DA REPORTAGEM LOCAL

Há que se notar: uma movimentação saudável ronda "Na Veia", o novo álbum de Simone. É o primeiro disco que a cantora lança desde "Raio de Luz", do longínquo ano de 1991, em que corre atrás de compositores, que busca repertório inédito.
Nesse meio tempo, Simone se dedicou a regravar a parada nacional de sucessos, dela e dos outros. Escorregou no óbvio em nove entre dez escolhas.
Ou, nos dois melhores casos, fez discos de um autor só: "Baiana da Gema" (2004), com canções inéditas (ufa!) de Ivan Lins, e "Café com Leite" (1996), dedicado aos... sucessos de Martinho da Vila.
"Na Veia" é, mais da metade, o oposto disso. De suas dez faixas, apenas três são regravações. E mesmo essas escapam do previsível.
"Geraldinhos e Arquibaldos", de Gonzaguinha, e "Ame", de Paulinho da Viola e Elton Medeiros, são lados B de seus autores. "Deixa Eu Te Amar", de Agepê, é um sambão brega que todo mundo conhecia, mas pouca gente se lembrava.
O resto -a melhor fatia do disco- é novo de fato. A lista de compositores conta com Adriana Calcanhotto (em duas faixas: uma com Dé Palmeira, outra construída sobre poema de Ferreira Gullar), Martinho da Vila, Marina Lima (também em dupla com Palmeira), o novato Paulo Padinha, Erasmo Carlos (em duas, uma delas em bissexta parceria com Marcos Valle).
O sexo, tanto quanto o amor, é tema que unifica a maior parte das letras. "Hóstia tão divina/ Que eu quero degustar/ Me lava e me incendeia/ Como o tesão do mar" (Erasmo); "Como possuí-la/ quando está desnuda/ Se ela é toda chuva?/ Se ela é toda vulva?" (Ferreira Gullar); "Vou me embrenhar nessa mata só porque/ Existe uma cascata que tem água cristalina" (Agepê).
A novidade oxigena "Na Veia", mas isso já não basta. Simone parece ter ficado viciada em cantar o que já conhece há milênios e não está à vontade com as novas cartas. De todo modo, o disco serve de aquecimento para futuros bons momentos. Tomara que ela não desista de seguir andando assim, olhando para a frente. (MARCUS PRETO)