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TEATRO
Companhia mostra em Porto Alegre "O Homem Embaixo da Cama", adaptação bem-humorada de conto do escritor
Moscovitas do Ermitage levam Dostoiévski à farsa
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Exímio e denso jogador da palavra ao lidar com subsolos e dores
d'alma, o romancista russo Fiódor Dostoiévski (1821-81) desponta sob o viés da farsa, face
pouco conhecida de sua obra, no
espetáculo que a companhia moscovita do lendário Teatro Ermitage estréia hoje no 10º Porto Alegre
em Cena, festival que entra na segunda semana.
O Ermitage foi criado um século
atrás, quando o teórico russo
Constantin Stanislavski (1863-1938) abriu no jardim do museu
de mesmo nome a sede do Teatro
de Arte de Moscou.
"O Homem Embaixo da Cama"
é uma adaptação do encenador
Mijail Levitin, 58, para o conto
que Dostoiévski escreveu na casa
dos 20 anos, originalmente batizado "A Mulher Alheia e o Homem Embaixo da Cama".
Pleno em diálogos, traz uma mirada inusitada para mote clássico:
a história de um homem (Alexander Pozharov) embevecido por
paixão não-correspondida.
O sentimento é levado às últimas consequências, inclusive à
doença (a "cama" do título é a senha para o tom fantástico). Ao todo, seis atores contracenam numa
alegoria carnavalesca.
"Interessa-nos o humor em
Dostoiévski. Esse conto é praticamente desconhecido do espectador latino-americano. A montagem de farsas e espetáculos cômicos ocupa um lugar importante
no repertório do Ermitage. Os
atores dominam virtuosamente a
técnica da farsa", afirma o diretor.
O grupo já adaptou outro Dostoiévski, "Uma Mentira Horrível", também um conto.
Levitin, que é diretor artístico
do Ermitage desde 1987, explica
que não se propõe a fazer teatro
de vanguarda.
Entre as influências, cita o teórico italiano Giorgio Strehler (1921-1997) e os russos Alexander Tairov (1885-1950) e Vsevolod Meyerhold (1874-1940?), que já trabalharam na casa.
No campo da dramaturgia, o
grupo procura montar suas próprias peças, a maioria de autoria
de Levitin, que também assina
adaptações de clássicos da Rússia
ou de outros países.
Há pouco, verteu um romance
de Gabriel García Márquez para o
teatro, "A Incrível e Triste História da Cândida Erendira e sua Avó
Desalmada".
"Viajando pela América do Sul,
eu regresso à minha infância",
afirma Levitin, nascido em Odessa, cidade localizada na atual região da Ucrânia.
Com mais dez dias de programação (veja os destaques ao lado), o Porto Alegre em Cena traz
ainda duas atrações internacionais: "On the Scent", com a cia. inglesa Placelessness (quatro espectadores por vez são conduzidos
ao interior de uma casa para uma
"jornada aromática"), e a coreografia "Un Ange Passe Passe"
(corpos ora numa "sinfonia silenciosa", ora sem papas na língua),
da cia. franco-brasileira À Fleur
de Peau, com Denise Namura e
Michel Bugdahn.
No dia seguinte a cada estréia,
os artistas das companhias convidadas participam de bate-papo
com o público, sempre às 15h, no
teatro de Arena.
Paralelos
Entre as atividades paralelas do
festival, há uma exposição fotográfica no Theatro São Pedro, em
homenagem ao Teatro Equipe
(1958-62), grupo de Porto Alegre
que marcou o movimento cultural da cidade, do qual fizeram parte os atores Paulo José, Paulo César Pereio, Linneu Dias, Mário de
Almeida e Milton Mattos, entre
outros.
A dramaturga gaúcha Vera Karam (1959-2003) também é lembrada no Teatro de Câmara por
meio de exposição e leituras de algumas de suas peças.
O seminário "A Vida em Cena
-°Teatro e Subjetividade", uma
extensão do evento, acontece na
Usina do Gasômetro de 21 a 25/9,
com pesquisadores acadêmicos
de vários Estados.
O jornalista Valmir Santos viajou a convite da organização do festival
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