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SHOW/CRÍTICA
À sombra de Elis, Maria Rita, enfim, é uma estrela
FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DE BRASIL
É melhor ir logo ao ponto:
Elis Regina (1945-82) estava
por toda parte no espetáculo que
Maria Rita, sua filha, estreou anteontem em São Paulo. Elis estava
presente nas expectativas algo ansiosas e na memória afetiva do
público que lotou a casa, mas sobretudo no timbre de voz, nos
gestos, no jeito de corpo e na maneira de cantar de Maria Rita. O
DNA, no caso, é poderoso.
Muitos filhos de cantores mais
ou menos famosos trilham esse
caminho. O resultado, na maioria
das vezes, é constrangedor ou irrelevante. Não é o caso. Não só
porque Elis é, definitivamente, o
Pelé das intérpretes brasileiras,
mas também porque Maria Rita
canta de verdade- e muito bem.
A moça entrou no palco tímida
e compenetrada, quase contida,
como quem estivesse aquém da
própria voz, que ia na frente,
abrindo o caminho. Depois da
terceira música, brincou com a insegurança, confessando à platéia
o "nervoso" pela estréia "numa
casa grande de São Paulo".
Citou Elis uma única vez, quase
comendo a palavra "mãe" ao
mencionar uma entrevista antiga
em que ela desejava que Maria Rita fosse "leve". "Estou tentando",
disse a cantora. A seguir, dedicou
ao pai, Cesar Camargo Mariano,
na platéia, "Menina da Lua",
acompanhada só pelo piano. Regredimos todos aos anos 70, como se Elis estivesse cantando "Tatuagem" ao lado de Mariano. O
público veio abaixo. Maria Rita
vai ter de brigar muito com seu
destino para ser leve.
Elis, como Rita, também era
cheia de caras e bocas e molecagens no palco -ironias de alguém cujas marcas foram a intransigência e o desprezo por sentimentos médios e formas frouxas
de expressão.
Numa espécie de ápice da auto-ironia, Maria Rita incluiu no show
"Todo Carnaval Tem seu Fim",
do talentoso Marcelo Camelo, cujo refrão diz: "Deixa eu brincar de
ser feliz/ Deixa eu pintar o meu
nariz". É uma pena que a música
não faça parte do CD, de resto
marcado, como o show, por uma
atmosfera nostálgica, muito distante da MPB atual. A formação
da banda no palco (Tiago Costa
no piano, Silvio Mazuca no baixo
acústico, Marco da Costa na bateria e Da Lua na percussão) evocava, mais uma vez, os trios que
acompanhavam a matriz.
A noite foi marcada por uma
única nota destoante. Na sua longa lista de agradecimentos, Maria
Rita saudou a presença de Marta
Suplicy -e as vaias então se impuseram sobre os aplausos tímidos. "Uuuuu, não, gente. Isso é
uma festa", reagiu a cantora,
aplaudindo a prefeita do palco. A
estrela da noite era ela.
Maria Rita
Onde: DirecTV Music Hall (av. Jamaris,
213, SP, tel. 0/xx/11/ 6846-6040)
Quando: 24, 25 e 26 de outubro
Quanto: de R$ 30 a R$ 60
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