São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2007

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Cultura de SP segue preço de países ricos

Para economista, concentração de renda no Brasil "acaba "inflacionando" o preço de shows e de acesso a bens culturais"

Ingresso para musical em São Paulo tem preço equivalente ao de Londres, uma das cinco cidades mais caras do mundo

DA REPORTAGEM LOCAL

O preço dos livros produzidos no Brasil é um dos mais altos do mundo. Ao mesmo tempo, nos serviços culturais, como shows e musicais, é possível observar uma certa paridade de preços no levantamento feito pela Ilustrada em dez grandes cidades do planeta. Por exemplo, assistir a um musical em Londres e a um em São Paulo sairá por quase o mesmo preço: R$ 69,30 na capital inglesa (uma das cinco mais caras do mundo) contra R$ 65 aqui.
"Se você comparar o preço de vários bens culturais em São Paulo e nas outras cidades, tanto na área de serviços quanto em shows, perceberá que a diferença não é tanta", avalia o economista Marcos Fernandes, coordenador do mestrado de Bens Culturais da Escola de Economia de São Paulo/FGV.
"O que se observa em relação a sessões de cinema, a shows e a espetáculos estrangeiros é que a gente acompanha o mercado internacional em termos de preços, porque a renda no Brasil é ainda muito concentrada, e quem consome esses serviços geralmente são pessoas com maior nível de renda. Isso acaba "inflacionando" o preço de shows e de acesso a vários bens culturais comparados a outros países", explica.
O efeito elitista também pode ser observado no valor da entrada da filial paulistana do clube espanhol Pacha. Enquanto aqui se paga R$ 80 por um convite, as filiais do mesmo clube em Londres ou em Nova York cobram R$ 60, cada uma.
"A concentração de renda explica em boa parte o fato de que existe essa distorção de preços em vários bens que são consumidos por classes sociais mais altas", diz o economista.

Livros
Livro, como mostra o levantamento, é caro no Brasil. Em certos casos, encontra-se, em livrarias brasileiras, um livro em francês, por exemplo, por um preço mais baixo do que sua tradução para o português. "A escala de produção de obras em línguas como o francês é global, então há tiragens muito grandes, o que reduz o custo."
Mas, se o mercado consumidor cresce, o produto fica mais barato. "A tendência aqui é que barateiem livros e correlatos."

Futuro promissor
O setor de serviços é o que mais cresce no Brasil; nessa área, o segmento de bens culturais é o que tem maior elevação, em média 9% ao ano, afirma Fernandes. E isso representa um fato inédito e importante, segundo ele, por razões óbvias:
"Tardiamente fomos incluindo crianças nas escolas, incluindo mais leitores, mais consumidores de bens culturais. Isso é importante do ponto de vista de empreendedores estarem atentos para ganhar dinheiro com cultura".
Outro fator que não pode ser esquecido na hora de avaliar as diferenças de preços entre as cidades é a taxa de câmbio.
"É uma variável importante porque, quando há um câmbio valorizado, há o impacto sobre o preço de todos os produtos e serviços domésticos. E há também os determinantes internos, como o preço da mão-de-obra ou o custo da terra."
Analisando o levantamento feito pela Ilustrada, Marisa Canton, professora e coordenadora do curso Lazer como Business e a Indústria do Entretenimento da Fundação Getúlio Vargas, é otimista.
"Estamos iniciando um processo, começando a nos garantir no cenário internacional, passamos a ter um contato mais estreito com uma cultura que não tem fronteiras", diz.
"Vejo o Brasil começando a aparecer no cenário internacional da cultura de entretenimento. Estamos abrindo melhor as portas para que eles venham e apresentem o que têm. Mas, mesmo assim, ainda não adquirimos a maturidade para a gestão de grandes negócios."
(LEANDRO FORTINO E THIAGO NEY)


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