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ROCK
Billy Corgan faz análise em público
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Antes de qualquer consideração sobre "The Future
Embrace", o tristonho primeiro
disco solo de Billy Corgan, 38, um
resumo de uma história também
tristonha, retirada do diário em
seu site (ela se faz necessária para
melhor apreciação do CD):
Aos sete anos, o pequeno Bill
era um garoto ansioso. Em uma
noite fria, pensou em fugir de casa. Não agüentava mais o tenso
intervalo entre uma surra de cinta
e outra que tomava regularmente
do pai. Nos momentos tranqüilos, Bill pai ficava chapado assistindo à TV, com o filho ao lado.
Um dos raros programas decentes era o que mostrava shows de
rock. A partir daí, o menino vislumbrou um novo mundo.
Anos mais tarde, já homem feito e agora conhecido como Billy,
ele é a cabeça careca do Smashing
Pumpkins, a banda americana de
rock mais importante dos anos
90, após o fim do Nirvana. Dono
de uma vida de melancolia e tristeza sem fim, criou para si a imagem de perfeccionista, difícil e
egocêntrico. O passado explica (e
justifica) essa personalidade?
Como qualquer mortal faz em
momentos de crise, Corgan agora
busca soluções. Escolheu a psicanálise. O detalhe é que, em vez de
deitar em um divã particular, revê
seus traumas tendo o público como espectador. É assim nas letras
confessionais de "Future", em seu
site (www.billycorgan.com), em
suas investidas literárias -lançou livro de poesias no ano passado- e no material de divulgação
do disco.
Em estilo grandiloqüente, como
é de seu feitio, comprou página
inteira de anúncio em um jornal
de Chicago para anunciar o lançamento do disco nos EUA, em junho passado. Nele, explica seu estado de espírito ("O que realmente tenho tentado fazer é encontrar
aquela mesma criança novamente, aquela que acreditava que podia mudar o mundo com uma
música") e dá a notícia que importa de fato: uma possível volta
do Pumpkins, que terminou em
2000 ("Há um ano mantenho um
segredo. Mas, agora, quero que
vocês sejam os primeiros a saber
que tenho planos de renovar e reviver o Smashing Pumpkins.
Quero minha banda de volta, minhas músicas e meus sonhos").
Influências góticas
Enquanto isso não acontece, na
sessão de análise que é "The Future Embrace", Corgan dá forma ao
seu discurso do começo desta década, quando decretou a morte
do rock e apontou a eletrônica como o Eldorado da música. Entram em rota de colisão seu vocal
esganiçado e as programações de
bateria eletrônica que o guiam para o coração sombrio dos anos 80,
algo que o Pumpkins já fizera em
"Adore" (1998). Afasta-se, assim,
do surto de felicidade que foi sua
última banda, o já extinto Zwan.
"Mina Loy (M.O.H.)" e "DIA"
exibem guitarras e ambientações
góticas que parecem ter saído de
bandas da datada gravadora 4AD,
como Cocteau Twins, enquanto a
lenta "To Love Somebody", cover
transfigurada do Bee Gees, tem a
participação do ícone Robert
Smith (a música lembra faixas de
"Disintegration", disco que marcou a retomada deprê do Cure em
1989). "A100" é puro Depeche
Mode na fase "Music for the Masses" (1987), ou seja, tecnopop para quem só sai à noite usando
óculos escuros. Em sua maioria,
são faixas que prometem muito
em suas introduções, mas que carecem de um desenvolvimento
que garanta boas melodias; prevalece, no entanto, a estrutura de
canções de rock, ainda que "The
Camera Eye" roce o drum'n'bass.
Nas letras, Corgan volta à infância ("Todas as coisas mudam/
nunca tenho certeza sobre o que
vale a pena lutar", canta em "All
Things Change"); em depoimentos no site, filosofa sobre o que pode vir pela frente ("o maior pecado na vida é não apreciar as oportunidades que surgem"; "é lenda
acreditar que a dor é necessária
para criar arte"). "The Future Embrace" funciona mais como um
passatempo para fãs, nem que seja para rir dessa mania tola de
Corgan, homem grande, de ficar
imitando Nosferatu -poses que
preenchem as fotos do encarte.
The Future Embrace
Artista: Billy Corgan
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 38, em média
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