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Pintor, que abre hoje exposição no Rio, diz que a obra termina quando há silêncio
Sued doma a gritaria da cor
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Aos 79 anos, Eduardo Sued continua expandindo sua pintura. O
verbo pode ser lido literalmente:
desde 2000, o artista tem ampliado ainda mais o formato de suas
grandes telas.
Na exposição que abre hoje no
Centro Cultural Banco do Brasil,
no Rio, a primeira em sua cidade
natal após seis anos, Sued apresenta vários quadros recentes
com mais de dois metros de altura
ou comprimento.
"Essa necessidade apareceu ainda com mais veemência agora. É
mais cansativo para mim, tenho
até um ajudante. Mas são os meus
apelos interiores", diz ele, sempre
avesso a elucubrações racionalistas.
A expansão também se dá no
quesito dramaticidade. O pintor,
um dos mais importantes do país,
volta a deixar de lado suas superfícies lisas e linhas retas à Mondrian para usar as tintas com
grande vigor, como já fez em outros momentos de seus 50 anos de
carreira.
"A pasta agora se engrossa e se
agita. É uma textura mais dramática, as pinceladas aparecem com
maior evidência. Essa matéria
exacerbada se contrasta com a
matéria lisa da tela", explica o
próprio Sued, que chama essas
exacerbações da sua pintura de
"disturbiadas".
"Continua havendo geometria
hoje, mas com uma pincelada
mais impressionista", acrescenta
o curador Ronaldo Brito.
Há mais novidades: todos os
trabalhos recentes têm hastes de
madeira que se projetam para fora da moldura, tanto nas laterais
quanto nas bases dos quadros.
"É um novo tipo de colagem, ou
melhor, de assemblage. Os pedaços de madeira não estão no plano da tela. Eles se inclinam e dão a
impressão de uma terceira dimensão", diz o pintor.
Encerrando a série de novidades, Sued acrescenta às suas cores
fortes as chamadas cores metálicas: cobre, bronze e prata. "As telas não ficaram mais frias. Ficaram até mais densas, profundas",
acredita.
É perda de tempo enxergar motivações conceituais por trás das
mudanças de rumo de Sued. Ele
está entre os pintores que decidem as telas enquanto as fazem,
não a partir de uma alguma predeterminação.
"O processo é o que conta", diz
Sued, transferindo dos olhos para
os ouvidos, metaforicamente, o
canal da criação. "No princípio há
uma algazarra: as cores gritando,
querendo se irmanar. Você ouve
essa gritaria e, quando há silêncio,
é o final da obra."
Batizada de "Eduardo Sued: A
Experiência da Pintura", a exposição reúne, ao lado das 25 grandes
telas novas, outras 18 de momentos - e formatos - diversos da
carreira do pintor, um construtivista que mistura Picasso, Matisse
e referências várias.
Trabalhando oito horas por dia
em seu ateliê, Sued não parece
disposto a parar de misturar e
inovar. "Eu me sinto um jovem. É
evidente que o corpo não acompanha, mas a mente está muito
ativa, como sempre esteve", orgulha-se.
EDUARDO SUED: A EXPERIÊNCIA DA
PINTURA. Quando: De 20/7 a 26/9 (ter. a
dom., das 10h às 21h). Onde: Centro
Cultural Banco do Brasil/RJ (r. 1º de
Março, 66, tel. 0/xx/21/3808-2020).
Quanto: entrada franca.
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