel. 0/xx/21/3808-2020). Quanto: entrada franca.


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