São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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crítica/"Epitáfios"

Com tropeços, série persegue maturidade

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

A segunda temporada de "Epitáfios" chegou ao fim no último domingo com (quase) tantos furos na ficção quanto nos cadáveres espalhados em seus 13 episódios.
Não se trata, porém, de um "defeito", se levarmos em conta as inúmeras outras qualidades dessa produção argentina sob o selo HBO.
A primeira delas, de longe, foi o alto padrão de eficiência na lógica do thriller, gênero com que "Epitáfios" conseguiu se manter afinada, mesmo sob as camadas por vezes excessivas de simbolismos psicanalíticos que sobrecarregava seu vilão psicopata.
Outra se encontra na excelência da produção, primorosa desde o elenco sem desequilíbrios até o acabamento do conjunto, com uma imagem suja de uma Buenos Aires longe dos estereótipos de filial europeia na América Latina.
Os tais furos de ficção se devem, sobretudo, à longa duração da trama, que precisou esticar o confronto entre a figura maligna do Assassino e o policial Renzo Márquez, enfraquecendo (como no caso do último episódio) o efeito suspense.
A extensão permitiu, por outro lado, a proliferação de subtramas interessantes, como as ambiguidades de Marina, personagem que Cecilia Roth soube encher de amargor. Ou a do sombrio XL/Velásquez, cujo promissor duelo de forças com o Assassino esvaziou-se, ao contrário do que se esperava do que foi mostrado nos dois primeiros episódios.
Como costuma acontecer com frequência em séries de mistério e de investigação, os momentos secundários podem se tornar mais intensos do que o embate central dos protagonistas. Nesse sentido, os desafios colocados pelo incômodo Pablo a Marina e a instável relação de Renzo com seu pai trouxeram o contraste familiar para o interior da trama, criando um contraponto para os traumas edipianos do Assassino.
O longo intervalo de cinco anos entre a primeira temporada de "Epitáfios" e esta impediu a série de alcançar o efeito aditivo das produções americanas, mas o bom resultado geral desta segunda leva de episódios sinaliza a consolidação de um formato cuja força se baseia na criação independente.
Como nas experiências brasileiras com "Mandrake", "Filhos do Carnaval", "Alice" e "9mm", essa ficção, ainda que com tropeços, persegue a mesma maturidade.


EPITÁFIOS
Avaliação: bom



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