São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2007

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Escola de cinema reúne "filhos de peixe" no Rio

Comemorando cinco anos, Escola de Cinema Darcy Ribeiro recebe jovens que já trabalham com os pais consagrados

Ouvidos pela Folha, jovens ressaltam que a prática nos sets desde a adolescência os ensinou mais do que as aulas na escola

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Se alguém não levar fé no quanto o cinema está presente na vida de Julia Murat, ela apresenta uma credencial poderosa: "Eu vi filme do [Julio] Bressane aos 12 anos no Festival de Brasília, pô!". Hoje, aos 27, a filha de Lúcia Murat é uma roteirista formada pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro. A instituição, no Rio, comemora seu quinto aniversário neste mês exibindo como trunfos os "filhos de peixe" que abrigou ou abriga.
Todos os ouvidos pela Folha trabalham com os pais desde a adolescência e ressaltam que a prática nos sets os ensinou mais do que as aulas na escola. Mas quase todos encontraram no prédio do centro do Rio parte do que foram buscar.
Julia, por exemplo, queria ter aulas com Jorge Durán e Paulo Halm, dois experimentados roteiristas. Teve, formou-se em 2005 e ganhou mais estofo para escrever "Que os Velhos Mortos Cedam Lugar aos Novos Mortos", que está realizando ao lado de Leonardo Bittencourt. Ela já ganhou bolsa de uma fundação ibero-americana, mas é fiel à mãe.
"Trabalhei como montadora de "Brava Gente Brasileira", "Olhar Estrangeiro" e continuo trabalhando", diz.
Também fã de Durán e Halm, outra Julia, a Rezende, 21, trancou o curso de roteiro e hoje estuda só história. Mas assegura que as lições a ajudaram a se preparar para missões como "Elke", documentário ainda não lançado sobre Elke Maravilha, a quem ela conheceu nas filmagens de "Zuzu Angel", filme dirigido pelo pai, Sérgio Rezende, e produzido pela mãe, Mariza Leão.
Jorge Rocha de Lima, 31, também gostaria de se dedicar a projetos pessoais, mas a realidade não o deixa se afastar muito do pai, Walter Lima Jr., de quem é assistente. "Se ele tem que dar aulas, cursos, correr atrás, imagine eu! Pinta um trabalho, eu adio a vontade de dirigir", conta ele, que também é sobrinho de Glauber Rocha.
Formado neste ano em montagem, Jorge elogia alguns professores, mas acredita que "contato pessoal" é o que mais conta para se trabalhar em cinema hoje. Bento Ribeiro, 26, filho do escritor João Ubaldo Ribeiro, faz eco. "O que eles ensinam nesses cursos não é real. Deviam preparar as pessoas para o mercado corrupto que vão enfrentar", diz o diretor formado, que estréia em setembro uma peça teatral.
Assim como o pai, Gabriel Durán, 25, se tornou professor da Darcy Ribeiro. Ele dá aulas de montagem e, naturalmente, enxerga qualidades na proposta da escola. "O aluno aprende do roteiro à finalização. Se faz montagem, ele não vai ser só um operador. Vai ter aulas de teoria e ganhar uma visão mais ampla", afirma.
Idealizada por Darcy (1922-1997) sob inspiração da Escola Internacional de Cinema e TV de San Antonio de los Baños, de Cuba, a escola do Rio tem um curso regular de um ano e meio, com taxas semestrais entre R$ 1.400 e R$ 1.600. Um terço das vagas é destinado a jovens carentes. No momento, há um total de 150 alunos e professores como o crítico José Carlos Avellar e o diretor Sérgio Sanz. São conselheiros da instituição Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues e outros.


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