São Paulo, sexta-feira, 19 de agosto de 2005 |
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Conflito entre etnias do sul da África que matou quase 1 milhão chega às telas com "Hotel Ruanda" Holocausto africano
SILVANA ARANTES DA REPORTAGEM LOCAL O presidente dos EUA, George W. Bush, viu. A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, também. Quem relaciona os espectadores ilustres do "pequeno filme independente" "Hotel Ruanda", que estréia hoje no Brasil, é seu diretor, o norte-irlandês Terry George. Filmado em Kigali, capital ruandesa, e em Johannesburgo (África do Sul), "Hotel Ruanda" remonta a 1994. Naquele ano, o mundo assistiu ao conflito entre duas etnias do país africano transformar-se no extermínio de quase 1 milhão de tutsis pela população hutu. Paul Rusesabagina, personagem real interpretado por Don Cheadle no filme, é um hutu casado com a tutsi Tatiana (Sophie Okonedo) -a dupla foi indicada ao Oscar por suas atuações. Administrador de um hotel de luxo em Kigali, Rusesabagina "hospeda" no local sua família e centenas e centenas de refugiados. Dessa trincheira, todos vêem o cerco se fechar. Os estrangeiros são retirados do país, o frágil contingente da ONU não consegue conter o banho de sangue. Sucumbir ao ataque parece ser questão de horas. Mas, "assassinado na ponta de um facão não é modo de se morrer", diz Rusesabagina, que age como um herói da resistência. Na relação de amor de Rusesabagina com a família, George viu o mote "universal" para contar a história da guerra particular de Ruanda. Aliás, não tão particular. Para o cineasta, os métodos de incitação ao ódio e a "propaganda nazista" utilizados no país africano para "demonizar um grupo de pessoas e, com isso, tornar mais conveniente ao outro punir, matar e controlar" são idênticos aos empregados "no processo [separatista conduzido pelo IRA, Exército Republicano Irlandês] na Irlanda do Norte". Por sua origem irlandesa, George diz "conhecer o terrorismo mais do que a maioria das pessoas", haver convivido com "gente que atuou dos dois lados" e diz que "o debate sobre os meios e os fins" torna-se cada vez mais relevante no mundo contemporâneo. "Como você pode lidar com um homem-bomba? Está certo atirar num brasileiro [Jean Charles de Menezes, assassinado no mês passado pela Scotland Yard] na plataforma do metrô de Londres em nome de um bem maior?" George acha que a polícia londrina agiu mal. Mas vê o episódio como exemplo de que "as coisas estão ficando nubladas" no território do combate ao terrorismo. Para apresentar seu ponto de vista ao debate, George pretende fazer um filme sobre a Al Qaeda. "Um thriller" por meio do qual tentará investigar a "metodologia" do grupo terrorista árabe. O cineasta diz que, sobre assuntos como esse, "é extremamente difícil" fazer filmes em Hollywood. "Talvez as pessoas discordem de mim, mas não há nenhuma política em Hollywood, exceto a econômica. Não há razões em Hollywood, exceto as razões econômicas. Tudo é dinheiro", diz. Na linguagem dos cifrões, "Hotel Ruanda" se saiu bem. Arrecadou US$ 23 milhões (R$ 53 milhões) em entradas de cinema e US$ 51 milhões (R$ 119 milhões) no mercado de DVD. "O filme teve um lucro expressivo. Mas isso é visto [em Hollywood] como algo extraordinário, um fenômeno que não pode ser repetido. Se eu pudesse mostrar que "Hotel Ruanda" é um gênero ou um sistema, haveria centenas de "Hotéis Ruanda"." Repita-se ou não, "Hotel Ruanda" teve ao menos um efeito concreto. Rusesabagina, hoje radicado na Bélgica, tem sido convidado a dar palestras nos EUA. E recebeu cumprimentos de Bush, que gostou do personagem-herói. Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Crítica: Filme serve de mea-culpa do Ocidente Índice |
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