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crítica/"Epitáfios"
Com tropeços, série persegue maturidade
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
A segunda temporada de
"Epitáfios" chegou ao
fim no último domingo
com (quase) tantos furos na ficção quanto nos cadáveres espalhados em seus 13 episódios.
Não se trata, porém, de um "defeito", se levarmos em conta as
inúmeras outras qualidades
dessa produção argentina sob o
selo HBO.
A primeira delas, de longe, foi
o alto padrão de eficiência na
lógica do thriller, gênero com
que "Epitáfios" conseguiu se
manter afinada, mesmo sob as
camadas por vezes excessivas
de simbolismos psicanalíticos
que sobrecarregava seu vilão
psicopata.
Outra se encontra na excelência da produção, primorosa
desde o elenco sem desequilíbrios até o acabamento do conjunto, com uma imagem suja de
uma Buenos Aires longe dos estereótipos de filial europeia na
América Latina.
Os tais furos de ficção se devem, sobretudo, à longa duração da trama, que precisou esticar o confronto entre a figura
maligna do Assassino e o policial Renzo Márquez, enfraquecendo (como no caso do último
episódio) o efeito suspense.
A extensão permitiu, por outro lado, a proliferação de subtramas interessantes, como as
ambiguidades de Marina, personagem que Cecilia Roth soube encher de amargor. Ou a do
sombrio XL/Velásquez, cujo
promissor duelo de forças com
o Assassino esvaziou-se, ao
contrário do que se esperava do
que foi mostrado nos dois primeiros episódios.
Como costuma acontecer
com frequência em séries de
mistério e de investigação, os
momentos secundários podem
se tornar mais intensos do que
o embate central dos protagonistas. Nesse sentido, os desafios colocados pelo incômodo
Pablo a Marina e a instável relação de Renzo com seu pai trouxeram o contraste familiar para
o interior da trama, criando um
contraponto para os traumas
edipianos do Assassino.
O longo intervalo de cinco
anos entre a primeira temporada de "Epitáfios" e esta impediu a série de alcançar o efeito
aditivo das produções americanas, mas o bom resultado geral
desta segunda leva de episódios
sinaliza a consolidação de um
formato cuja força se baseia na
criação independente.
Como nas experiências brasileiras com "Mandrake", "Filhos do Carnaval", "Alice" e
"9mm", essa ficção, ainda que
com tropeços, persegue a mesma maturidade.
EPITÁFIOS
Avaliação: bom
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