São Paulo, sábado, 19 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rio Preto recebe "maratonistas" do teatro

O estudante Daniel Pena, 17, assiste a 24 espetáculos em 11 dias do festival de teatro da cidade

LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (SP)

Se você andou pelas bandas de São José do Rio Preto entre o último dia 9 e hoje por conta do festival internacional de teatro que acontece na cidade, é provável que tenha cruzado o caminho de Daniel Pena, 17. À saída de "Cordélia Brasil", nesta noite, o estudante terá visto 24 dos 39 espetáculos apresentados na mostra -o total não leva em conta performances. A largada da "maratona" foi dada em 29/6, quando teve início a venda de ingressos do FIT. Os guichês seriam abertos às 13h, mas, para garantir, o jovem chegou ao local à 1h30, cobertor, casaco e biscoitos à mão -foi, claro, o primeiro da fila. O procedimento se repete durante os dias de festival; na porta dos teatros, Pena fez amizades e ganhou destaque na imprensa local. "As pessoas me reconhecem na rua", gaba-se ele, que iniciou o corre-corre com a polonesa "Carmen Fúnebre", peça de abertura desta edição. Até ontem de manhã, as preferidas do estudante eram a carioca "Anjo Malaquias" (que abre as cortinas para o lirismo de Mário Quintana), "Cinco Minutos Antes da Tempestade" (fruto do Círculo de Dramaturgia do CPT de Antunes Filho) e "O Retorno ao Deserto" (leia mais acima). A lista das menos apreciadas incluía "Kavka - Agarrado num Traço a Lápis", do grupo Lume, sobre uma noite imaginária na vida de um Franz Kafka (1883-1924) outonal, e o monólogo italiano "Adágio", outro réquiem noturno. "Foi terrível. A senhora ouvia ópera durante toda a peça. As pessoas riam de alívio quando ela parecia que ia trocar o disco, mas nada. Só não saí por respeito à atriz", diz. Quem assiste a 24 peças em 11 dias deve ter ambições dramatúrgicas, suporá o leitor. Pois não: o estudante deseja ser tradutor de conferências. Sem querer, o festival lhe reservou "Congresso Internacional do Medo", em que uma intérprete saca toda a carga poética das falas dos participantes do referido fórum ao fazer as conversões lingüísticas. Para a universitária Flávia Carnavalli, 22, a "maratona" é por equipes. Na dela, estão a irmã, Patrícia, 20, e a mãe, Maria José, 50. Até o fim do FIT, elas terão visto 23 peças. O grupo partiu em disparada com "Kavka" ("Um pouco parada, gosto com mais movimento", disse Flávia), passou por "Besouro, Cordão-de-Ouro" (a preferida do trio) e riu com a recriação cômica do universo de Nelson Rodrigues em "Cachorro!". No entanto, quase houve deserções na catarinense "O Pupilo Quer Ser Tutor", exercício árido (sem diálogos) sobre as relações de poder. "Esperava ver algo mais alegre, porque a sinopse falava em mímica. Me desagradou."

O jornalista LUCAS NEVES e a repórter-fotográfica LENISE PINHEIRO viajaram a convite do festival.

NA INTERNET
cacilda.folha.blog.uol.com.br
leia mais sobre o festival



Texto Anterior: Teatro: Montagem com Caco Ciocler expõe homem em confronto com a fé
Próximo Texto: Dança: Coreografias femininas entram em cartaz a partir de hoje em São Paulo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.