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Na música, patrocínio divide os artistas
Arnaldo Antunes recorre a apoio; Teatro Mágico vive só de bilheteria
Produtores culturais reclamam que sem o incentivo de empresas, ingressos ficariam ainda mais caros no Brasil
DA REPORTAGEM LOCAL
É possível para um artista
sair em turnê pelo Brasil, cobrar preços razoáveis pelo ingresso e bancar os custos apenas com dinheiro de bilheteria,
sem o apoio de patrocínios ou
incentivos fiscais? No universo
da música, essa questão motiva
respostas diversas.
Arnaldo Antunes, por exemplo, acaba de lançar disco e sair
em turnê. A série de shows terá
17 apresentações, com o ingresso mais caro valendo R$ 30. Esse valor só foi possível porque
as despesas totais da turnê (R$
1 milhão) foram custeadas por
uma empresa de cosméticos.
"Sem o patrocínio, o ingresso
iria para R$ 60. E teríamos que
torcer para empatarmos os
custos", afirma Ayrton Valadão
Jr., da Agência Produtora, responsável pelos shows.
Segundo Valadão Jr., o patrocinador solicitou ao artista que
fossem cobrados ingressos a
preços populares e que a turnê
passasse por cidades como
Campinas e Ribeirão Preto.
No caso de artistas como Roberto Carlos, por exemplo, as
turnês podem ser bancadas inteiramente por patrocínio direto (sem o uso de leis de incentivo). As apresentações do Rei
neste ano vão passar por 18 cidades, e estão sendo custeadas
por um banco. O cachê de RC
pode chegar a R$ 450 mil, segundo produtores ouvidos.
O que o patrocinador recebe
em troca? "Montamos camarotes, temos acesso ao camarim e
usamos a imagem do artista em
campanhas institucionais", diz
Fernando Chacon, do Itaú, que
patrocinou Roberto Carlos.
O cantor Lenine segue esse
mesmo exemplo. Para gravar
um disco e sair em turnê pelas
principais capitais do Brasil,
captou R$ 660 mil com uma
empresa patrocinadora. Dessa
forma, argumenta a empresária
Leninha Brandão, Lenine pôde
cobrar R$ 40 por ingresso.
Se no panorama nacional as
opiniões são divididas, no internacional são quase unânimes: para trazer grandes artistas de fora, é necessário o amparo de patrocinadores.
Isso porque, nesta década, o
Brasil tornou-se uma espécie
de "paraíso dos cachês". Devido
aos festivais corporativos, que
inflacionaram o mercado ao
competirem para trazer os
mesmos artistas, aqui paga-se
cachês semelhantes aos do Japão, os mais altos do mundo.
Uma exceção é o festival Maquinaria, que acontece em São
Paulo em 7 e 8 de novembro, na
Chácara do Jockey. Seu custo
total, de cerca de R$ 4 milhões,
está sendo bancado pelos organizadores -que esperam reaver o investimento com a venda
de 50 mil ingressos, ao custo
médio de R$ 200 cada um.
A Folha apurou que a principal atração do evento, a banda
americana Faith No More, foi
oferecida a outros produtores
por cachês de US$ 300 mil.
Até alguns anos atrás, os artistas recebiam das gravadoras
uma verba chamada "tour support", para auxiliá-los nas turnês. O Planet Hemp chegou a
receber, nos anos 90, US$ 50
mil de tour support.
"Isso acabou há quatro
anos", diz Alexandre Schiavo,
presidente da Sony. A razão é a
crise do mercado fonográfico.
Fenômeno comercial forjado
no boca-a-boca e na net, o grupo musical/performático Teatro Mágico já passou por 160 cidades desde 2008. Os shows
são organizados inteiramente
pelo grupo (o custo total de cada apresentação é, em média,
de R$ 40 mil, apurou a Folha).
Alexandre Schiavo, da Sony,
diz que outro problema são as
despesas com gravação de CDs,
que podem chegar a R$ 400 mil
-fora a verba de marketing,
em alguns casos, de mais R$
500 mil. Dinheiro pago pelas
gravadoras. A Sony é casa de
artistas como Zezé Di Camargo
& Luciano e Roberto Carlos.
Já a o Mundo Livre S/A tem
dificuldades para captar R$ 40
mil para custear o lançamento
de seu próximo disco.
(THIAGO NEY)
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