São Paulo, sábado, 19 de setembro de 2009

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Na música, patrocínio divide os artistas

Arnaldo Antunes recorre a apoio; Teatro Mágico vive só de bilheteria

Produtores culturais reclamam que sem o incentivo de empresas, ingressos ficariam ainda mais caros no Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

É possível para um artista sair em turnê pelo Brasil, cobrar preços razoáveis pelo ingresso e bancar os custos apenas com dinheiro de bilheteria, sem o apoio de patrocínios ou incentivos fiscais? No universo da música, essa questão motiva respostas diversas.
Arnaldo Antunes, por exemplo, acaba de lançar disco e sair em turnê. A série de shows terá 17 apresentações, com o ingresso mais caro valendo R$ 30. Esse valor só foi possível porque as despesas totais da turnê (R$ 1 milhão) foram custeadas por uma empresa de cosméticos.
"Sem o patrocínio, o ingresso iria para R$ 60. E teríamos que torcer para empatarmos os custos", afirma Ayrton Valadão Jr., da Agência Produtora, responsável pelos shows.
Segundo Valadão Jr., o patrocinador solicitou ao artista que fossem cobrados ingressos a preços populares e que a turnê passasse por cidades como Campinas e Ribeirão Preto.
No caso de artistas como Roberto Carlos, por exemplo, as turnês podem ser bancadas inteiramente por patrocínio direto (sem o uso de leis de incentivo). As apresentações do Rei neste ano vão passar por 18 cidades, e estão sendo custeadas por um banco. O cachê de RC pode chegar a R$ 450 mil, segundo produtores ouvidos.
O que o patrocinador recebe em troca? "Montamos camarotes, temos acesso ao camarim e usamos a imagem do artista em campanhas institucionais", diz Fernando Chacon, do Itaú, que patrocinou Roberto Carlos.
O cantor Lenine segue esse mesmo exemplo. Para gravar um disco e sair em turnê pelas principais capitais do Brasil, captou R$ 660 mil com uma empresa patrocinadora. Dessa forma, argumenta a empresária Leninha Brandão, Lenine pôde cobrar R$ 40 por ingresso.
Se no panorama nacional as opiniões são divididas, no internacional são quase unânimes: para trazer grandes artistas de fora, é necessário o amparo de patrocinadores.
Isso porque, nesta década, o Brasil tornou-se uma espécie de "paraíso dos cachês". Devido aos festivais corporativos, que inflacionaram o mercado ao competirem para trazer os mesmos artistas, aqui paga-se cachês semelhantes aos do Japão, os mais altos do mundo.
Uma exceção é o festival Maquinaria, que acontece em São Paulo em 7 e 8 de novembro, na Chácara do Jockey. Seu custo total, de cerca de R$ 4 milhões, está sendo bancado pelos organizadores -que esperam reaver o investimento com a venda de 50 mil ingressos, ao custo médio de R$ 200 cada um.
A Folha apurou que a principal atração do evento, a banda americana Faith No More, foi oferecida a outros produtores por cachês de US$ 300 mil.
Até alguns anos atrás, os artistas recebiam das gravadoras uma verba chamada "tour support", para auxiliá-los nas turnês. O Planet Hemp chegou a receber, nos anos 90, US$ 50 mil de tour support.
"Isso acabou há quatro anos", diz Alexandre Schiavo, presidente da Sony. A razão é a crise do mercado fonográfico.
Fenômeno comercial forjado no boca-a-boca e na net, o grupo musical/performático Teatro Mágico já passou por 160 cidades desde 2008. Os shows são organizados inteiramente pelo grupo (o custo total de cada apresentação é, em média, de R$ 40 mil, apurou a Folha).
Alexandre Schiavo, da Sony, diz que outro problema são as despesas com gravação de CDs, que podem chegar a R$ 400 mil -fora a verba de marketing, em alguns casos, de mais R$ 500 mil. Dinheiro pago pelas gravadoras. A Sony é casa de artistas como Zezé Di Camargo & Luciano e Roberto Carlos.
Já a o Mundo Livre S/A tem dificuldades para captar R$ 40 mil para custear o lançamento de seu próximo disco. (THIAGO NEY)


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