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Cultura de SP segue preço de países ricos
Para economista, concentração de renda no Brasil "acaba "inflacionando" o preço de shows e de acesso a bens culturais"
Ingresso para musical em São Paulo tem preço equivalente ao de Londres, uma das cinco cidades
mais caras do mundo
DA REPORTAGEM LOCAL
O preço dos livros produzidos no Brasil é um dos mais altos do mundo. Ao mesmo tempo, nos serviços culturais, como shows e musicais, é possível
observar uma certa paridade de
preços no levantamento feito
pela Ilustrada em dez grandes
cidades do planeta. Por exemplo, assistir a um musical em
Londres e a um em São Paulo
sairá por quase o mesmo preço:
R$ 69,30 na capital inglesa
(uma das cinco mais caras do
mundo) contra R$ 65 aqui.
"Se você comparar o preço de
vários bens culturais em São
Paulo e nas outras cidades, tanto na área de serviços quanto
em shows, perceberá que a diferença não é tanta", avalia o
economista Marcos Fernandes, coordenador do mestrado
de Bens Culturais da Escola de
Economia de São Paulo/FGV.
"O que se observa em relação
a sessões de cinema, a shows e
a espetáculos estrangeiros é
que a gente acompanha o mercado internacional em termos
de preços, porque a renda no
Brasil é ainda muito concentrada, e quem consome esses
serviços geralmente são pessoas com maior nível de renda.
Isso acaba "inflacionando" o
preço de shows e de acesso a
vários bens culturais comparados a outros países", explica.
O efeito elitista também pode ser observado no valor da
entrada da filial paulistana do
clube espanhol Pacha. Enquanto aqui se paga R$ 80 por
um convite, as filiais do mesmo
clube em Londres ou em Nova
York cobram R$ 60, cada uma.
"A concentração de renda
explica em boa parte o fato de
que existe essa distorção de
preços em vários bens que são
consumidos por classes sociais
mais altas", diz o economista.
Livros
Livro, como mostra o levantamento, é caro no Brasil. Em
certos casos, encontra-se, em
livrarias brasileiras, um livro
em francês, por exemplo, por
um preço mais baixo do que sua
tradução para o português. "A
escala de produção de obras em
línguas como o francês é global,
então há tiragens muito grandes, o que reduz o custo."
Mas, se o mercado consumidor cresce, o produto fica mais
barato. "A tendência aqui é que
barateiem livros e correlatos."
Futuro promissor
O setor de serviços é o que
mais cresce no Brasil; nessa
área, o segmento de bens culturais é o que tem maior elevação,
em média 9% ao ano, afirma
Fernandes. E isso representa
um fato inédito e importante,
segundo ele, por razões óbvias:
"Tardiamente fomos incluindo crianças nas escolas,
incluindo mais leitores, mais
consumidores de bens culturais. Isso é importante do ponto de vista de empreendedores
estarem atentos para ganhar
dinheiro com cultura".
Outro fator que não pode ser
esquecido na hora de avaliar as
diferenças de preços entre as
cidades é a taxa de câmbio.
"É uma variável importante
porque, quando há um câmbio
valorizado, há o impacto sobre
o preço de todos os produtos e
serviços domésticos. E há também os determinantes internos, como o preço da mão-de-obra ou o custo da terra."
Analisando o levantamento
feito pela Ilustrada, Marisa
Canton, professora e coordenadora do curso Lazer como
Business e a Indústria do Entretenimento da Fundação Getúlio Vargas, é otimista.
"Estamos iniciando um processo, começando a nos garantir no cenário internacional,
passamos a ter um contato
mais estreito com uma cultura
que não tem fronteiras", diz.
"Vejo o Brasil começando a
aparecer no cenário internacional da cultura de entretenimento. Estamos abrindo melhor as portas para que eles venham e apresentem o que têm.
Mas, mesmo assim, ainda não
adquirimos a maturidade para
a gestão de grandes negócios."
(LEANDRO FORTINO E THIAGO NEY)
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