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Escola de cinema reúne "filhos de peixe" no Rio
Comemorando cinco anos, Escola de Cinema Darcy Ribeiro recebe jovens que já trabalham com os pais consagrados
Ouvidos pela Folha, jovens ressaltam que a prática nos sets desde a adolescência os ensinou mais do que as aulas na escola
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Se alguém não levar fé no
quanto o cinema está presente
na vida de Julia Murat, ela
apresenta uma credencial poderosa: "Eu vi filme do [Julio]
Bressane aos 12 anos no Festival de Brasília, pô!". Hoje, aos
27, a filha de Lúcia Murat é uma
roteirista formada pela Escola
de Cinema Darcy Ribeiro. A
instituição, no Rio, comemora
seu quinto aniversário neste
mês exibindo como trunfos os
"filhos de peixe" que abrigou ou
abriga.
Todos os ouvidos pela Folha
trabalham com os pais desde a
adolescência e ressaltam que a
prática nos sets os ensinou
mais do que as aulas na escola.
Mas quase todos encontraram
no prédio do centro do Rio parte do que foram buscar.
Julia, por exemplo, queria
ter aulas com Jorge Durán e
Paulo Halm, dois experimentados roteiristas. Teve, formou-se em 2005 e ganhou mais estofo para escrever "Que os Velhos Mortos Cedam Lugar aos
Novos Mortos", que está realizando ao lado de Leonardo Bittencourt. Ela já ganhou bolsa
de uma fundação ibero-americana, mas é fiel à mãe.
"Trabalhei como montadora
de "Brava Gente Brasileira",
"Olhar Estrangeiro" e continuo
trabalhando", diz.
Também fã de Durán e
Halm, outra Julia, a Rezende,
21, trancou o curso de roteiro e
hoje estuda só história. Mas assegura que as lições a ajudaram
a se preparar para missões como "Elke", documentário ainda não lançado sobre Elke Maravilha, a quem ela conheceu
nas filmagens de "Zuzu Angel",
filme dirigido pelo pai, Sérgio
Rezende, e produzido pela
mãe, Mariza Leão.
Jorge Rocha de Lima, 31,
também gostaria de se dedicar
a projetos pessoais, mas a realidade não o deixa se afastar
muito do pai, Walter Lima Jr.,
de quem é assistente. "Se ele
tem que dar aulas, cursos, correr atrás, imagine eu! Pinta um
trabalho, eu adio a vontade de
dirigir", conta ele, que também
é sobrinho de Glauber Rocha.
Formado neste ano em montagem, Jorge elogia alguns professores, mas acredita que
"contato pessoal" é o que mais
conta para se trabalhar em cinema hoje. Bento Ribeiro, 26,
filho do escritor João Ubaldo
Ribeiro, faz eco. "O que eles ensinam nesses cursos não é real.
Deviam preparar as pessoas
para o mercado corrupto que
vão enfrentar", diz o diretor
formado, que estréia em setembro uma peça teatral.
Assim como o pai, Gabriel
Durán, 25, se tornou professor
da Darcy Ribeiro. Ele dá aulas
de montagem e, naturalmente,
enxerga qualidades na proposta da escola. "O aluno aprende
do roteiro à finalização. Se faz
montagem, ele não vai ser só
um operador. Vai ter aulas de
teoria e ganhar uma visão mais
ampla", afirma.
Idealizada por Darcy (1922-1997) sob inspiração da Escola
Internacional de Cinema e TV
de San Antonio de los Baños,
de Cuba, a escola do Rio tem
um curso regular de um ano e
meio, com taxas semestrais entre R$ 1.400 e R$ 1.600. Um
terço das vagas é destinado a
jovens carentes. No momento,
há um total de 150 alunos e
professores como o crítico José
Carlos Avellar e o diretor Sérgio Sanz. São conselheiros da
instituição Nelson Pereira dos
Santos, Cacá Diegues e outros.
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